São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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Perseguições são ferramenta para controle da mídia

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há décadas na Rússia reciclam-se os métodos para frear a liberdade de expressão. O jornalista Mikhail Beketov, por exemplo, acusado de difamação pelo prefeito de Khimki, foi alvo de várias ameaças. Até seu cão foi morto como "aviso".
"A Rússia nunca teve uma tradição de imprensa livre, mesmo nos tempos do czar", diz Marvin Kalb, professor da Universidade Harvard que foi diplomata e chefe do escritório da NBC em Moscou.
Perseguições, como a feita contra Beketov, editor-chefe do jornal "Khimkinskaya Pravda" que criticava a prefeitura, são ferramenta comum de controle da mídia russa atual, e o país já é habitué no mapa de "predadores da imprensa" da RSF (Repórteres Sem Fronteiras).
A FIJ (Federação Internacional de Jornalistas) chegou a editar a publicação "Justiça Parcial, um estudo sobre as mortes de jornalistas na Rússia de 1993-2009".
O relatório detalha 300 mortes e desaparecimentos de jornalistas no país e o lento andamento da Justiça.
A Rússia figura em 140º lugar no ranking da liberdade de imprensa da RSF, lançado na semana passada. O Brasil, que, de acordo com a FIJ, teve 27 jornalistas mortos entre 1996 e 2007, contra os 96 da Rússia, ficou em 85º lugar.
"Uns 99% do que se publica na Rússia são apenas o que consentem as altas instituições," afirma a dissidente política Iulia Privedennaya.
Segundo ela, a mídia "só tece elogios: a vida melhorou, a vida tornou-se mais alegre -igualzinho ao bordão de uma canção que se cantava sob Stálin".
Segundo Kalb, isso acontece por dois motivos. Um deles é que o Estado hoje controla a maior parte da mídia.
Gorbatchov foi o primeiro a privatizar secretamente parte da imprensa, que atingiu o auge da liberdade de expressão no governo Ieltsin.
"Quando Putin se instalou na Presidência, uma das coisas que ele fez, que é típica de soberanos que desejam reivindicar controle completo sobre a sociedade, foi começar a readquirir mídias controladas pelo Estado", diz.
Hoje, cada vez menos veículos russos são independentes e muitos têm baixado as portas por vários motivos.
O segundo motivo é que, "se há uma voz independente na mídia, ela muito frequentemente é silenciada". Isso pode explicar por que, desde 1991, o país tem uma data para celebrar jornalistas mortos -11 de dezembro.


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