São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Comprar títulos é uma solução emergencial e temporária

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Diante da possibilidade de uma segunda-feira realmente negra no mercado, a indicação de que o BCE (Banco Central Europeu) está disposto a usar munição mais pesada que o habitual para evitar uma catástrofe com os títulos espanhóis e italianos foi comemorada por analistas.
Ainda não se sabe quanto o tradicionalmente conservador BCE vai comprar no mercado secundário. Mas analistas do RBS apostam que a intervenção pode levar a uma queda de 1 a 1,5 ponto percentual no retorno exigido sobre esses títulos.
A ação do BCE pode amortecer um problema de liquidez na zona do euro, em um dia que será marcado por turbulências pós-rebaixamento dos EUA e possíveis novos "downgrades" das agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, que seguem a nota dos títulos americanos, e, quiçá, outros países AAA como a França.
Mas a Europa continua sem enfrentar de verdade seu principal problema, que é de solvência. Espanha e Itália precisarão captar no mercado, com emissão de títulos, € 840 bilhões nos próximos 18 meses.
Se o retorno exigido sobre os títulos dos dois países continuar subindo no longo prazo (com os preços dos títulos caindo), os bancos desses países terão de registrar em seus balanços os valores reais desses papéis que carregam, levantando o espectro de insolvência em várias instituições financeiras.
O BCE comprando títulos hoje é uma solução emergencial e temporária que não resolve os problemas de base.
Nesse sentido, os efeitos do rebaixamento da dívida americana pela S&P (e não pela Moody's e Fitch ainda) são menos preocupantes. Mas isso não significa que não haverá grande turbulência.
Um foco de preocupação é o chamado "repo market", em que grandes instituições financeiras tomam emprestado e emprestam fundos em geral no curtíssimo prazo.
Esse mercado usa títulos do Tesouro americano como garantia do empréstimo. É um mastodonte que gira cerca de US$ 2 trilhões por dia, cujas mudanças podem reverberar pelo sistema.
O Fed, o banco central americano, indicou estar pronto para intervir no mercado para evitar turbulências. Não se espera uma repetição da segunda-feira negra pós-quebra do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. Como o mercado foi pego desprevenido, a turbulência se amplificou. O Fed teve de intervir pesado.
Mas estão todos a postos; afinal, é dificílimo prever como o mercado vai reagir à primeira segunda-feira de um mundo sem Estados Unidos risco-zero.


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