São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Oposição acusa a CIA de queimar provas

Democratas criticam destruição de dois vídeos de interrogatórios; entidades de direitos humanos também condenam

Porta-voz da Casa Branca diz que Bush foi informado só na quinta que gravações existiram e que haviam sido destruídas pela inteligência

Lawrence Jackson - 05.dez.07
Manifestantes com o uniforme laranja dos presos de Guantánamo protestam contra o campo de prisioneiros em Washington


DA REDAÇÃO

A oposição democrata no Congresso americano, grupos de direitos humanos e advogados de prisioneiros de Guantánamo reagiram indignados à informação, publicada ontem pelo "New York Times", de que a CIA havia destruído em 2005 duas gravações de sessões de interrogatórios de suspeitos de terrorismo islâmico.
Os interrogatórios, em 2002, tiveram entre suas vítimas Abu Zubaydah e Bin al-Shibh, que foram submetidos à simulação de afogamento, uma das formas de tortura que o governo americano qualifica de "formas duras" de obter informações.
A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que o presidente George W. Bush foi informado apenas na quinta-feira de que as fitas existiram e haviam sido destruídas.
Ela citou o diretor da CIA, general Michael Hayden, para quem "as fitas levantavam um sério risco" por permitirem a identificação de agentes, "expondo-os e seus familiares à retaliação da Al Qaeda e de seus simpatizantes".
Afirmou ainda que apenas um pequeno número de prisioneiros foram submetidos a interrogatórios mais "duros" e que essa prática "salvou muitas vidas" e é "necessária à segurança do país".
Já que indicou ser a prática tão positiva, Dana Perino foi indagada sobre a razão pela qual as gravações foram destruídas. Sua lacônica resposta: "Não tenho comentários a fazer."
O senador democrata Dick Durbin, em mensagem ao secretário da Justiça, Michael Mukasey, perguntou se a destruição das fitas não caracterizaria "uma violação da lei".

Clinton e "má idéia"
Hillary Clinton, candidata à investidura democrata à Casa Branca, pediu uma investigação rigorosa. "Precisamos ir a fundo em tudo o que tem acontecido nos últimos anos."
A deputada democrata Jane Harman, a mais alta representante de seu partido na Comissão de Inteligência da Câmara entre 2002 e 2006, disse ter alertado a CIA de que a destruição das gravações de interrogatórios seria "uma má idéia".
O argumento da agência de que as gravações em vídeo não eram relevantes para o Congresso, afirmou a deputada, "reforça a idéia de que a CIA não deveria estar conduzindo um programa independente de interrogatórios".
Outro deputado democrata, Rush Holt, também membro da Comissão de Inteligência, disse ter sido informado pela CIA de que nem todos os interrogatórios são gravados.
Daniel Marcus, professor de direito que assessorou o Congresso durante as investigações sobre o 11 de Setembro, disse jamais ter sido informado de que as fitas seriam destruídas.

Human Rights Watch
A entidade de direitos humanos Human Rights Watch, por meio de seu diretor em Washington, Tom Malinowski, disse ser improcedente o argumento da CIA segundo o qual as gravações, se não fossem destruídas, exporiam a represálias os agentes envolvidos nos interrogatórios.
Outro integrante daquela entidade, Jeniffer Daskal, afirmou que o que ocorreu "foi a destruição de provas" de algo que comprometeria os agentes que praticaram ilegalidades.
Em Londres, a Reprive, entidade que defende suspeitos de terrorismo mantidos pelo governo americano em Guantánamo, disse que "é um crime destruir provas".
Stafford Smith, advogado de sete prisioneiros, afirma que a tortura torna mais difícil a abertura de julgamento, já que os réus relatariam ao Judiciário as sevícias sofridas.
Jamil Jaffer, diretor da American Civil Liberties, distribuiu comunicado em que afirma que "a CIA aparentemente acredita que seus agentes estão acima das leis" a serem respeitadas.
A Human Rights First, outro grupos de direitos humanos, afirma que a destruição das provas sobre o uso de métodos ilegais de interrogatório ocorrem no momento em que o Congresso americano estuda leis que reforcem a proibição da tortura ou do tratamento desumano de prisioneiros.


Com agências internacionais


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