UOL


São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

Próximo Texto | Índice

IRAQUE NA MIRA

Secretário-geral da ONU diz que só Conselho de Segurança pode ordenar ataque; inspetores-chefes chegam a Bagdá

Annan rechaça ação unilateral dos EUA

DA REDAÇÃO

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, condenou ontem uma ação unilateral dos EUA contra o Iraque e disse que só o Conselho de Segurança (CS) da ONU poderá autorizar uma ação militar.
O uso da força militar para impor resoluções da ONU "é um assunto que deve ser considerado não por apenas um Estado, mas pela comunidade internacional em seu conjunto", afirmou Annan, em discurso a estudantes no aniversário de 310 anos de uma conhecida universidade em Virgínia (costa leste dos EUA).
"Quando Estados decidem usar a força, não em autodefesa, mas para lidar com ameaças à paz e à segurança internacionais, não há substituto para a legitimidade única do Conselho de Segurança das Nações Unidas", afirmou.
Ele disse que, se ficar comprovado que o Iraque não vai colaborar com a ONU para seu desarmamento total, o CS terá de "assumir suas responsabilidades" e tomar uma decisão ainda mais complexa do que em 1990, quando autorizou uma ação militar para forçar o Iraque a desocupar o Kuait.
Mas, segundo Annan, o uso da força só deve ser autorizado se todas as outras opções para desarmar o país estiverem esgotadas.
Ele se referiu à viagem iniciada ontem pelos chefes dos inspetores da ONU a Bagdá como um momento importante para o Iraque demonstrar que vai colaborar ativamente. O sueco Hans Blix e o egípcio Mohamed El Baradei se reuniram com autoridades iraquianas no Ministério das Relações Exteriores. Blix qualificou as primeiras conversas de "muito úteis, muito substanciais".
Na próxima sexta-feira, eles apresentarão relatórios ao CS sobre os resultados das inspeções. Caso eles digam que o Iraque não está colaborando, os EUA e o Reino Unido, favoráveis a um ataque, terão maior poder de pressão sobre outros membros do CS que defendem a continuação das inspeções, em especial França, Rússia e China (com poder de veto).
Em conversas previstas para durar dois dias, Blix e Baradei exigirão progressos em três áreas:
1) Querem garantias de que o Iraque não atacará aviões americanos U-2 em missões de reconhecimento sobre o país com o objetivo de localizar armas;
2) Pretendem convencer o Iraque a facilitar entrevistas com cientistas iraquianos sem o monitoramento do governo. Na última sexta, os inspetores entrevistaram quatro cientistas a sós, num sinal de que o Iraque deverá ceder;
3) A ONU quer que o Iraque aprove uma lei banindo armas de destruição em massa no país.
Desde 1991, com o cessar-fogo da Guerra do Golfo, o Iraque se comprometeu a abrir mão de suas armas de destruição em massa.
Nos anos 90, parte das armas biológicas e químicas iraquianas foi destruída pela ONU. O programa nuclear também foi em grande parte desmantelado. Mas os inspetores querem ver provas inquestionáveis de que todas as armas do tipo foram destruídas.
"Faremos melhor para fazer dessa visita um sucesso", disse o general iraquiano Hossam Mohamed Amin, responsável por lidar com as equipes da ONU.
Segundo a revista alemã "Der Spiegel", França e Alemanha preparam um plano para fortalecer o regime de inspeções. A proposta, que poderá ser apresentada ao CS da ONU como uma nova resolução, incluiria o envio de tropas de paz internacionais ao Iraque, vôos de reconhecimento sobre o país e o endurecimento das sanções econômicas. Membros do CS discutiam ontem alternativas para fortalecer as inspeções.
Ontem, o papa João Paulo 2º fez um apelo contra a guerra. "Temos de multiplicar nossos esforços. Não podemos ficar parados diante de ataques terroristas ou das ameaças que estão no horizonte. Não podemos nos resignar como se a guerra fosse inevitável", disse. Na sexta, ele receberá o vice-premiê iraquiano, Tareq Aziz.
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, ameaçou, em seu programa de rádio, com uso da força militar: "Os EUA tomarão qualquer medida que seja necessária para nos proteger e desarmar o regime iraquiano".


Com agências internacionais

Próximo Texto: Rumsfeld pede "maior coalizão da história"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.