São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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Jogar com inocentes é amoral, diz marroquino

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador e cientista político marroquino Mohammed Abed Al Jabri, 67 anos, afirma acreditar que seria "ilógico e amoral" aceitar que exista um jogo de compensações quando está em jogo a vida de civis inocentes.
Professor da Universidade de Rabat, Al Jabri é conhecido no meio acadêmico como autor de "Introdução à Crítica da Razão Árabe" (tradução de 1999, pela Unesp) e por recentes estudos sobre os efeitos culturais da globalização no mundo islâmico.
Leia abaixo os principais trechos de sua entrevista, concedida à Folha ontem, por telefone, de Marrakech.

Folha - De que modo as lideranças religiosas de outros países islâmicos reagirão aos bombardeios de alvos no Afeganistão?
Al Jabri -
Há uma lógica paralela na qual os EUA têm insistido nas últimas semanas: a de que eles não se opõem ao mundo islâmico, mas apenas àqueles que cometeram os atentados. A meu ver é preciso contextualizar o início das represálias militares num contexto maior, em que o mundo islâmico procura há 50 anos ser dono de sua própria história, que foi apropriada pelo Ocidente no quadro do neocolonialismo.

Folha - O argumento norte-americano de que seus alvos são os terroristas e não um país islâmico será aceito pelo mundo islâmico?
Al Jabri -
No Paquistão, no Afeganistão e em qualquer outro ponto do mundo islâmico é óbvio o sentimento de indignação em se tratando da ocorrência de vítimas civis. Também foram vítimas civis aquelas que pereceram nos atentados de 11 de setembro. Seria ilógico e amoral aceitarmos um jogo de compensação, pelo qual as vítimas civis de agora compensariam as vítimas norte-americanas do mês passado.

Folha - Entre os árabes, qual será a repercussão predominante?
Al Jabri -
Ao tomarem conhecimento dos bombardeios, haverá por certo uma certa indignação no mundo árabe em razão, repito, da inevitabilidade de vítimas civis. É o que eu posso dizer "a quente". Será preciso esperar que a poeira de tudo isso abaixe.

Folha - Seria correto afirmar que o mundo árabe se beneficiou dessa crise, na medida em que os EUA, para fecharem alianças no Oriente Médio, estão mais predispostos a aceitar um Estado palestino?
Al Jabri -
Não há nisso, propriamente, nada de inédito. Durante a administração Clinton, os Estados Unidos já haviam demonstrado abertamente a aceitação do direito dos palestinos a instituir um Estado. Os próprios israelenses não têm objeções.


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