São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Prêmio é tímido ao homenagear a onda de revoltas do mundo árabe

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

O comitê do Nobel é famoso pelo agudo senso de oportunidade, às vezes resvalando para a marquetagem. Foi assim há dois anos, com a surpreendente concessão do prêmio a Barack Obama.
Ao buscar estar sempre antenado ao noticiário, o Nobel por vezes acerta, como em 1993, quando honrou Nelson Mandela e Frederik De Klerk, desmanteladores do apartheid sul-africano.
Mas também se precipita, e há exemplos notórios, como o palestino Iasser Arafat e os israelenses Shimon Peres e Yitzhak Rabin sendo agraciados em 1994 por uma paz ainda hoje distante.
Ou o prêmio, em 1973, para o americano Henry Kissinger e o vietnamita Le Duc Tho por outra "paz", no Vietnã -conflito que, como se sabe, duraria ainda mais dois anos.
Como esses casos mostram, marketing demais leva a vexames, mas talvez 2011 fique marcado como o ano em que o Nobel foi tímido além do que deveria.
Este é o ano da Primavera Árabe, e a inclusão de uma desconhecida ativista iemenita na lista, por mais admirável que seja sua biografia, parece insuficiente para contemplar a maior onda democrática no mundo em 20 anos.
É compreensível a sinuca em que se viu o comitê do Nobel. Não há Mandela árabe para premiar. A Primavera é difusa, feita por milhares em diferentes países, com seus smartphones em mãos.
E por que não, então, caprichar no senso de oportunidade e dar o prêmio ao Facebook, ponto de partida de todos os movimentos?
O Nobel não precisa necessariamente ser concedido a indivíduos. ONGs, organismos multilaterais e até um banco já o receberam.
Se há algo que perpassa os acontecimentos deste ano no mundo árabe (e em Israel, Europa, Chile e EUA...), é a rede social criada por Mark Zuckerberg. Marquetagem nem sempre é algo ruim.


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