São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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DIÁRIO DE TRÍPOLI

Guerra mancha o grande amor dos líbios pelo Brasil

DO ENVIADO A TRÍPOLI

Já foi mais fácil ser brasileiro na Líbia.
As relações calorosas do presidente Lula com Gaddafi e a relutância do Brasil em reconhecer a liderança rebelde geraram decepção generalizada entre os líbios com o país que aprenderam a admirar pelo futebol.
Embora amistosos e com nomes de craques brasileiros na ponta da língua, moradores de Trípoli fazem questão de expressar insatisfação ao saber a nacionalidade do repórter da Folha.
"Como o seu governo preferiu ficar do lado daquele carniceiro [Gaddafi] em vez de apoiar o povo líbio?", indaga Eyad Tajuri, um corpulento professor de educação física de cerca de 40 anos.
Além do futebol, os líbios conhecem o Brasil sobretudo pelas grandes obras realizadas por empreiteiras brasileiras, como a ampliação do aeroporto de Trípoli iniciada pela Odebrecht.
Agora, muitos acham que o Brasil deve ser punido com a anulação de contratos assinados no tempo de Gaddafi. É o caso do estudante de medicina Ahmed Naji, 24.
"A prioridade é dos países que apoiaram a revolução, como França e Reino Unido", diz ele, com um fuzil Kalashnikov a tiracolo. "China e Brasil, que ficaram do lado de Gaddafi, devem ficar no fim da fila."
Outros são mais condescendentes. Apesar de criticar o que considera "ganância" do Brasil em garantir bons negócios com Gaddafi, Adel Taher, ex-presidente da associação líbia de taekwondo, é contra punir.
"Um dos mais importantes mandamentos do Corão é perdoar", diz. "O governo cometeu erros, mas continuamos a adorar o Brasil."
Não faz muito tempo, a adoração era incondicional. Em fevereiro, no início da revolta no leste da Líbia, a reportagem da Folha era recebida com festa sempre que mencionava o Brasil.
Os ânimos mudaram quando o governo brasileiro negou apoio à ação militar aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, em março.
Dono de uma loja de CDs (a maioria pirata) em Trípoli, Youssef Abdul gosta tanto do Brasil que colou na parede uma cédula de 100 mil cruzados, presente de um funcionário da Odebrecht.
"Tem líbio que gosta mais do Kaká do que dos próprios filhos", exagera Youssef, enquanto coloca para tocar uma açucarada versão de "Aquarela do Brasil". "Por isso ficamos tão tristes com o governo brasileiro." (MN)


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