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AMÉRICA LATINA
Desilusão popular e rachas marcam a campanha para a votação de abril; analistas prevêem governo fraco
Caos domina eleição presidencial na Argentina
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
A menos de três meses das eleições presidenciais, os dois principais partidos argentinos não têm
candidatos oficiais. Nenhum candidato tem mais do que 17% das
intenções de voto -votos em
branco e nulos chegariam hoje a
34,5%. As previsões são de grande
abstenção, brigas judiciais prolongadas e racha de partidos. O
resultado: um governo fraco que
deve se transformar em uma administração de transição, à espera
de um candidato que agregue as
forças políticas argentinas.
"As prioridades da opinião pública são o desemprego, a corrupção, a insegurança. Enquanto isso, a luta política se concentra sobre si mesma, discutindo [eleições" internas e candidaturas",
diz Rosendo Fraga, analista do
Centro de Estudos Nova Maioria.
Dois em cada três argentinos
continuam apoiando o movimento "fora todos", alusão ao desejo de que todos os dirigentes argentinos deixem o poder. A previsão dos analistas é que o voto
"bronca", soma de brancos e nulos, chegue aos 40%. Nem todos
os partidários do "fora todos"
anulam o voto. "Há uma parte
importante que vota pelo "mal
menor", para impedir que um
candidato ganhe", explica Fraga.
O desinteresse popular pelo
processo político surgiu com a revolta que derrubou o presidente
Fernando de la Rúa em dezembro
de 2001. Nos últimos meses, os
partidos políticos não colaboraram para diminuir o ceticismo
popular.
Os dois maiores partidos ainda
não definiram suas candidaturas.
No PJ (Partido Justicialista, peronista, no poder), três candidatos
brigam para representar a legenda: os ex-presidentes Carlos Menem (1989-99), Adolfo Rodríguez
Saá (ocupou o cargo por uma semana em 2001) e Néstor Kirchner,
governador de Santa Cruz.
As eleições internas do PJ deveriam ter ocorrido em dezembro.
O próprio presidente Eduardo
Duhalde participou de articulações políticas para impedi-las.
Inimigo político de Menem, Duhalde, que apóia Kirchner, quer
impedir que o ex-presidente represente o PJ sozinho, caso em
que teria mais chances de chegar
ao segundo turno.
Os correligionários de Duhalde
organizaram um congresso partidário em que se aprovou uma nova regra eleitoral para o partido:
não se realizarão internas, e os
três pré-candidatos concorrerão
pelo PJ. Menem reagiu, recorreu à
Justiça, e a decisão agora depende
da Suprema Corte.
O segundo maior partido do
país, a UCR (União Cívica Radical), queria aproveitar o conflito
do PJ, realizar suas próprias eleições internas e usá-las como indicador de seriedade. A votação
ocorreu há mais de um mês. Os
dois pré-candidatos começaram a
acusar-se de fraude, e a decisão
também dependerá da Justiça,
que ordenou novas votações em
várias Províncias.
De fora
Elisa Carrió, do ARI (Argentina
por uma República de Iguais), e
Ricardo Lopez Murphy, do MFR
(Movimento Federal Recriar) assistem às brigas intermináveis,
criticam os candidatos do PJ e
correm contra o tempo para chegar ao segundo turno. A intenção
de voto dos dois subiu nas últimas
pesquisas. Mas ainda existe a
chance de que dois candidatos do
PJ passem para o segundo turno.
Ainda assim, ninguém se atreve
a fazer previsões taxativas sobre o
que ocorrerá em abril. "Faltam
menos de dois meses para o primeiro turno. Mas está tudo muito
indefinido ainda", diz o analista
político Ricardo Rouvier.
Ainda que passem para o segundo turno, Murphy e Carrió terão de brigar contra toda a máquina partidária do PJ, que conta
com o apoio de 16 governadores e
centenas de prefeitos.
Eles se dariam melhor, dizem os
analistas, caso tivessem de enfrentar Menem. "Um segundo turno
entre Carrió e um justicialista seria muito disputado, sendo Menem o candidato mais fraco", avalia Rouvier, que lembra que mais
da metade dos argentinos diz que
nunca mais votaria no ex-presidente. Quem quer que ganhe, diz
Rouvier, dirigirá um governo "de
transição, com problemas graves
para enfrentar; fraco, que terá de
fazer alianças". Na sua avaliação,
o próximo governo terá uma tarefa árdua: é preciso combater a pobreza, renegociar a dívida externa, fazer o país voltar a crescer, sanear os bancos. Tudo com escasso
apoio popular.
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