|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Chile ordena prisões por morte de presidente
A seis dias da eleição presidencial, Justiça manda deter acusados de envolvimento no suposto homicídio de Eduardo Frei Montalva
Ordem sai no momento em
que chapa governista, que é
encabeçada pelo filho do
político, enfatiza direitos
humanos na campanha
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
A seis dias da eleição presidencial no Chile, a Justiça
mandou prender ontem seis
acusados de envolvimento na
morte do presidente Eduardo
Frei Montalva (1964-1970), pai
de Eduardo Frei, atual candidato governista e também ex-presidente (1994-1999).
Morto por infecção generalizada em 1982 após uma cirurgia de rotina, Montalva era à
época um dos principais críticos da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Embora na ocasião a morte tenha sido classificada como natural, Frei sempre sustentou a
hipótese de crime político.
A decisão judicial ocorre no
momento em que o governo
Michelle Bachelet e a candidatura de Frei enfatizam o tema
de direitos humanos na campanha, em tentativa de barrar o
avanço do opositor de centro-direita Sebastián Piñera, primeiro colocado nas pesquisas, e
de assegurar o voto da esquerda, dividida em três candidatos.
No último sábado, dia do funeral simbólico do cantor Víctor Jara, morto pela repressão
de Pinochet, Frei anunciou 17
propostas para a área de direitos humanos. Entre elas, a revogação da Lei de Anistia de
1978 -iniciativa quase simbólica, pois crimes da ditadura já
são julgados no país com base
em tratados internacionais.
Ontem, o candidato do governo se disse emocionado pela
decisão. Afirmou se tratar do
primeiro caso de homicídio de
um ex-presidente no país, que
marca "um antes e um depois"
na história. Pelo lado da Aliança pelo Chile, a coalizão direitista de Piñera, sempre houve
críticas a Frei de uso político da
morte do pai.
O cientista político Carlos
Huneeus disse à Folha não ver
motivação eleitoral na ordem
do juiz Alejandro Madrid. "A
Justiça tem seu ritmo. E o caso
já estava sob investigação."
Antecedentes
A investigação sobre a morte
de Montalva foi reaberta há
cerca de dez anos, por suspeitas
da família após o desaparecimento, no Uruguai, do químico
da ditadura Pinochet Eugenio
Berríos, cujos restos foram localizados em 1995. A apuração
indicou que substâncias tóxicas
como gás mostarda provocaram a morte do presidente.
Na decisão de ontem, a Justiça determinou a prisão de quatro médicos -dois da equipe
que operou Montalva por refluxo gástrico e dois que fizeram a
primeira autópsia- e de dois
homens acusados de espionar o
presidente, entre eles um ex-motorista da família Frei.
"Demonstra que no Chile a
Justiça tarda mas chega. O ex-presidente denunciou violações aos direitos humanos, e isso provavelmente lhe custou a
vida", disse Bachelet ontem.
Dona da maior aprovação popular (78%) a um presidente
desde a volta da democracia,
Bachelet vive o dilema de não
conseguir impulsionar a candidatura da Concertação, a exitosa coalizão de centro-esquerda
que governa o Chile há 20 anos.
O mandato presidencial no país
é de quatro anos, sem reeleição.
O desgaste pelos anos no poder e falta de renovação de seus
quadros -expressa na candidatura de um ex-presidente- são
apontados como fatores do recuo da esquerda no país, que foi
dividida para o pleito, com as
candidaturas de dois ex-membros da Concertação.
Uma delas, a do deputado
Marco Enríquez-Ominami, 36,
ameaça inclusive a presença de
Frei no segundo turno contra
Piñera -pela última pesquisa
do Centro de Estudos Públicos,
o direitista tem 36% das intenções de voto, contra 26% de
Frei e 19% de Ominami.
Embora a aprovação a Bachelet tenha crescido graças a
medidas de combate à crise
econômica global, o retrocesso
da Concertação se desenha, como ilustra a derrota para a direita nas eleições municipais
do ano passado.
Texto Anterior: Honduras: Amorim reitera não haver data para Zelaya deixar embaixada Próximo Texto: Irã volta a reprimir protesto da oposição Índice
|