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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Ameaçado de sofrer impeachment nesta terça, Macchi diz à Folha que é vítima dos "pescadores do rio revolto"

Presidente paraguaio diz que é inocente

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

O presidente do Paraguai, Luis González Macchi, que enfrenta na terça-feira a votação de um pedido de impeachment no Senado, por acusações de corrupção e mau desempenho, diz ter convicção de que será absolvido.
Em entrevista concedida à Folha por e-mail, González Macchi se diz inocente das acusações e afirma que o pedido é motivado por "ambições pessoais" e "ódio político". Com mandato até 15 de agosto deste ano, o presidente diz aceitar antecipar a entrega do cargo para o vencedor da eleição do dia 27 de abril "se houver um acordo entre os partidos".
Questionado sobre o ex-general Lino Oviedo, a quem acusa de haver tentado desestabilizá-lo por diversas vezes, González Macchi evitou citá-lo pelo nome, referindo-se apenas ao "ex-militar condenado pela Justiça" ou "esse homem responsável por atos golpistas". Oviedo, condenado por uma tentativa de golpe em 1996, está exilado no Brasil desde 2000.

Folha - O sr. acredita que será absolvido na terça-feira?
Luis González Macchi -
Eu acredito que as provas contundentes que meus advogados apresentaram para destruir a acusação, carente de fundamentos, determinarão que eu seja absolvido. Sinto a tranquilidade daquele que está em posse da verdade.

Folha - O pedido de impeachment, já aprovado pelos deputados, o acusa de corrupção e de mau desempenho das funções. O que o sr. diz sobre as acusações?
González Macchi -
Minha defesa pôs a nu a falsidade das acusações. Como chefe de Estado eu adotei numerosas medidas contra a corrupção, fenômeno ante o qual não está imune nenhum Estado da orbe. É um flagelo de dimensão mundial.

Folha - Nicanor Duarte Frutos, presidente do Partido Colorado e candidato à Presidência da República, declarou há algumas semanas que o sr. deveria renunciar. O sr. pretende renunciar? A falta de apoio dentro de seu partido não torna mais difícil uma absolvição?
González Macchi -
O doutor Duarte Frutos já declarou à imprensa que não tem interesse no julgamento político contra minha pessoa, porque ele está sendo alimentado com outras intenções, num total desvirtuamento do fim de tal julgamento.
Eu não renunciarei. Tenho caráter para lutar, tormentas não me assustam e, sobretudo, tenho firmeza para defender a verdade contra seus ousados inimigos.
Se todas as forças políticas entrarem em acordo, não terei inconveniente em entregar o cargo de primeiro mandatário, mesmo antes de 15 de agosto, ao cidadão que seja proclamado em tal caráter nas eleições de 27 de abril próximo. Aceito qualquer proposta que respeite a Constituição nacional. Qualquer saída política por via constitucional.

Folha - O sr. acha que o ex-general Lino Oviedo está trabalhando pela aprovação do impeachment? Ele tem força política no Paraguai?
González Macchi -
Atrás desse julgamento político estão todos os pescadores de rio revolto, todos os que não podem controlar suas ambições pessoais e os tenazes porta-vozes do ódio político que não querem que vivamos em uma atmosfera de fraternidade construtiva regida pelo direito.
Em relação à sua pergunta sobre o ex-militar condenado pela Justiça paraguaia, posso dizer que tem seguidores que não representam uma força política poderosa, segundo reiteradas pesquisas.

Folha - Em julho, Oviedo foi acusado de incitar, do Brasil, manifestações contra o seu governo, o que levou o Itamaraty a adverti-lo sobre uma possível expulsão caso realizasse reuniões políticas no país. O sr. acha que o governo brasileiro está controlando Oviedo? O sr. tem queixas em relação à Justiça brasileira por não ter aprovado o pedido de extradição de Oviedo?
González Macchi -
Esse homem, responsável por atos golpistas contra o Estado de Direito que nós paraguaios soubemos evitar, segue alentando propósitos e planos desestabilizadores, mas fracassa e seguirá fracassando em seu empenho que não é próprio de autênticos democratas.
Com o governo da irmã nação brasileira temos sabido conduzir esse tema no marco de nossas relações normais. Esse tema não implica nenhum grave risco para as instituições livres, que têm sua fortaleza na consciência do povo paraguaio.


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