São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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TURQUIA

Agca ficou preso 19 anos na Itália; foi extraditado para Istambul, onde cumpria pena por assassinato de jornalista

Homem que atirou em João Paulo 2º será solto quinta

DA REDAÇÃO

Mehmet Ali Agca, que em 1981 atirou contra João Paulo 2º na praça São Pedro e o feriu gravemente, deverá ser libertado quinta-feira da penitenciária de Istambul, na qual permanece preso por outros crimes. O Vaticano não quis comentar. O porta-voz, Joaquin Navarro-Valls, afirmou em breve nota que "se atém às decisões dos tribunais competentes".
Agca, hoje com 47 anos, permaneceu preso na Itália por 19 anos, pena à qual foi condenado em razão do atentado contra o papa. Ele foi em seguida extraditado para a Turquia, país do qual é cidadão e no qual passou a cumprir sentenças por três outras condenações anteriores a sua chegada à Itália.
Em 1983 o papa o visitou na prisão italiana de Rebibbia, rezou em sua companhia e disse que o perdoava pelo atentado. Seqüelas do tiro recebido no abdome afetaram a saúde de João Paulo 2º até sua morte, no ano passado.
A informação da iminente soltura de Agca foi dada pela agência oficiosa Anatolia. Segundo ela, um tribunal turco constatou que ele poderia se beneficiar do regime de liberdade condicional.
Mas o advogado de Agca reagiu de início com surpresa. Só mais tarde Dogan Yildirin confirmaria que a soltura ocorreria no dia 12. "É uma decisão correta, porque meu cliente está preso já há muitos anos." Pelas primeiras informações, ele poderia deixar ainda hoje a penitenciárias de Istambul.
A irmã de Agca também recebeu a informação com surpresa. "Não ouvimos falar sobre o assunto". A família dele mora em Malatya, no sudeste do país.
Ao ser libertado, na quinta, Agca deverá se apresentar a um posto de recrutamento militar. Ele não prestou o serviço militar obrigatório. A agência Anatolia disse que, em tese, ele precisaria agora fazê-lo.
Antes do atentado em Roma, Agca já havia sido condenado em Istambul por um assalto a banco, por um roubo e por ter assassinado o jornalista Abdi Ipekci.
Ipekci era um dos mais conhecidos colunistas da esquerda turca. Agca era simpatizante do grupo paramilitar Lobos Cinzas, de extrema direita, que no final dos anos 70 agredia participantes de passeatas estudantis.
Suas afinidades ideológicas com os órgãos de segurança facilitaram sua fuga da prisão em 1979, diz a agência Reuters. Mas o governo sempre negou cumplicidade com "esse desequilibrado".
Foragido, ele reapareceria em Roma e se notabilizaria por atentar contra a vida de João Paulo 2º. Na época, rumores próprios à Guerra Fria afirmavam que o atentado havia sido planejado pela União Soviética e pela Polônia.
A hipótese era verossímil, na medida em que o papa, nascido na Polônia, se opunha ao regime comunista polonês. Moscou considerava que João Paulo 2º era um sério fator de desestabilização política do Leste Europeu.
Há dois anos, a Justiça turca determinou que Agca, já repatriado, só cumprisse a pena mais longa entre as três condenações ainda pendentes, aquela pelo assassinato do jornalista.
O advogado de Agca solicitou há semanas sua liberdade condicional, com base numa legislação penal mais liberal que a Turquia recentemente adotou. Era uma resposta a essa solicitação que o advogado estava esperando.
Pela legislação anterior, ele deveria cumprir pena de prisão perpétua pela morte de Abdi Ipekci.
A Turquia procura adaptar suas leis aos padrões menos draconianos que vigoram na União Européia, bloco ao qual é candidata.


Com agências internacionais

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