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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Desilusão popular e rachas marcam a campanha para a votação de abril; analistas prevêem governo fraco

Caos domina eleição presidencial na Argentina

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

A menos de três meses das eleições presidenciais, os dois principais partidos argentinos não têm candidatos oficiais. Nenhum candidato tem mais do que 17% das intenções de voto -votos em branco e nulos chegariam hoje a 34,5%. As previsões são de grande abstenção, brigas judiciais prolongadas e racha de partidos. O resultado: um governo fraco que deve se transformar em uma administração de transição, à espera de um candidato que agregue as forças políticas argentinas.
"As prioridades da opinião pública são o desemprego, a corrupção, a insegurança. Enquanto isso, a luta política se concentra sobre si mesma, discutindo [eleições" internas e candidaturas", diz Rosendo Fraga, analista do Centro de Estudos Nova Maioria.
Dois em cada três argentinos continuam apoiando o movimento "fora todos", alusão ao desejo de que todos os dirigentes argentinos deixem o poder. A previsão dos analistas é que o voto "bronca", soma de brancos e nulos, chegue aos 40%. Nem todos os partidários do "fora todos" anulam o voto. "Há uma parte importante que vota pelo "mal menor", para impedir que um candidato ganhe", explica Fraga.
O desinteresse popular pelo processo político surgiu com a revolta que derrubou o presidente Fernando de la Rúa em dezembro de 2001. Nos últimos meses, os partidos políticos não colaboraram para diminuir o ceticismo popular.
Os dois maiores partidos ainda não definiram suas candidaturas. No PJ (Partido Justicialista, peronista, no poder), três candidatos brigam para representar a legenda: os ex-presidentes Carlos Menem (1989-99), Adolfo Rodríguez Saá (ocupou o cargo por uma semana em 2001) e Néstor Kirchner, governador de Santa Cruz.
As eleições internas do PJ deveriam ter ocorrido em dezembro. O próprio presidente Eduardo Duhalde participou de articulações políticas para impedi-las. Inimigo político de Menem, Duhalde, que apóia Kirchner, quer impedir que o ex-presidente represente o PJ sozinho, caso em que teria mais chances de chegar ao segundo turno.
Os correligionários de Duhalde organizaram um congresso partidário em que se aprovou uma nova regra eleitoral para o partido: não se realizarão internas, e os três pré-candidatos concorrerão pelo PJ. Menem reagiu, recorreu à Justiça, e a decisão agora depende da Suprema Corte.
O segundo maior partido do país, a UCR (União Cívica Radical), queria aproveitar o conflito do PJ, realizar suas próprias eleições internas e usá-las como indicador de seriedade. A votação ocorreu há mais de um mês. Os dois pré-candidatos começaram a acusar-se de fraude, e a decisão também dependerá da Justiça, que ordenou novas votações em várias Províncias.

De fora
Elisa Carrió, do ARI (Argentina por uma República de Iguais), e Ricardo Lopez Murphy, do MFR (Movimento Federal Recriar) assistem às brigas intermináveis, criticam os candidatos do PJ e correm contra o tempo para chegar ao segundo turno. A intenção de voto dos dois subiu nas últimas pesquisas. Mas ainda existe a chance de que dois candidatos do PJ passem para o segundo turno.
Ainda assim, ninguém se atreve a fazer previsões taxativas sobre o que ocorrerá em abril. "Faltam menos de dois meses para o primeiro turno. Mas está tudo muito indefinido ainda", diz o analista político Ricardo Rouvier.
Ainda que passem para o segundo turno, Murphy e Carrió terão de brigar contra toda a máquina partidária do PJ, que conta com o apoio de 16 governadores e centenas de prefeitos.
Eles se dariam melhor, dizem os analistas, caso tivessem de enfrentar Menem. "Um segundo turno entre Carrió e um justicialista seria muito disputado, sendo Menem o candidato mais fraco", avalia Rouvier, que lembra que mais da metade dos argentinos diz que nunca mais votaria no ex-presidente. Quem quer que ganhe, diz Rouvier, dirigirá um governo "de transição, com problemas graves para enfrentar; fraco, que terá de fazer alianças". Na sua avaliação, o próximo governo terá uma tarefa árdua: é preciso combater a pobreza, renegociar a dívida externa, fazer o país voltar a crescer, sanear os bancos. Tudo com escasso apoio popular.


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