São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

Próximo Texto | Índice

VENEZUELA

Segundo Amorim, objetivo é evitar mais confrontos; "não queremos novos focos de guerrilha nem um novo Allende", diz

Governo Lula vai cooperar com Chávez

Chico Sanchez/Reuters
Soldados disparam bombas de gás lacrimogêneo contra simpatizantes de Chávez em Caracas


ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil vai manter uma relação de cooperação com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. A cooperação, disse o ministro, não é para favorecer nenhum lado em conflito no país, mas para evitar um agravamento do confronto.
Para tentar encontrar uma solução para a crise política venezuelana, o Brasil vai defender a criação de um "grupo de amigos" que ajudaria a OEA (Organização dos Estados Americanos) a intermediar o diálogo no país.
A criação desse grupo deve ser proposta aos demais países da região durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Equador. Lula assistirá à posse do presidente eleito equatoriano, Lucio Gutiérrez, no dia 15. Segundo a agência de notícias France Presse, Chávez deverá comparecer.
Amorim já manteve conversas com o secretário-geral da OEA, César Gaviria, e com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, sobre o tema. Anteontem, o ministro também falou com o secretário de Estado dos EUA, Collin Powell.
O "grupo de amigos" poderá também ter delegados europeus. "Queremos aumentar o número de instrumentos de que ele [Gaviria] dispõe para persuadir um lado e o outro", disse Amorim. Gaviria é o atual mediador da negociação entre Chávez e oposição.
"O Brasil tem insistido em manter uma relação normal de cooperação com o governo constitucional", disse Amorim. "[A cooperação] tem o objetivo de evitar que se criem condições para um confronto ainda maior." No mês passado, o Brasil enviou gasolina à Venezuela a pedido de Chávez.
A greve organizada pela oposição, que já dura mais de um mês, atingiu o setor petrolífero, vital para a economia do país. A ajuda brasileira foi interpretada por alguns analistas e pela oposição venezuelana como uma forma de favorecer Chávez na disputa.
"O fornecimento de gasolina, que nos foi pedido, é uma coisa normal entre Estados legitimamente constituídos e não tem por objetivo favorecer nenhum dos lados", afirma Amorim.
O chanceler disse que o Brasil é contra a antecipação das eleições na Venezuela, como quer a oposição a Chávez. "Essa idéia de antecipar as eleições, uma idéia por cima da Constituição e por cima da vontade do presidente Hugo Chávez, é uma proposta complicada e pode não resolver nada e criar outra situação igualmente grave."
Segundo Amorim, é preciso encontrar uma saída que não coloque nenhum dos dois lados contra a parede, o que levaria a uma escalada do conflito no país.
"Não queremos que se crie uma situação de novos focos de guerrilha nem queremos um novo Allende [Salvador Allende, presidente socialista do Chile deposto no golpe militar de 1973] na América Latina", disse ele.
O Brasil acompanha o conflito na Venezuela com grande preocupação. Além de criar instabilidades políticas na região, a crise no vizinho tem pressionado o preço do petróleo num momento delicado. A iminência de um ataque dos EUA ao Iraque já provoca efeitos negativos no mercado de petróleo.
Segundo Amorim, uma solução da crise venezuelana está inserida na estratégia brasileira para enfrentar um período de escassez de petróleo, que poderá ocorrer com a guerra ao Iraque. A Venezuela é um dos principais produtores de petróleo do mundo.


Próximo Texto: Petrobras diz que não recebeu pedido de ajuda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.