São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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QUEDA DO MURO: 20 ANOS DEPOIS

Transição econômica continua em curso

Para especialistas, reunificação econômica foi um sucesso, pois proporcionou melhora de vida da população do Leste

Calcula-se, porém, que será necessário mais tempo e dinheiro para diminuir o desequilíbrio que ainda hoje persiste dentro do país

DA ENVIADA A BERLIM, DRESDEN E LEIPZIG

A rapidez da transição econômica na Alemanha reunificada deixou marcas tão fortes dos dois lados que, mesmo com a economia do Leste avançando a um ritmo acima da média, ainda serão precisos ao menos dez anos e mais transferências de fundos do governo federal para que o desnível se torne menos evidente, calculam economistas e pesquisadores.
"Pode-se até argumentar que a economia foi a razão real pela qual tudo isso aconteceu, mas, diferente do modelo asiático, em que a abertura econômica veio a seu próprio tempo e precedeu a política, no Leste da Europa a abertura política ditou a economia, que teve de se desdobrar para acompanhar", diz Jonathan Lynn, jornalista inglês que cobriu a transição para o capitalismo no Leste.
A equiparação monetária em 1990, quando a moeda foi unificada e o governo declarou o marco do Leste, então desvalorizado em cerca de 75%, igual ao do Oeste, norteou a transição. "No início do governo [de Helmut Kohl], havia esperança de que as conversões seria rápidas", afirma Volker Nitsch, economista da Universidade Livre de Berlim. "Mas acabou sendo decepcionante."
Nitsch defende, no entanto, que os desníveis entre Leste e Oeste não diferem tanto dos vistos entre regiões distintas de outros países ou das discrepâncias internas de cada lado.
Quem chega a Leipzig, por exemplo, e vê o centro forrado de lojas e com jovens em todos os cantos, não tem dúvidas de que está em um polo comercial importante. Mas a cidade é uma exceção que conseguiu se converter relativamente rápido aos serviços e ao consumo.
"Um dos principais obstáculos do lado Leste é que as empresas são muito pequenas", explica Nitsch. "A maioria das grandes companhias tem sede no Oeste, onde acabam contribuindo economicamente."

Infraestrutura
Essa opção se amparou, sobretudo, na questão da infraestrutura. O governo de alinhamento soviético deu preferência à indústria de maquinário pesado em detrimento da de consumo e serviços. Quando as barreiras caíram, o que se encontrou no Leste foi um parque industrial anacrônico.
O vantajoso baixo custo da mão de obra sumiu diante da paridade cambial. "Não havia outro jeito, mas o saldo negativo é que, sem competitividade, muitos negócios quebraram", diz Nitsch. "Foi uma decisão política de Kohl. O Parlamento foi contra, mas se não fosse assim, os alemães orientais iriam embora. Era preciso freá-los."
Ainda assim, estima-se que dois milhões tenham ido, a maioria jovens. O desemprego, perto de 12% no Leste, é quase o dobro do Oeste. E, consequência direta, os salários são menores. Um servidor do governo afirmou que sua agência paga 10% a menos na ex-RDA, mas há setores da iniciativa privada onde essa vala é de 40%.
A renda vem se equiparando, mas ainda hoje o PIB per capita no Leste é 70% do Oeste (em 1991, era menos de 40%). Estudo do Instituto IVW divulgado nesta semana mostra que, embora o ritmo do crescimento na ex-Alemanha Oriental (menos atingida pela crise porque exporta menos) seja o dobro da média regional, em dez anos não mais que dez pontos de desnível serão cobertos.
"A reunificação econômica é um caso de sucesso, pois a população subiu de nível de vida, embora pudesse ter sido mais bem conduzida", avalia. "Com certeza vai levar muito mais tempo do que o esperado, e isso é um fator de decepção na região." (LUCIANA COELHO)


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