São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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Grupo atira em estudantes em Caracas

Ataque em campus universitário deixa ao menos 8 feridos; autores, que taparam os rostos, ainda não foram identificados

Episódio foi após passeata promovida por grêmios contra reforma na Carta; vítimas acusam alunos que apóiam o governo

DA REDAÇÃO

Um grupo armado abriu fogo ontem contra estudantes no campus da Universidade Central da Venezuela (UCV), em Caracas, logo após protesto promovido por grêmios universitários contra a reforma constitucional proposta pelo governo Hugo Chávez. Ao menos oito pessoas ficaram feridas, pelo menos duas a bala, segundo o diretor-geral de Proteção Civil, Antonio Rivero.
"Não sabemos a origem. Em um momento, vi que chegaram os estudantes [que] foram agredidos por outros encapuzados. Não sei quem eram nem a que grupo pertenciam", disse Rivero à local Unión Radio.
Fotógrafos da agência americana Associated Press, que estavam no campus, disseram ter visto pelo menos quatro homens com rostos encobertos que atiraram em estudantes quando eles chegavam da marcha contra a reforma da Carta.
Não estava claro, até o fechamento desta edição, se as pessoas armadas já haviam deixado o campus. Segundo informações do vice-reitor da UCV, Edgar Narváez, parte delas continuava no prédio da Escola de Trabalho Social, onde teria começado o incidente. Um dos atiradores, ainda segundo Narváez, seria aluno da unidade.
Em relatos a meios de imprensa locais, estudantes e funcionários da universidade acusaram grupos pró-governo de haver "tomado" o edifício da Escola de Trabalho Social e começado a confusão.
Quando os tiros começaram, houve correria no campus. Um ônibus foi queimado.
A Guarda Nacional não foi autorizada pelos dirigentes da UCV a entrar no campus, o maior do país. Pela lei venezuelana, forças de segurança do Estado não podem entrar em universidades, a menos que autoridades da instituição solicitem.
Narváez afirmou à radio Unión que havia conversado sobre a situação da universidade com o vice-presidente, Jorge Rodríguez, com ministros e com o prefeito de Caracas, Juan Barreto, que é chavista e professor da UCV. "Eles vão estabelecer contato com os grupos que supostamente geraram toda essa violência para tratar de pôr fim ao que está acontecendo", disse o vice-reitor.
O ministro do Interior, Pedro Carreño, que havia negociado com os estudantes o esquema de segurança da marcha de ontem, afirmou na TV que os causadores da violência tinham sido os estudantes contrários ao governo (leia nesta página).
Sites oficiais como a Agência Bolivariana de Notícias não noticiaram o episódio ontem.

Sem incidentes
Os tiros na UCV começaram após uma passeata sem incidentes que reuniu dezenas de milhares de pessoas em Caracas. Ao final da marcha, uma comissão de estudantes entregou ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) um pedido formal para adiar o referendo sobre a reforma constitucional, marcado para 2 de dezembro.
Cerca de 3.000 policiais acompanharam o ato.
Os grêmios estudantis promovem há duas semanas atos públicos massivos contra a reforma constitucional. Em vários deles houve confrontos entre estudantes, grupos chavistas e policiais.
O argumento dos estudantes para pedir o adiamento do referendo é o de que não haverá tempo suficiente para que a população avalie as mudanças na Carta propostas pelo presidente Hugo Chávez, entre elas a instituição da reeleição ilimitada. O projeto foi emendado por deputados chavistas e aprovado pela Assembléia Nacional na sexta-feira.
A presidente do Tribunal Supremo, Estela de Morales, disse que a petição terá análise imediata. Porém, como a corte é pró-Chávez, a possibilidade de adiamento é remota.


Com agências internacionais


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