São Paulo, domingo, 09 de janeiro de 2011

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Voto no Sudão deve alterar mapa-múndi

Sob tensão, habitantes da região sul do maior país africano vão hoje às urnas em referendo de independência

Consulta é parte de acordo de paz que pôs fim a um conflito de 22 anos que deixou mais de 2 milhões de mortos

Jerónimo Giorgi/Folhapress
Crianças em Juba, região sul do Sudão, com a bandeira nacional; país deve nascer com índices alarmantes de pobreza e quase sem estrutura de transporte, energia e comunicações

JERÓNIMO GIORGI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM JUBA (SUDÃO)


Seis anos depois do acordo de paz que pôs fim à guerra civil entre o Exército do Sudão e rebeldes sulistas do SPLA (Exército Popular de Libertação do Sudão), sudaneses de raça negra e religião cristã ou animista contam os dias para a independência.
Hoje, começa o referendo de uma semana que levará, segundo a expectativa, à divisão do maior país da África.
Não há pesquisas confiáveis, mas o sentimento em Juba, capital do sul, é claramente pró-separação.
Para isso ocorrer, no entanto, o quorum precisa ser de 60%, o que não é simples numa região do tamanho de Minas Gerais e praticamente sem estradas.
Pela capital local, a mão levantada virou um símbolo, representando o voto pela separação na cédula, um ícone gráfico pensado para uma região em que o analfabetismo adulto chega a 75%.
A outra opção é um desenho com as mãos apertadas, que significam a unidade.
Em uma destas alternativas, terão que votar os 3,9 milhões de sudaneses registrados quando pressionarem seu polegar.
A Comissão de Referendo diz que "está 100% preparada", e que o resultado será anunciado até 22 de janeiro.
"Esta é a forma de demonstrar que não somos cidadãos de segunda classe", afirma Lual Adal, parlamentar na Assembleia do sul.
A região goza de autonomia desde os acordos de 2005, que encerraram uma guerra que deixou 2 milhões de mortos. "Estamos votando pelo resto de nossas vidas", diz ele.

RISCOS
No sul, mais de 50% da população vive com menos de US$ 1 por dia, e a infraestrutura é quase inexistente.
A região conta com enormes reservas de petróleo, que até o momento têm sido repartidas com o governo central. Este, contudo, pode se tornar um problema.
Teme-se que o governo central, de maioria árabe, não respeite o resultado.
O ditador sudanês Omar Bashir disse anteontem que o o sul não está pronto para se tornar um Estado. Ontem, um confronto entre grupos rebeles e forças militares deixaram nove mortos.
Se o voto for pela independência, haverá um período de adaptação de seis meses, até que nasça para valer o 193º país do mundo.
Apesar das carências, os sul-sudaneses chegam ao referendo em um ambiente tenso, mas sem episódios significativos de violência na campanha. "Estamos todos juntos e seremos um bom exemplo", disse Adal.
O nome da nova nação é uma incógnita. Pode ser Sudão do Sul ou Kush, nome de uma das primeiras civilizações da região sul do rio Nilo, que se desenvolveu por volta de 1500 a.C.


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