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"O mundo é um lugar melhor hoje", diz militar paquistanês
DO ENVIADO A TEMARGARA
"Baitullah está morto! E pensar que eu passei oito meses
atrás daquele desgraçado e não
consegui fazer o que aquele robô fez. Mas tudo bem, o mundo
é um lugar melhor hoje."
A frase foi dita pelo capitão
Farhad, 25, quando a Folha
chegou a seu posto de observação em Lalquila, na área tribal
de Dir, e contou as novidades.
Rapidamente ele difundiu a
notícia para os cerca de 40 homens espalhados pela pequena
base, que domina uma rota importante que leva ao vale do rio
Panjkora. Farhad serviu no
Waziristão do Sul até ser chamado há três meses para os
violentos combates em Dir
-onde ainda há focos de resistência do Taleban.
A referência ao robô, no caso
um avião não tripulado Predator, é motivo de polêmica no
Paquistão. Dez entre dez comentaristas políticos criticam
o uso dele, alegando que traduzem uma forma covarde de força que acaba enobrecendo o insurgente ante a população.
De todo modo, sem a ajuda
paquistanesa em terra para
achar os alvos, o Predator seria
inútil.
"Mas desta vez ele morreu
mesmo?", perguntou o soldado
Atab, descendo de um caminhão e tirando o lança-foguetes
do ombro. "Parece que sim",
respondeu o repórter, "mas
não há como saber mais agora".
A Folha soubera do anúncio
do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão cerca de
meia hora antes, quando parou
num posto de distribuição de
comida para refugiados da
guerra contra o Taleban que
começaram a voltar para casa.
No posto, um soldado chamou seu superior, que conversava com a reportagem, e lhe
deu a notícia. Até dois refugiados saíram da fila da comida
para ver a história na TV, numa
base militar contígua ao local.
"Ele prometia o paraíso, mas
trouxe o inferno para muitos
de nós", disse Ali Mohammed,
aparentes 40 anos. Sua casa foi
destruída, conta ele, na ofensiva perto de Lalquila.
No posto de Lalquila, não
houve grandes comemorações.
Aqui e ali um soldado esboçou
um sorriso, mas todos sabem
que a morte de Mehsud não
significa necessariamente um
enfraquecimento para os insurgentes do Waziristão -que
estão sendo atacados de forma
mais pontual, sem a ameaça de
uma ofensiva terrestre.
Mas é inegável a importância
da notícia, se confirmada como
o Paquistão a anunciou.
O posto fica acima de uma cidade, Kumbar Bazar, que já
trazia uma carga simbólica na
luta contra o terror. É o lar de
Sufi Muhammad, o clérigo que
tomou o poder no vale vizinho
do Swat, quando o governo
aceitou que ele aplicasse a lei
islâmica em troca de uma deposição de armas. Deu tudo errado, e a guerra atual contra o
Taleban começou.
A casa de Muhammad segue
lá, com seu portão negro fechado entre as ruínas do que um
dia foi uma próspera vila. A
pergunta a ser feita é se algum
acordo com os que alimentaram a onda de terror de Mehsud um dia tirará da cadeia
Muhammad e o trará de volta,
colocando o esforço do capitão
Farhad por terra.
(IG)
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