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IRAQUE NA MIRA
Secretário-geral da ONU diz que só Conselho de Segurança pode ordenar ataque; inspetores-chefes chegam a Bagdá
Annan rechaça ação unilateral dos EUA
DA REDAÇÃO
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, condenou ontem uma
ação unilateral dos EUA contra o
Iraque e disse que só o Conselho
de Segurança (CS) da ONU poderá autorizar uma ação militar.
O uso da força militar para impor resoluções da ONU "é um assunto que deve ser considerado
não por apenas um Estado, mas
pela comunidade internacional
em seu conjunto", afirmou Annan, em discurso a estudantes no
aniversário de 310 anos de uma
conhecida universidade em Virgínia (costa leste dos EUA).
"Quando Estados decidem usar
a força, não em autodefesa, mas
para lidar com ameaças à paz e à
segurança internacionais, não há
substituto para a legitimidade
única do Conselho de Segurança
das Nações Unidas", afirmou.
Ele disse que, se ficar comprovado que o Iraque não vai colaborar com a ONU para seu desarmamento total, o CS terá de "assumir
suas responsabilidades" e tomar
uma decisão ainda mais complexa do que em 1990, quando autorizou uma ação militar para forçar o Iraque a desocupar o Kuait.
Mas, segundo Annan, o uso da
força só deve ser autorizado se todas as outras opções para desarmar o país estiverem esgotadas.
Ele se referiu à viagem iniciada
ontem pelos chefes dos inspetores
da ONU a Bagdá como um momento importante para o Iraque
demonstrar que vai colaborar ativamente. O sueco Hans Blix e o
egípcio Mohamed El Baradei se
reuniram com autoridades iraquianas no Ministério das Relações Exteriores. Blix qualificou as
primeiras conversas de "muito
úteis, muito substanciais".
Na próxima sexta-feira, eles
apresentarão relatórios ao CS sobre os resultados das inspeções.
Caso eles digam que o Iraque não
está colaborando, os EUA e o Reino Unido, favoráveis a um ataque,
terão maior poder de pressão sobre outros membros do CS que
defendem a continuação das inspeções, em especial França, Rússia e China (com poder de veto).
Em conversas previstas para
durar dois dias, Blix e Baradei exigirão progressos em três áreas:
1) Querem garantias de que o
Iraque não atacará aviões americanos U-2 em missões de reconhecimento sobre o país com o
objetivo de localizar armas;
2) Pretendem convencer o Iraque a facilitar entrevistas com
cientistas iraquianos sem o monitoramento do governo. Na última
sexta, os inspetores entrevistaram
quatro cientistas a sós, num sinal
de que o Iraque deverá ceder;
3) A ONU quer que o Iraque
aprove uma lei banindo armas de
destruição em massa no país.
Desde 1991, com o cessar-fogo
da Guerra do Golfo, o Iraque se
comprometeu a abrir mão de suas
armas de destruição em massa.
Nos anos 90, parte das armas
biológicas e químicas iraquianas
foi destruída pela ONU. O programa nuclear também foi em grande parte desmantelado. Mas os
inspetores querem ver provas inquestionáveis de que todas as armas do tipo foram destruídas.
"Faremos melhor para fazer
dessa visita um sucesso", disse o
general iraquiano Hossam Mohamed Amin, responsável por lidar
com as equipes da ONU.
Segundo a revista alemã "Der
Spiegel", França e Alemanha preparam um plano para fortalecer o
regime de inspeções. A proposta,
que poderá ser apresentada ao CS
da ONU como uma nova resolução, incluiria o envio de tropas de
paz internacionais ao Iraque,
vôos de reconhecimento sobre o
país e o endurecimento das sanções econômicas. Membros do
CS discutiam ontem alternativas
para fortalecer as inspeções.
Ontem, o papa João Paulo 2º fez
um apelo contra a guerra. "Temos
de multiplicar nossos esforços.
Não podemos ficar parados diante de ataques terroristas ou das
ameaças que estão no horizonte.
Não podemos nos resignar como
se a guerra fosse inevitável", disse.
Na sexta, ele receberá o vice-premiê iraquiano, Tareq Aziz.
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, ameaçou, em seu
programa de rádio, com uso da
força militar: "Os EUA tomarão
qualquer medida que seja necessária para nos proteger e desarmar o regime iraquiano".
Com agências internacionais
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