São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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Rebeldes líbios promovem caça a aliados de Gaddafi

Trípoli registra onda de prisões de supostos apoiadores do ditador foragido

Com braço fraturado e olho roxo, detido diz à Folha que não era pró-regime; as provas nem sempre são consistentes

MARCELO NINIO

ENVIADO ESPECIAL A TRÍPOLI

Enquanto não descobrem o paradeiro de Muammar Gaddafi, os rebeldes líbios promovem uma caça às bruxas nas ruas de Trípoli, prendendo suspeitos de terem colaborado com o ditador.
O maior alvo são imigrantes de países africanos vizinhos, acusados de terem lutado como mercenários a favor de Gaddafi. Mas muitos líbios também têm sido presos, mesmo quando as provas são pouco consistentes.
Com olho roxo e um braço fraturado, sinais da surra que levou ao ser capturado, Mustafá Mohamed era um dos três detidos ontem numa improvisada base rebelde no bairro de Abu Salim.
Com semblante assustado, disse não ter lutado por Gaddafi . "Sou pobre, o governo nunca me ajudou. Não tinha motivo para ajudá-lo."
Montando guarda com uma baioneta, o rebelde Mohamad Abudabur gritava com os presos e ordenava que parassem de mentir. Segundo ele, Mustafá estava bêbado ao ser preso e testemunhas dizem que ele pegou em armas para defender Gaddafi.
Abu Salim, um dos bairros mais pobres da capital e tradicional reduto de apoio ao ditador, foi palco de uma das batalhas mais duras na tomada rebelde de Trípoli.

PEREGRINAÇÃO
A poucos metros fica Bab al Azizia, quartel-general de Gaddafi e símbolo máximo de seus 42 anos no poder. No imenso complexo, que virou local de peregrinação, os vestígios do ditador despertam a ira dos visitantes, que se perguntam onde ele andará.
"Meu filho foi morto na prisão, só fui saber disso 12 anos depois", dizia Masrouda Daas, secando as lágrimas num multicolorido véu islâmico. "Gaddafi tem de ser preso para pagar por tudo o que fez."
A confusão em torno do paradeiro do ditador prosseguiu ontem, com informações desencontradas divulgadas pelos rebeldes. Anis Sharif, porta-voz do comando militar rebelde em Trípoli, disse que Gaddafi continua na Líbia e está cercado no deserto.
Sharif não quis revelar a exata localização do cerco, mas garantiu que os passos do ditador estão sendo seguidos. "Ele não tem como escapar", disse o porta-voz. Sharif acrescentou que Gaddafi só tem se movimentado à noite, para evitar os ataques aéreos da Otan (aliança militar ocidental).
Contudo, a firmeza expressada por Sharif foi posta em dúvida por outro porta-voz dos rebeldes. Segundo Abdulrahman Busin, as informações sobre o cerco ao ditador no deserto são só rumores.
Relatos de que membros do regime com dinheiro do BC líbio teriam cruzado a fronteira com Níger também foram esvaziados.
Anteontem, um comboio com 200 veículos teria sido visto deixando o país pela divisa. O governo do Níger confirmou a entrada de um grupo menor, autorizada por questões "humanitárias".
Marou Amadou, ministro da Justiça de Níger, descartou ontem que Gaddafi e seus filhos estivessem no comboio. Segundo ele, o único membro do regime a cruzar a fronteira foi Mansour Dhao, chefe da segurança do ditador.


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