|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMÉRICA LATINA
Ameaçado de sofrer impeachment nesta terça, Macchi diz à Folha que é vítima dos "pescadores do rio revolto"
Presidente paraguaio diz que é inocente
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O presidente do Paraguai, Luis
González Macchi, que enfrenta na
terça-feira a votação de um pedido de impeachment no Senado,
por acusações de corrupção e
mau desempenho, diz ter convicção de que será absolvido.
Em entrevista concedida à Folha por e-mail, González Macchi
se diz inocente das acusações e
afirma que o pedido é motivado
por "ambições pessoais" e "ódio
político". Com mandato até 15 de
agosto deste ano, o presidente diz
aceitar antecipar a entrega do cargo para o vencedor da eleição do
dia 27 de abril "se houver um
acordo entre os partidos".
Questionado sobre o ex-general
Lino Oviedo, a quem acusa de haver tentado desestabilizá-lo por
diversas vezes, González Macchi
evitou citá-lo pelo nome, referindo-se apenas ao "ex-militar condenado pela Justiça" ou "esse homem responsável por atos golpistas". Oviedo, condenado por uma
tentativa de golpe em 1996, está
exilado no Brasil desde 2000.
Folha - O sr. acredita que será absolvido na terça-feira?
Luis González Macchi - Eu acredito que as provas contundentes
que meus advogados apresentaram para destruir a acusação, carente de fundamentos, determinarão que eu seja absolvido. Sinto
a tranquilidade daquele que está
em posse da verdade.
Folha - O pedido de impeachment, já aprovado pelos deputados, o acusa de corrupção e de mau
desempenho das funções. O que o
sr. diz sobre as acusações?
González Macchi - Minha defesa
pôs a nu a falsidade das acusações. Como chefe de Estado eu
adotei numerosas medidas contra
a corrupção, fenômeno ante o
qual não está imune nenhum Estado da orbe. É um flagelo de dimensão mundial.
Folha - Nicanor Duarte Frutos,
presidente do Partido Colorado e
candidato à Presidência da República, declarou há algumas semanas que o sr. deveria renunciar. O
sr. pretende renunciar? A falta de
apoio dentro de seu partido não
torna mais difícil uma absolvição?
González Macchi - O doutor
Duarte Frutos já declarou à imprensa que não tem interesse no
julgamento político contra minha
pessoa, porque ele está sendo alimentado com outras intenções,
num total desvirtuamento do fim
de tal julgamento.
Eu não renunciarei. Tenho caráter para lutar, tormentas não me
assustam e, sobretudo, tenho firmeza para defender a verdade
contra seus ousados inimigos.
Se todas as forças políticas entrarem em acordo, não terei inconveniente em entregar o cargo
de primeiro mandatário, mesmo
antes de 15 de agosto, ao cidadão
que seja proclamado em tal caráter nas eleições de 27 de abril próximo. Aceito qualquer proposta
que respeite a Constituição nacional. Qualquer saída política por
via constitucional.
Folha - O sr. acha que o ex-general Lino Oviedo está trabalhando
pela aprovação do impeachment?
Ele tem força política no Paraguai?
González Macchi - Atrás desse
julgamento político estão todos
os pescadores de rio revolto, todos os que não podem controlar
suas ambições pessoais e os tenazes porta-vozes do ódio político
que não querem que vivamos em
uma atmosfera de fraternidade
construtiva regida pelo direito.
Em relação à sua pergunta sobre
o ex-militar condenado pela Justiça paraguaia, posso dizer que tem
seguidores que não representam
uma força política poderosa, segundo reiteradas pesquisas.
Folha - Em julho, Oviedo foi acusado de incitar, do Brasil, manifestações contra o seu governo, o que
levou o Itamaraty a adverti-lo sobre uma possível expulsão caso
realizasse reuniões políticas no
país. O sr. acha que o governo brasileiro está controlando Oviedo? O
sr. tem queixas em relação à Justiça brasileira por não ter aprovado o
pedido de extradição de Oviedo?
González Macchi - Esse homem,
responsável por atos golpistas
contra o Estado de Direito que
nós paraguaios soubemos evitar,
segue alentando propósitos e planos desestabilizadores, mas fracassa e seguirá fracassando em
seu empenho que não é próprio
de autênticos democratas.
Com o governo da irmã nação
brasileira temos sabido conduzir
esse tema no marco de nossas relações normais. Esse tema não
implica nenhum grave risco para
as instituições livres, que têm sua
fortaleza na consciência do povo
paraguaio.
Texto Anterior: Rússia: Moscou estréia show após invasão de rebeldes Próximo Texto: Analistas não acreditam em afastamento Índice
|