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ANÁLISE
Política e comércio orientam aproximação dos dois países
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A aproximação entre Brasília e Paris, que rendeu o
maior acordo militar da história brasileira no ano passado, obedece a duas lógicas.
Primeiro, a política. O governo Lula aprofundou uma
tradição diplomática de mirar a independência possível
da influência americana.
Como não tem como competir militarmente com a única superpotência do planeta,
o caminho foi buscar parceria que lhe fornecesse tecnologia para exercer um mínimo de soberania no futuro.
Não que isso signifique
que tenha parado de comprar dos americanos, de
quem adquiriu dez helicópteros de transporte Black
Hawk. Ou dos russos, de
quem comprou 12 helicópteros de ataque, ou dos alemães, fornecedores de tanques usados. E, principalmente, da indústria nacional
-Embraer, Avibrás e empresas de munição à frente.
Mas o filé financeiro e tecnológico atualmente é francês. O acordo militar do ano
passado, de R$ 22,5 bilhões,
foi unitariamente dos maiores do mundo, ainda que não
signifique mais que umas
duas semanas de gasto militar americano.
O país europeu possui
uma tradição de dominar o
ciclo completo de sua indústria bélica, e o Brasil sonha
com algo parecido. Para críticos, o modelo é ineficaz e caro, porque eleva custos de
produção e não garante o ganho de escala.
O Brasil chegou a namorar
a Rússia para o papel de fornecedora-chave, mas parou
nas dúvidas sobre a capacidade pós-venda da outrora
poderosa indústria bélica de
Moscou e na sutil insinuação
americana de que preferia
ver um aliado ocidental como alternativa a si.
Como o Brasil deve aumentar sua carteira de compras francesas com a aquisição de cerca de R$ 10 bilhões
em caças Rafale, surge outro
problema: a dependência de
um mesmo fornecedor.
O argumento a favor é que
isso garantiria vantagens, como transferência tecnológica
total. Um dos fatores que
mais pesa contra o jato americano F-18 na disputa para
ser o novo caça do Brasil é o
histórico de vetos americanos depois de as vendas serem efetuadas.
Contra, além do já referido
custo, o fato de que nada garante que os ventos políticos
mudem no futuro. A França
já deixou Israel na mão para
não melindrar os petroárabes nos anos 70.
Mas aí entra a segunda
consideração, de ordem comercial. Se há riscos políticos, a França conta com o
mercado brasileiro e de outros emergentes para manter
sua posição de destaque como exportadora bélica.
Se perder o contrato aqui e
um ainda maior em curso na
Índia, por exemplo, a francesa Dassault verá o virtual
naufrágio do programa de
vendas internacionais do Rafale -um avião que não emplacou em nenhuma concorrência externa, diferentemente do seu antecessor
bem-sucedido, o Mirage.
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