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São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Pesquisa indica que, para a população, o país está pior que há 20 anos; o desemprego é a maior preocupação

Para argentinos, democracia tem problemas

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

A situação socioeconômica da Argentina está pior que há duas décadas, e os últimos 20 anos de democracia, após sete de ditadura militar, não resolveram os problemas mais graves do país. Essa é a percepção dos argentinos, de acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública -divulgada ontem.
O estudo comparou a percepção da população sobre o país de um modo geral e sobre questões específicas, como economia, corrupção e trabalho, em dois momentos significativos: 1993 e 2003.
O resultado mostra um quadro de pessimismo acerca dos avanços da Argentina. A pesquisa ouviu 600 pessoas e tem margem de error de 4,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Não foi divulgado o período da consulta.
Em 1993, por exemplo, 66,6% dos argentinos acreditavam que o país estivesse mais bem do que em 1983, quando terminou a ditadura e houve uma redemocratização. Apenas 18,7% achavam que a situação estivesse pior, e 12,2% consideravam que estava igual.
Neste ano, 48,8% da população pensa que a Argentina está em pior situação que em 1983. Consideram melhor ou igual 24,3% e 23%, respectivamente.
Nos quesitos economia e corrupção, a diferença entre os resultados de 1993 e de 2003 é ainda maior. Atualmente, 64,5% pensam que a economia argentina está pior, contra 32,6% que faziam essa mesma avaliação há dez anos. Enquanto 47,9% pensavam que a economia estava melhor em 1983, apenas 10% concordam com análise hoje.
Em relação à corrupção, 72,9% opinam que o país está pior hoje que em 1983, enquanto 19,7% tinham essa opinião em 1993. Naquele ano, 74,2% pensavam que a situação estava melhor ou igual nesse aspecto. Hoje, os argentinos que compartilham essa opinião somam apenas 25,3%.

Contexto
O pessimismo se justifica. Em 1993, dez anos após o fim da ditadura militar, o país estava no auge da conversibilidade, política econômica que atrelou o peso argentino ao dólar e que deu à população uma sensação de fazer parte do mundo desenvolvido.
De fato, o primeiro governo do ex-presidente Carlos Menem (1989-95) é recordado pelos entrevistados como um período de estabilidade e de crescimento econômico, em que "se vivia bem e o dinheiro rendia".
Em 2003, o contexto é bastante distinto: a Argentina tenta se reerguer da maior crise econômica de sua história, que jogou um quarto da população na indigência e mais da metade na pobreza.
Com os efeitos da crise ainda "frescos", 30% dos entrevistados afirmaram que a democracia "não solucionou nenhum dos problemas mais graves" da população argentina.
Os problemas mais graves que seguem pendentes são o desemprego (74,2%), a corrupção (46,7%), a pobreza (46%) e a insegurança (39,8%).
Apesar do pessimismo, 80% dos argentinos dão "muito valor" à democracia, contra 12,3% que dão "pouco valor". Os que não dão "nenhum valor" à democracia somam 4,5%.
Entre as maiores conquistas do sistema democrático, os entrevistados citam a liberdade de expressão (56,5%), a liberdade de imprensa (37,8%) e as liberdades individuais (33,8%).
No entanto mais da metade afirmou estar disposta a sacrificar liberdades e direitos em troca de maior segurança e menos pobreza.



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