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Tensão regional remete a ataque às Farc no Equador
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
A controvérsia em torno do
acordo militar negociado entre
Colômbia e EUA toca em uma
arrastada crise regional que
nem a OEA (Organização dos
Estados Americanos) nem a
Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que se reúne depois de amanhã, foram capazes
de resolver: a retomada das relações diplomáticas e militares
entre Quito e Bogotá.
A Colômbia de Álvaro Uribe e
o Equador de Rafael Correa,
que compartilham 580 km de
fronteira, romperam laços em
março de 2008, quando Bogotá
bombardeou um acampamento das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia)
no norte equatoriano. O ataque, que matou o número 2 das
Farc, provocou a maior crise
regional em dez anos.
"Há um ano e quatro meses a
comissão binacional de fronteira não funciona como deve ser.
Isso é grave porque se trata de
uma região muito volátil. A má
comunicação pode levar a um
incidente militar", disse à Folha César Montúfar, autor de
"Turbulência nos Andes e o
Plano Colômbia", de 2003, e recém-empossado legislador na
Assembleia Nacional, na bancada de oposição a Correa.
"Preocupa o uso do tema na
política interna, aqui e na Colômbia", avalia ele, sugerindo
tentativa de saciar o eleitorado.
À época, o bombardeio colombiano em território do
Equador foi condenado por todos os países da OEA, menos os
EUA, ainda sob George W.
Bush -na campanha, Obama
também apoiou a ação.
A OEA criou então uma comissão para tentar reaproximar os países, sem sucesso.
Ambos também concordaram -a Colômbia de maneira
reticente- em participar do
Conselho de Defesa Sul-Americano, sob o guarda-chuva da
Unasul, o que diluiu parte das
desconfianças.
Diante do possível aumento
no contingente dos EUA na Colômbia, Quito, que acaba de retirar a presença americana da
base de Manta, reclama porque
integrantes do governo Uribe
seguem considerando legítimo
o ataque de 2008.
Ontem, o chanceler equatoriano, Fander Falconí, insistia
em que o principal resultado
positivo da turnê de Uribe pelos países da região -sem Venezuela e Equador- foi a cobrança que o colombiano ouviu
quanto ao respeito das fronteiras na ação militar.
O governo Uribe, que, na
ofensiva militar contra as Farc,
empurrou a guerrilha cada vez
mais em direção às fronteiras,
exige engajamento equatoriano (e também venezuelano) no
conflito, num ambiente em que
se desenrolam investigações
sobre os elos políticos e até materiais entre as Farc e os governos esquerdistas vizinhos.
Chávez mostrava simpatia às
Farc até, em junho de 2008, dizer que a região já não comporta guerrilhas. Mas fontes da
"inteligência ocidental" garantem, segundo o "New York Times", que os contatos não acabaram. Correa tem dito que,
pessoalmente, não trata ou tratou com as Farc, mas ao menos
um ministro caiu por acusações de ligação com a guerrilha.
Em reação, os esquerdistas
apontaram ligações entre governistas, incluindo o primo de
Uribe, e os paramilitares -1/3
da base governista no Congresso caiu na crise. Em jogo, de um
lado e de outro, não está ideologia. Grupos de "paras" ora associam-se com as Farc, ora travam crua disputa com elas pelo
bilionário negócio da droga.
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