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Sem alarde, Brasil envia embaixador à Coreia do Norte
Chegada de Arnaldo Carrilho havia sido congelada depois de teste nuclear de Pyongyang, em maio
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O primeiro embaixador da
história do Brasil na Coreia do
Norte, cuja missão foi retardada em mais de um mês pelo Itamaraty devido ao teste nuclear
conduzido pelo país asiático em
maio, já está em Pyongyang.
Sem alarde, numa operação
cercada de sensibilidade diplomática, o veterano diplomata
Arnaldo Carrilho chegou na última sexta-feira à capital norte-coreana para assumir o posto
inédito e o desafio de dialogar
com um dos regimes mais fechados e isolados do mundo.
O adiamento não poupou a
missão de Carrilho de um início
marcado pela tensão regional.
Na véspera de sua partida de
Pequim para Pyongyang, o governo norte-coreano disparou
quatro mísseis de curto alcance, em testes que voltaram a
pôr os vizinhos em alerta.
Dois dias depois, em um novo
desafio à comunidade internacional, mais sete mísseis balísticos foram disparados. Os disparos foram tema de um dos
primeiros telegramas do novo
embaixador do Brasil no país.
No dia 25 de maio, a apenas
quatro dias da data marcada
para Carrilho oficializar a abertura da embaixada brasileira
em Pyongyang, a Coreia do
Norte anunciou ter realizado
um teste nuclear subterrâneo.
A detonação levou o Itamaraty a retardar a partida do embaixador. O gesto equivale a
convocar o embaixador "para
consultas", o que na linguagem
diplomática representa forte
sinal de descontentamento.
Na época, Carrilho contou à
Folha estar "acampado" em
Pequim junto com sua equipe,
aguardando o sinal verde do
Itamaraty para seguir viagem.
A espera terminou na sexta.
Apesar dos disparos de novos
mísseis, o Itamaraty não viu
motivos para adiar de novo a
missão: Carrilho, 71, deixou o
celular na fronteira, exigência
das autoridades norte-coreanas, e entrou no país.
De acordo com um diplomata ouvido pela Folha, a decisão
de autorizar a ida de Carrilho
se deu porque o protesto já fora
feito, e o Itamaraty concluiu
ser mais produtivo dar início
aos trabalhos do embaixador.
O mesmo diplomata observou que o gesto do Brasil foi
único no cenário diplomático,
já que nenhum dos 25 países
com embaixadores na Coreia
do Norte decidiu chamar seu
representante em protesto.
As relações entre Brasil e Coreia do Norte foram restabelecidas em 2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, mas só em 2005 Pyongyang
abriu sua embaixada em Brasília. No ano passado, tiveram
início preparativos para a abertura da Embaixada do Brasil.
É a segunda embaixada na
Coreia do Norte de um país das
Américas, depois de Cuba. Carrilho diz ter entre seus objetivos aumentar o comércio bilateral, que foi de US$ 380 milhões em 2008.
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