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AMÉRICA LATINA
Pesquisa indica que, para a população, o país está pior que há 20 anos; o desemprego é a maior preocupação
Para argentinos, democracia tem problemas
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
A situação socioeconômica da
Argentina está pior que há duas
décadas, e os últimos 20 anos de
democracia, após sete de ditadura
militar, não resolveram os problemas mais graves do país. Essa é a
percepção dos argentinos, de
acordo com pesquisa realizada
pelo Centro de Estudos de Opinião Pública -divulgada ontem.
O estudo comparou a percepção da população sobre o país de
um modo geral e sobre questões
específicas, como economia, corrupção e trabalho, em dois momentos significativos: 1993 e 2003.
O resultado mostra um quadro
de pessimismo acerca dos avanços da Argentina. A pesquisa ouviu 600 pessoas e tem margem de
error de 4,5 pontos percentuais
para cima ou para baixo. Não foi
divulgado o período da consulta.
Em 1993, por exemplo, 66,6%
dos argentinos acreditavam que o
país estivesse mais bem do que
em 1983, quando terminou a ditadura e houve uma redemocratização. Apenas 18,7% achavam que a
situação estivesse pior, e 12,2%
consideravam que estava igual.
Neste ano, 48,8% da população
pensa que a Argentina está em
pior situação que em 1983. Consideram melhor ou igual 24,3% e
23%, respectivamente.
Nos quesitos economia e corrupção, a diferença entre os resultados de 1993 e de 2003 é ainda
maior. Atualmente, 64,5% pensam que a economia argentina está pior, contra 32,6% que faziam
essa mesma avaliação há dez
anos. Enquanto 47,9% pensavam
que a economia estava melhor em
1983, apenas 10% concordam
com análise hoje.
Em relação à corrupção, 72,9%
opinam que o país está pior hoje
que em 1983, enquanto 19,7% tinham essa opinião em 1993. Naquele ano, 74,2% pensavam que a
situação estava melhor ou igual
nesse aspecto. Hoje, os argentinos
que compartilham essa opinião
somam apenas 25,3%.
Contexto
O pessimismo se justifica. Em
1993, dez anos após o fim da ditadura militar, o país estava no auge
da conversibilidade, política econômica que atrelou o peso argentino ao dólar e que deu à população uma sensação de fazer parte
do mundo desenvolvido.
De fato, o primeiro governo do
ex-presidente Carlos Menem
(1989-95) é recordado pelos entrevistados como um período de
estabilidade e de crescimento econômico, em que "se vivia bem e o
dinheiro rendia".
Em 2003, o contexto é bastante
distinto: a Argentina tenta se reerguer da maior crise econômica de
sua história, que jogou um quarto
da população na indigência e
mais da metade na pobreza.
Com os efeitos da crise ainda
"frescos", 30% dos entrevistados
afirmaram que a democracia
"não solucionou nenhum dos
problemas mais graves" da população argentina.
Os problemas mais graves que
seguem pendentes são o desemprego (74,2%), a corrupção
(46,7%), a pobreza (46%) e a insegurança (39,8%).
Apesar do pessimismo, 80% dos
argentinos dão "muito valor" à
democracia, contra 12,3% que
dão "pouco valor". Os que não
dão "nenhum valor" à democracia somam 4,5%.
Entre as maiores conquistas do
sistema democrático, os entrevistados citam a liberdade de expressão (56,5%), a liberdade de imprensa (37,8%) e as liberdades individuais (33,8%).
No entanto mais da metade afirmou estar disposta a sacrificar liberdades e direitos em troca de
maior segurança e menos pobreza.
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