São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA EXTERNA

Obama levará "cenouras e varas" à negociação com Irã

Eleito promete "diplomacia dura", aliada a "operações militares mais eficazes"

Democrata anuncia nome de general que foi crítico da condução da Guerra do Iraque para comandar Assuntos de Veteranos


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Diplomacia "dura e direta" combinada a operações militares mais eficazes darão o tom da política externa do próximo governo norte-americano. A promessa é do presidente eleito, Barack Obama, que disse ainda que oferecerá "cenouras e varas" para engajar o Irã em negociações.
Depois de repetir que era preciso deixar claro que o desenvolvimento de armas nucleares, as ameaças a Israel e o apoio a organizações radicais como o Hamas e o Hizbollah eram "inaceitáveis", o democrata disse que falaria de maneira direta e daria chance de escolha a Teerã, com quem os EUA não mantêm relações há 29 anos. Apresentará, disse, um conjunto de ações para tentar mudar a atitude do país.
Usou a frase "carrots and sticks", literalmente cenouras e varas, expressão que significa a promessa de recompensa aliada à ameaça de retaliação. A expressão remete também, no lado das ameaças, à política do "big stick" (porrete), que caracteriza a aplicação pelo presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) da Doutrina Monroe, pela qual os EUA declararam o Hemisfério Ocidental sua zona de influência.
"Em termos de cenouras, acho que podemos oferecer incentivos econômicos que ajudarão um país que, apesar de ser produtor de petróleo, está sob grande pressão, inflação imensa e muitos problemas de desemprego", disse.
"Mas também temos de nos concentrar nas varas: uma das grandes coisas que a diplomacia pode conseguir é ajudar a costurar uma coalizão com China, Índia, Rússia e outros países que fazem negócio hoje com o Irã" para aplicar sanções econômicas caso o regime se recuse a cooperar, concluiu.
Obama falava ao jornalista Tom Brokaw, do programa "Meet The Press", na terceira entrevista individual que deu à TV desde que foi eleito. De que maneira ele mudará a atual política externa americana é uma das grandes incógnitas.
Nos últimos dias, Obama anunciou seu time para a área, formado pela senadora Hillary Clinton no Departamento de Estado, o atual secretário da Defesa, Robert Gates, que manterá o cargo, e o general reformado James Jones no Conselho de Segurança Nacional. "Tenho grande confiança na habilidade da senadora de reconstruir alianças e mandar sinais fortes de que vamos nos portar de maneira diferente e enfatizar a diplomacia", disse.
À tarde, aproveitou a data, 67º aniversário do ataque a Pearl Harbor, para anunciar mais um membro de seu gabinete, o secretário de Assuntos de Veteranos. O cargo será ocupado pelo general reformado Eric Shinseki, um dos primeiros do alto escalão do Pentágono a questionar a estratégia de George W. Bush para o Iraque.
Em depoimento ao Senado um mês antes da invasão, em 2003, o então comandante do Exército disse que para manter a paz no Iraque pós-guerra seriam necessários "centenas de milhares de soldados". O então secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, o criticou -a retórica oficial era de que a guerra seria rápida e com poucas baixas.
Quando ele saiu da ativa, ainda naquele ano, Rumsfeld não foi à cerimônia de desligamento. Mas ele se provaria certo -no auge, quase 200 mil homens estiveram no Iraque- e seria adotada por Bush na escalada que promoveu em 2007 e que é parcialmente responsável pela relativa situação de calma por que o país árabe passa.
Havaiano como Obama e descendente de japoneses, o militar de 66 anos comandará a segunda maior pasta do governo, com 240 mil funcionários, que cuida de serviços de saúde e pensão para militares da ativa e veteranos. Com duas guerras, o departamento sofre com o alto número de feridos, soldados com estresse pós-traumático e recordes de suicídio.


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