|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUEDA DO MURO: 20 ANOS DEPOIS
Transição econômica continua em curso
Para especialistas, reunificação econômica foi um sucesso, pois proporcionou melhora de vida da população do Leste
Calcula-se, porém, que será necessário mais tempo e dinheiro para diminuir o desequilíbrio que ainda hoje persiste dentro do país
DA ENVIADA A BERLIM, DRESDEN
E LEIPZIG
A rapidez da transição econômica na Alemanha reunificada deixou marcas tão fortes
dos dois lados que, mesmo com
a economia do Leste avançando a um ritmo acima da média,
ainda serão precisos ao menos
dez anos e mais transferências
de fundos do governo federal
para que o desnível se torne
menos evidente, calculam economistas e pesquisadores.
"Pode-se até argumentar que
a economia foi a razão real pela
qual tudo isso aconteceu, mas,
diferente do modelo asiático,
em que a abertura econômica
veio a seu próprio tempo e precedeu a política, no Leste da
Europa a abertura política ditou a economia, que teve de se
desdobrar para acompanhar",
diz Jonathan Lynn, jornalista
inglês que cobriu a transição
para o capitalismo no Leste.
A equiparação monetária em
1990, quando a moeda foi unificada e o governo declarou o
marco do Leste, então desvalorizado em cerca de 75%, igual
ao do Oeste, norteou a transição. "No início do governo [de
Helmut Kohl], havia esperança
de que as conversões seria rápidas", afirma Volker Nitsch, economista da Universidade Livre
de Berlim. "Mas acabou sendo
decepcionante."
Nitsch defende, no entanto,
que os desníveis entre Leste e
Oeste não diferem tanto dos
vistos entre regiões distintas de
outros países ou das discrepâncias internas de cada lado.
Quem chega a Leipzig, por
exemplo, e vê o centro forrado
de lojas e com jovens em todos
os cantos, não tem dúvidas de
que está em um polo comercial
importante. Mas a cidade é
uma exceção que conseguiu se
converter relativamente rápido
aos serviços e ao consumo.
"Um dos principais obstáculos do lado Leste é que as empresas são muito pequenas",
explica Nitsch. "A maioria das
grandes companhias tem sede
no Oeste, onde acabam contribuindo economicamente."
Infraestrutura
Essa opção se amparou, sobretudo, na questão da infraestrutura. O governo de alinhamento soviético deu preferência à indústria de maquinário
pesado em detrimento da de
consumo e serviços. Quando as
barreiras caíram, o que se encontrou no Leste foi um parque
industrial anacrônico.
O vantajoso baixo custo da
mão de obra sumiu diante da
paridade cambial. "Não havia
outro jeito, mas o saldo negativo é que, sem competitividade,
muitos negócios quebraram",
diz Nitsch. "Foi uma decisão
política de Kohl. O Parlamento
foi contra, mas se não fosse assim, os alemães orientais iriam
embora. Era preciso freá-los."
Ainda assim, estima-se que
dois milhões tenham ido, a
maioria jovens. O desemprego,
perto de 12% no Leste, é quase
o dobro do Oeste. E, consequência direta, os salários são
menores. Um servidor do governo afirmou que sua agência
paga 10% a menos na ex-RDA,
mas há setores da iniciativa privada onde essa vala é de 40%.
A renda vem se equiparando,
mas ainda hoje o PIB per capita
no Leste é 70% do Oeste (em
1991, era menos de 40%). Estudo do Instituto IVW divulgado
nesta semana mostra que, embora o ritmo do crescimento na
ex-Alemanha Oriental (menos
atingida pela crise porque exporta menos) seja o dobro da
média regional, em dez anos
não mais que dez pontos de
desnível serão cobertos.
"A reunificação econômica é
um caso de sucesso, pois a população subiu de nível de vida,
embora pudesse ter sido mais
bem conduzida", avalia. "Com
certeza vai levar muito mais
tempo do que o esperado, e isso
é um fator de decepção na região."
(LUCIANA COELHO)
Texto Anterior: Passado se reflete em preferências políticas atuais Próximo Texto: Jovens ignoram separação de geração passada Índice
|