São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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PAUL KRUGMAN

Enfrentando os malfeitores


Os manifestantes que atacam Wall Street como uma força destrutiva estão completamente corretos

ALGUMA COISA está acontecendo. Ainda que não saibamos ao certo do que se trata, podemos, por fim, estar diante de um movimento popular que, ao contrário do Tea Party, está zangado com as pessoas certas.
Quando os protestos do movimento Ocupe Wall Street começaram, três semanas atrás, a maioria das organizações noticiosas os tratou com desdém ou nem os citou. É um sinal da dedicação dos envolvidos que os protestos tenham não só continuado como crescido, a um ponto que torna impossível ignorá-los.
O que se pode dizer sobre os protestos? Comecemos pelo começo: os ataques dos manifestantes a Wall Street como uma força destrutiva, em termos econômicos e políticos, estão completamente corretos.
Nosso debate político caiu vítima de um fatigado cinismo e de uma crença em que justiça jamais será feita -e, sim, eu mesmo incorri nesse erro. Tornou-se fácil esquecer até que ponto a história de nossos problemas econômicos é ultrajante. Por isso, caso vocês tenham esquecido, lá vai uma peça em três atos.
No primeiro, os banqueiros aproveitaram a desregulamentação para operar sem controle (e receber remunerações principescas), criando imensas bolhas com empréstimos irresponsáveis. No segundo, as bolhas estouraram -mas os contribuintes resgataram os banqueiros.
E, no terceiro ato, os banqueiros demonstraram sua gratidão se voltando contra as pessoas que os salvaram, transferindo seu apoio a políticos que prometeram manter baixos os impostos que eles pagam e destruir a modesta regulamentação pós-crise. Dado esse histórico, como não aplaudir os manifestantes?
É verdade que alguns deles se vestem de modo esquisito ou entoam lemas tolos. Mas e daí? A mim ofende mais ver plutocratas imaculadamente trajados (e que devem a manutenção de suas riquezas a garantias do governo) queixando-se de que Obama lhes fez referências desagradáveis do que ver jovens maltrapilhos atacando o consumismo.
Homens de terno não exercem monopólio sobre a sabedoria; na verdade, têm muito pouca a oferecer. Quando eles zombam dos manifestantes, basta recordar como tanta gente séria nos garantiu que não havia bolha da habitação.
Uma crítica melhor aos protestos é que eles não envolvem demandas políticas específicas. Mas não devemos atribuir importância excessiva a isso. As coisas que o Ocupe Wall Street deseja são claras; políticos e intelectuais deveriam se responsabilizar por detalhar as propostas.
Rich Yeselson, veterano historiador de movimentos sociais, sugeriu que aliviar as dívidas da classe trabalhadora deveria se tornar a plataforma central dos protestos. Endosso a ideia, que faria muito para ajudar a economia a se recuperar.
E há oportunidades políticas reais. Não, é claro, para os republicanos atuais, instintivamente alinhados aos que Theodore Roosevelt definiu como "malfeitores de grande patrimônio". Mitt Romney, por exemplo, não hesitou em condenar os protestos como "luta de classes".
O governo Obama desperdiçou grande parte da boa vontade do público ao adotar políticas simpáticas aos bancos e que não produziram recuperação. Agora, porém, os democratas têm a chance de recomeçar. Basta levar esses protestos tão a sério quanto eles merecem.

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi


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