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Prédio da Stasi ainda guarda segredos da polícia secreta do regime comunista alemão
DA ENVIADA A BERLIM
O monumental prédio fincado no número 103 da Ruschestrasse guarda algo de sinistro. De certa forma, a Stasi,
a polícia secreta da Alemanha
Oriental, ainda está ali. E novos segredos sobre a "segurança do Estado" devem vir à
tona em breve.
É no prédio que ocupa quase todo um quarteirão no leste de Berlim que estão guardados os arquivos de uma das
instituições mais bem articuladas e temidas do planeta,
criada no governo comunista
para controlar a sociedade.
"São 170 km de arquivos só
da Stasi. O maior arquivo da
Alemanha, que cobre todos os
tópicos do país desde 1870,
tem 190 km", diz o historiador Siegfried Suckut, do Departamento de Pesquisa e
História do governo federal.
Nos papéis, há detalhes da
vida de cidadãos vigiados por
câmeras, microfones, escutas
telefônicas, amostras de odor,
agentes e, sobretudo, uma extensa rede de informantes.
"As pessoas sabiam que
eram espionadas, mas o grau
em que isso acontecia ninguém podia imaginar", diz
Tobias Holitzer, diretor do
museu da Stasi em Leipzig,
onde se podem visitar as minúsculas celas em que ficavam os prisioneiros políticos.
Arquivos
Embora a maior parte dos
arquivos originais esteja intacta e aberta às vítimas na
Ruschestrasse (algo único
nos ex-regimes comunistas),
10 mil sacos plásticos grandes
guardam pedaços de papéis
destruídos na última hora,
quando os funcionários da
Stasi perceberam tardiamente que a Alemanha Oriental
estava ruindo dois meses
após o Muro de Berlim.
O material tem agora chance real de ser reconstituído. O
governo alemão liberou 15
milhões a um projeto que
prevê remontar os documentos com computadores que
calculam combinações possíveis a partir de fragmentos
digitalizados. "O Parlamento
concordou em fazer um primeiro teste para saber se isso
é de fato possível. Se for, deverão sair daí informações
importantes", diz Suckut.
"Nos últimos momentos eles
tentaram proteger os empregados "não oficiais" mais importantes, os informantes."
Por dez anos, coube a uma
equipe de 24 pessoas em Nuremberg (sul) remontar manualmente os papéis. Mas o
esforço, mesmo com ajuda de
outras equipes, não avançou
mais de 600 sacos.
Calcula-se que a Stasi tivesse 170 mil informantes quando o muro caiu. Os principais
nomes foram punidos, morreram ou fugiram. Com exceção de um e outro julgamento
de oficial médio, os colaboradores continuaram levando
uma vida tão normal quanto
possível para alguém que leva
essa marca.
A lei alemã determina que
um empregador estatal pode
solicitar ao Centro de Arquivos da Stasi informações sobre futuros contratados. "Só
podemos responder a uma
pergunta: se a pessoa era um
membro oficial ou não oficial
da Stasi", explica Suckut.
Segundo o historiador, é
comum que em escolas os
próprios pais dos alunos peçam que professores que colaboraram com a Stasi permaneçam -em universidades, já é mais difícil. "Muitos
ex-membros não perderam
seus empregos. Mas agora todo mundo sabe quem eles
eram."
(LC)
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