São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Líbano propõe enviar seu Exército ao sul

Objetivo é obter do Conselho de Segurança da ONU voto para retirada israelense da área, hoje sob controle do Hizbollah

Liga Árabe apóia posição libanesa e pede mudança na resolução proposta por França e EUA; Israel quer desarmamento do grupo


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

O governo libanês anunciou ontem que aceita enviar 15 mil tropas para a fronteira com Israel, área hoje controlada pelo Hizbollah, no que pode ser o primeiro passo para um entendimento que leve ao fim dos combates.
O gabinete, que tem dois ministros do Hizbollah, ressalvou, no entanto, que o envio será condicionado à retirada das tropas israelenses que estão no sul do país.
A saída do grupo da região e seu desarmamento são as principais exigências de Israel para suspender a ofensiva iniciada no último dia 12, após o seqüestro de dois de seus soldados.
Em outro desdobramento diplomático, a Liga Árabe decidiu ontem, em reunião de emergência realizada em Beirute, enviar uma missão a Nova York para pressionar por mudanças no projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito -que segundo o primeiro-ministro do Líbano, Fouad Siniora, já deixou mil mortos no país.
A resolução elaborada por EUA e França pede "a suspensão imediata pelo Hizbollah de todos os ataques e a imediata suspensão por Israel de todas as operações militares ofensivas".
De acordo com diplomatas dos dois países, uma segunda resolução estabelecerá a força de paz internacional que ajudará o Exército do Líbano a controlar o sul do país, dominado pelo Hizbollah desde a retirada de Israel em 2000.
EUA e França reagiram de forma diferente às críticas do Líbano à proposta de resolução. O chanceler francês, Philippe Douste-Blazy, afirmou que o texto não deveria ser submetido sem considerar as demandas do Líbano e dos países árabes. Ele sugeriu que a região fronteiriça de Shebaa, reivindicada pelo Líbano e ocupada por Israel, ficasse sob jurisdição da ONU.
Já o presidente americano, George W. Bush, de férias em sua fazenda no Texas, afirmou que não poderia ser criado um "vácuo aonde o Hizbollah e seus patrocinadores possam movimentar mais armas".
No encontro da Liga Árabe em Beirute, Siniora teve de corrigir a denúncia que fizera horas antes, em lágrimas, de que um ataque israelense havia matado 40 civis na cidade de Houla, no sul do país. Posteriormente, disse que o ataque provocou uma morte.
Além do prédio em Houla, aviões israelenses voltaram a bombardear o leste e o sul do Líbano e o sul de Beirute, matando 55 pessoas.
Em pronunciamento aos diplomatas árabes que foram a Beirute apoiar o Líbano, Siniora expressou sua oposição à proposta prestes a ser votada na ONU. "Ela mal leva a um cessar-fogo", disse o premiê, chorando. "Queremos um cessar-fogo permanente e total."
Ao corrigir o número de mortos em Houla, Siniora manteve a classificação de "massacre" para o bombardeio. "No massacre de Houla, descobriu-se que uma pessoa foi morta", disse o premiê. "Eles pensaram que o prédio havia caído sobre a cabeça de 40 pessoas. Graças Deus, se salvaram."

Enviado do Itamaraty
O embaixador Manoel Antonio Gomes Pereira, diretor do Departamento de Comunidades Brasileiras no Exterior do Itamaraty, chegou ontem a Beirute para avaliar a ajuda que tem sido prestada a brasileiros que querem deixar o país. Ele chegou de carro proveniente da Turquia.
Pereira disse que planeja ir ao vale do Bekaa hoje ou nos próximos dias para ver como está progredindo a operação de retirada nessa região, conhecida por concentrar um grande número de cidadãos brasileiros.
Amanhã um novo comboio deve partir do Bekaa, rumo à cidade turca de Adana.


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