São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Tensão regional remete a ataque às Farc no Equador

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A controvérsia em torno do acordo militar negociado entre Colômbia e EUA toca em uma arrastada crise regional que nem a OEA (Organização dos Estados Americanos) nem a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que se reúne depois de amanhã, foram capazes de resolver: a retomada das relações diplomáticas e militares entre Quito e Bogotá.
A Colômbia de Álvaro Uribe e o Equador de Rafael Correa, que compartilham 580 km de fronteira, romperam laços em março de 2008, quando Bogotá bombardeou um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no norte equatoriano. O ataque, que matou o número 2 das Farc, provocou a maior crise regional em dez anos.
"Há um ano e quatro meses a comissão binacional de fronteira não funciona como deve ser. Isso é grave porque se trata de uma região muito volátil. A má comunicação pode levar a um incidente militar", disse à Folha César Montúfar, autor de "Turbulência nos Andes e o Plano Colômbia", de 2003, e recém-empossado legislador na Assembleia Nacional, na bancada de oposição a Correa.
"Preocupa o uso do tema na política interna, aqui e na Colômbia", avalia ele, sugerindo tentativa de saciar o eleitorado.
À época, o bombardeio colombiano em território do Equador foi condenado por todos os países da OEA, menos os EUA, ainda sob George W. Bush -na campanha, Obama também apoiou a ação.
A OEA criou então uma comissão para tentar reaproximar os países, sem sucesso.
Ambos também concordaram -a Colômbia de maneira reticente- em participar do Conselho de Defesa Sul-Americano, sob o guarda-chuva da Unasul, o que diluiu parte das desconfianças.
Diante do possível aumento no contingente dos EUA na Colômbia, Quito, que acaba de retirar a presença americana da base de Manta, reclama porque integrantes do governo Uribe seguem considerando legítimo o ataque de 2008.
Ontem, o chanceler equatoriano, Fander Falconí, insistia em que o principal resultado positivo da turnê de Uribe pelos países da região -sem Venezuela e Equador- foi a cobrança que o colombiano ouviu quanto ao respeito das fronteiras na ação militar.
O governo Uribe, que, na ofensiva militar contra as Farc, empurrou a guerrilha cada vez mais em direção às fronteiras, exige engajamento equatoriano (e também venezuelano) no conflito, num ambiente em que se desenrolam investigações sobre os elos políticos e até materiais entre as Farc e os governos esquerdistas vizinhos.
Chávez mostrava simpatia às Farc até, em junho de 2008, dizer que a região já não comporta guerrilhas. Mas fontes da "inteligência ocidental" garantem, segundo o "New York Times", que os contatos não acabaram. Correa tem dito que, pessoalmente, não trata ou tratou com as Farc, mas ao menos um ministro caiu por acusações de ligação com a guerrilha.
Em reação, os esquerdistas apontaram ligações entre governistas, incluindo o primo de Uribe, e os paramilitares -1/3 da base governista no Congresso caiu na crise. Em jogo, de um lado e de outro, não está ideologia. Grupos de "paras" ora associam-se com as Farc, ora travam crua disputa com elas pelo bilionário negócio da droga.


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