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Jogar com inocentes é
amoral, diz marroquino
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador e cientista político
marroquino Mohammed Abed
Al Jabri, 67 anos, afirma acreditar
que seria "ilógico e amoral" aceitar que exista um jogo de compensações quando está em jogo a
vida de civis inocentes.
Professor da Universidade de
Rabat, Al Jabri é conhecido no
meio acadêmico como autor de
"Introdução à Crítica da Razão
Árabe" (tradução de 1999, pela
Unesp) e por recentes estudos sobre os efeitos culturais da globalização no mundo islâmico.
Leia abaixo os principais trechos de sua entrevista, concedida
à Folha ontem, por telefone, de
Marrakech.
Folha - De que modo as lideranças religiosas de outros países islâmicos reagirão aos bombardeios
de alvos no Afeganistão?
Al Jabri - Há uma lógica paralela
na qual os EUA têm insistido nas
últimas semanas: a de que eles
não se opõem ao mundo islâmico,
mas apenas àqueles que cometeram os atentados. A meu ver é
preciso contextualizar o início das
represálias militares num contexto maior, em que o mundo islâmico procura há 50 anos ser dono de
sua própria história, que foi apropriada pelo Ocidente no quadro
do neocolonialismo.
Folha - O argumento norte-americano de que seus alvos são os terroristas e não um país islâmico será
aceito pelo mundo islâmico?
Al Jabri - No Paquistão, no Afeganistão e em qualquer outro
ponto do mundo islâmico é óbvio
o sentimento de indignação em se
tratando da ocorrência de vítimas
civis. Também foram vítimas civis aquelas que pereceram nos
atentados de 11 de setembro. Seria
ilógico e amoral aceitarmos um
jogo de compensação, pelo qual
as vítimas civis de agora compensariam as vítimas norte-americanas do mês passado.
Folha - Entre os árabes, qual será
a repercussão predominante?
Al Jabri - Ao tomarem conhecimento dos bombardeios, haverá
por certo uma certa indignação
no mundo árabe em razão, repito,
da inevitabilidade de vítimas civis. É o que eu posso dizer "a
quente". Será preciso esperar que
a poeira de tudo isso abaixe.
Folha - Seria correto afirmar que
o mundo árabe se beneficiou dessa
crise, na medida em que os EUA,
para fecharem alianças no Oriente
Médio, estão mais predispostos a
aceitar um Estado palestino?
Al Jabri - Não há nisso, propriamente, nada de inédito. Durante a
administração Clinton, os Estados Unidos já haviam demonstrado abertamente a aceitação do direito dos palestinos a instituir um
Estado. Os próprios israelenses
não têm objeções.
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