São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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"O mundo é um lugar melhor hoje", diz militar paquistanês

DO ENVIADO A TEMARGARA

"Baitullah está morto! E pensar que eu passei oito meses atrás daquele desgraçado e não consegui fazer o que aquele robô fez. Mas tudo bem, o mundo é um lugar melhor hoje."
A frase foi dita pelo capitão Farhad, 25, quando a Folha chegou a seu posto de observação em Lalquila, na área tribal de Dir, e contou as novidades.
Rapidamente ele difundiu a notícia para os cerca de 40 homens espalhados pela pequena base, que domina uma rota importante que leva ao vale do rio Panjkora. Farhad serviu no Waziristão do Sul até ser chamado há três meses para os violentos combates em Dir -onde ainda há focos de resistência do Taleban.
A referência ao robô, no caso um avião não tripulado Predator, é motivo de polêmica no Paquistão. Dez entre dez comentaristas políticos criticam o uso dele, alegando que traduzem uma forma covarde de força que acaba enobrecendo o insurgente ante a população.
De todo modo, sem a ajuda paquistanesa em terra para achar os alvos, o Predator seria inútil.
"Mas desta vez ele morreu mesmo?", perguntou o soldado Atab, descendo de um caminhão e tirando o lança-foguetes do ombro. "Parece que sim", respondeu o repórter, "mas não há como saber mais agora".
A Folha soubera do anúncio do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão cerca de meia hora antes, quando parou num posto de distribuição de comida para refugiados da guerra contra o Taleban que começaram a voltar para casa.
No posto, um soldado chamou seu superior, que conversava com a reportagem, e lhe deu a notícia. Até dois refugiados saíram da fila da comida para ver a história na TV, numa base militar contígua ao local.
"Ele prometia o paraíso, mas trouxe o inferno para muitos de nós", disse Ali Mohammed, aparentes 40 anos. Sua casa foi destruída, conta ele, na ofensiva perto de Lalquila.
No posto de Lalquila, não houve grandes comemorações. Aqui e ali um soldado esboçou um sorriso, mas todos sabem que a morte de Mehsud não significa necessariamente um enfraquecimento para os insurgentes do Waziristão -que estão sendo atacados de forma mais pontual, sem a ameaça de uma ofensiva terrestre.
Mas é inegável a importância da notícia, se confirmada como o Paquistão a anunciou.
O posto fica acima de uma cidade, Kumbar Bazar, que já trazia uma carga simbólica na luta contra o terror. É o lar de Sufi Muhammad, o clérigo que tomou o poder no vale vizinho do Swat, quando o governo aceitou que ele aplicasse a lei islâmica em troca de uma deposição de armas. Deu tudo errado, e a guerra atual contra o Taleban começou.
A casa de Muhammad segue lá, com seu portão negro fechado entre as ruínas do que um dia foi uma próspera vila. A pergunta a ser feita é se algum acordo com os que alimentaram a onda de terror de Mehsud um dia tirará da cadeia Muhammad e o trará de volta, colocando o esforço do capitão Farhad por terra. (IG)

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