São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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VENEZUELA

Presidente promete investigação rigorosa do ataque contra a oposição; segundo OEA, diálogo seria retomado ontem

Após mortes, Chávez pede calma e diálogo

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pediu calma ao país após o tiroteio da noite de sexta-feira que matou três pessoas em manifestação da oposição em praça de Caracas (capital).
Em clima de tensão, o governo organizava ontem uma marcha de simpatizantes em bairro popular de Caracas para contrabalançar as manifestações da oposição.
Durante a tarde, centenas de oposicionistas tomaram uma praça da capital venezuelana, vestidos de preto, para pedir a resignação de Chávez depois das mortes de sexta. Eles culpam os simpatizantes do presidente pelos assassinatos.
A OEA (Organização dos Estados Americanos) disse que governo e oposição retomariam o diálogo intermediado pelo órgão no final da tarde de ontem.
Chávez afirmou que a greve contra o seu governo, iniciada na segunda-feira, é uma "conspiração petrolífera" que tem "o mesmo formato" do golpe cívico-militar que o afastou do poder por dois dias, em abril passado.
Ele prometeu manter funcionando a indústria do petróleo, a maior do país, apesar de setores da gigante estatal PDVSA (Petroleos de Venezuela S.A.) terem aderido à paralisação -a empresa é responsável por 80% das receitas de exportação do país.
Para Chávez, a ofensiva da oposição é similar à de abril, quando chefes militares e empresariais lideraram tentativa de golpe após confrontos em manifestação da oposição em Caracas, que deixaram ao menos 17 mortos. "Só que agora não há [com os golpistas", como naquela ocasião, um grupo de militares da alta hierarquia que deram forma ao golpe de Estado".
"Temos de fazer um chamado à paz, à ponderação, tanto a meus adversários como a meus simpatizantes", disse o coronel da reserva, que liderou um golpe militar fracassado em 1992, foi eleito com grande maioria em 1998 e reeleito em 2000, após mudar a Constituição por meio de Assembléia Constituinte.
As mortes de anteontem ocorreram após atiradores abrirem fogo contra ato da oposição na praça Altamira, onde, desde 22 de outubro, um grupo de militares se encontra em "desobediência" exigindo a renúncia de Chávez.
O presidente, cuja popularidade caiu de 90% em 1998 a cerca de 30% agora, prometeu uma investigação rigorosa sobre as mortes e acusou líderes da oposição e canais de TV privados, contrários a seu governo, de "incitar a vingança" ao responsabilizá-lo pelas mortes antes da investigação.
Chávez disse ainda que seu governo quer dialogar com a oposição, abordando todos os temas, inclusive uma possível saída eleitoral da crise, o desarmamento da população e a instalação de uma Comissão da Verdade para investigar o golpe de abril.
Ao menos uma pessoa foi detida por causa dos disparos na praça. O homem teria confessado a autoria dos tiros e dito que era contra a greve.
O líder sindicalista Carlos Ortega culpou Chávez pelas mortes de sexta, enquanto militares dissidentes pediram às Forças Armadas para se voltarem contra o presidente. "Chávez é o maior assassino já nascido na Venezuela", disse Ortega ao visitar o local das mortes, onde pessoas acendiam velas e colocavam imagens da Virgem Maria, ontem, em volta de manchas de sangue no chão.
Os EUA, acusados de apoio ao golpe de abril, pediram a "rejeição da violência" e a volta ao diálogo.
A Venezuela está profundamente dividida política e socialmente, com as classes média e alta pedindo a queda do governo, enquanto Chávez se apóia nas camadas populares.
Os grevistas querem um referendo sobre o governo em fevereiro ou eleições antecipadas. Chávez diz que a Constituição só permite o referendo em agosto, quando seu mandato, que vai até 2007, chega à metade.


Com agências internacionais

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