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Jovens ignoram separação de geração passada
DA ENVIADA À ALEMANHA
"É difícil para mim perceber que eram dois Estados. Eu não tenho memória de quando o Muro
caiu", diz Carolin Espe entre pausas, buscando uma
lembrança que inexiste.
A estudante de Ciências
Sociais de 21 anos, nascida
e criada em Leipzig, ouviu
dos pais "as dificuldades e
oportunidades de antes e
depois do muro". "Mas
eles nunca me disseram se
a RDA [República Democrática Alemã] era melhor
ou pior que outros lugares." (Sim, ela usa o acrônimo extinto).
Cinco anos mais velho e
nascido em Hamburgo
(Oeste), seu amigo Sven
Knobloch puxa algo da
memória. "Eu achava que
no Leste todo mundo era
ruivo, porque meus parentes de lá tinham cabelo
vermelho."
Piadas à parte, os dois
concordam que as diferenças, em sua geração, se limitam a gírias e códigos
comportamentais.
"Os jovens não têm a separação de mundos, mas
distinguem claramente
quem vem de cá e quem
vem de lá", diz Maritta
Adam-Tkalec, mãe de um
garoto de 19 anos de Berlim. "Afinal, jovens vêm da
casa dos pais, e os pais são
diferentes."
Carolin e Sven refletem
isso. Os pais dela perderam o emprego e tiveram
de aprender a poupar.
"Eles nunca haviam pensado que teriam de guardar dinheiro ou temer pelo
emprego -no velho sistema o emprego estava lá."
"Nossa geração é mais
unida que a dos nossos
pais", diz Sven. "Quando
disse que ia estudar em
Leipzig, onde está uma das
mais tradicionais universidades do país, eles viraram e disseram: "Mas você
vai para o Leste?'".
Olhar para o futuro
O que lhes importa é o
futuro, em que pesa o medo do desemprego. Histórias de amigos com dificuldade para entrar no mercado de trabalho vêm de
todo o país. A política não
os anima (ela votou nos
social-democratas; ele nos
verdes, mas sentem falta
de plataformas de fato distintas). Carolin se desencantou com Angela Merkel. "Ela é do Leste e cedeu
aos conservadores."
E o passado? "Para esta
geração, a revolução política e a queda do Muro são
algo dos livros", diz Frank
Richter, 49, líder dos protestos em Dresden. Muitos contemporâneos seus
ressentem o desdém juvenil. Mas a culpa não cabe
só aos garotos. As escolas,
contam, quase nada ensinam da RDA.
"Eu não culparia os professores, embora em alguns casos talvez seja uma
tentativa de esquecer o
próprio passado", diz Axel
Klausmeier, do Centro de
Documentação sobre o
Muro. "Mas a RDA, a divisão, não estão mais na
agenda. Eles começam nos
gregos e conseguem ir até
a Alemanha nazista."
Para Tobias Holitzer,
curador do Museu da Stasi
em Leipzig, "outros países
têm muito menos problemas falando da Cortina de
Ferro do que os alemães".
"Na Alemanha, não houve
suficiente debate sobre a
história comum de ausência de liberdades."
(LC)
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