São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

foco

Prédio da Stasi ainda guarda segredos da polícia secreta do regime comunista alemão

DA ENVIADA A BERLIM

O monumental prédio fincado no número 103 da Ruschestrasse guarda algo de sinistro. De certa forma, a Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental, ainda está ali. E novos segredos sobre a "segurança do Estado" devem vir à tona em breve.
É no prédio que ocupa quase todo um quarteirão no leste de Berlim que estão guardados os arquivos de uma das instituições mais bem articuladas e temidas do planeta, criada no governo comunista para controlar a sociedade.
"São 170 km de arquivos só da Stasi. O maior arquivo da Alemanha, que cobre todos os tópicos do país desde 1870, tem 190 km", diz o historiador Siegfried Suckut, do Departamento de Pesquisa e História do governo federal.
Nos papéis, há detalhes da vida de cidadãos vigiados por câmeras, microfones, escutas telefônicas, amostras de odor, agentes e, sobretudo, uma extensa rede de informantes.
"As pessoas sabiam que eram espionadas, mas o grau em que isso acontecia ninguém podia imaginar", diz Tobias Holitzer, diretor do museu da Stasi em Leipzig, onde se podem visitar as minúsculas celas em que ficavam os prisioneiros políticos.

Arquivos
Embora a maior parte dos arquivos originais esteja intacta e aberta às vítimas na Ruschestrasse (algo único nos ex-regimes comunistas), 10 mil sacos plásticos grandes guardam pedaços de papéis destruídos na última hora, quando os funcionários da Stasi perceberam tardiamente que a Alemanha Oriental estava ruindo dois meses após o Muro de Berlim.
O material tem agora chance real de ser reconstituído. O governo alemão liberou 15 milhões a um projeto que prevê remontar os documentos com computadores que calculam combinações possíveis a partir de fragmentos digitalizados. "O Parlamento concordou em fazer um primeiro teste para saber se isso é de fato possível. Se for, deverão sair daí informações importantes", diz Suckut. "Nos últimos momentos eles tentaram proteger os empregados "não oficiais" mais importantes, os informantes."
Por dez anos, coube a uma equipe de 24 pessoas em Nuremberg (sul) remontar manualmente os papéis. Mas o esforço, mesmo com ajuda de outras equipes, não avançou mais de 600 sacos.
Calcula-se que a Stasi tivesse 170 mil informantes quando o muro caiu. Os principais nomes foram punidos, morreram ou fugiram. Com exceção de um e outro julgamento de oficial médio, os colaboradores continuaram levando uma vida tão normal quanto possível para alguém que leva essa marca.
A lei alemã determina que um empregador estatal pode solicitar ao Centro de Arquivos da Stasi informações sobre futuros contratados. "Só podemos responder a uma pergunta: se a pessoa era um membro oficial ou não oficial da Stasi", explica Suckut.
Segundo o historiador, é comum que em escolas os próprios pais dos alunos peçam que professores que colaboraram com a Stasi permaneçam -em universidades, já é mais difícil. "Muitos ex-membros não perderam seus empregos. Mas agora todo mundo sabe quem eles eram." (LC)


Texto Anterior: Leipzig reivindica seu papel em fim da RDA
Próximo Texto: Transição à democracia tem muitos donos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.