São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009 |
Próximo Texto | Índice
Evo celebra vitória com ataques à oposição
Presidente boliviano promete impulsionar nova lei para investigação de fortunas; principal opositor seria um dos alvos
FLÁVIA MARREIRO ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ Reeleito presidente da Bolívia com estimados 63% dos votos, Evo Morales lançou ontem duros ataques à oposição e prometeu acelerar as mudanças no país, agora que seu partido terá ampla maioria no Legislativo em seu segundo mandato. Até o fechamento desta edição, o Conselho Nacional Eleitoral boliviano ainda não havia divulgado resultados da eleição de anteontem, quando foram escolhidos presidente e legisladores. Governo e oposição se manifestaram com base nas pesquisas de boca de urna. Se, no discurso da vitória anteontem, Morales convocou a oposição ao diálogo, ontem, em entrevista coletiva, o presidente boliviano disse que os estimados 25% dos votos obtidos pelo opositor Manfred Reyes Villa vieram da "direita dura", "neoliberal". Disse também que a frente criada pela oposição para a disputa era "uma lata de lixo da direita". E prometeu ainda que uma das leis que serão aprovadas pela nova Assembleia Plurinacional (Senado e Câmara) será sobre investigação de fortunas -cuja aplicação afetaria Reyes Villa-, ao lado de outras cem leis necessárias para a implementação na nova Constituição, de 2008. O governo já tentou passar uma lei anticorrupção, mas ela parou no Senado, que era dominado pela oposição. O fortalecido presidente boliviano decretou que não há mais polarização regional na Bolívia -as regiões do leste e sul alinhadas com a oposição, contra as demais áreas pró-governo. "Seguramente esses grupos, quando dizem que o país vai se polarizar, estão pensando em tentar um golpe de Estado." O MAS (Movimento ao Socialismo) viu crescer sua votação nas zonas opositoras e conseguiu ganhar pela primeira vez em Tarija, no sul. Mas, segundo as pesquisas de opinião, o governo perdeu em Santa Cruz, Pando e Beni -que, junto com Tarija, fizeram-lhe dura oposição desde 2006. Questionado, Morales evitou ser assertivo quanto à possibilidade de concorrer a um novo mandato em 2015. Afirmou que nunca havia pensado em uma nova reeleição, mas frisou que pode fazê-lo, uma vez que a nova Constituição permite a reeleição (uma única vez), e seu mandato que começa em janeiro seria só o primeiro sob o novo marco legal. Autonomias Morales citou a insígnia do herói indígena que lutou contra a dominação espanhola Tupac Katari, que disse ao ser assassinado: "Voltarei e serei milhões". Apesar do apelo, analistas identificam no governo um tom cada vez mais nacional-desenvolvimentista, em detrimento do discurso indigenista. A fricção entre os dois discursos deve estar presente no segundo mandato de Morales, quando serão implementados os complexos regimes de autonomia, em quatro níveis, inclusive a de municípios indígenas, previstos na nova Constituição. Na eleição de anteontem, cinco departamentos decidiram pelo regime autonômico, somando-se aos quatro bastiões da oposição que o fizeram em 2006. A região do Chaco, onde estão os dois maiores campos de gás explorados pela Petrobras, também se tornou autônoma administrativamente em relação ao departamento de Tarija. Próximo Texto: Opositor quer seguir passos de presidente Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |