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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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Analistas não acreditam em afastamento

DA REDAÇÃO

Apesar da grande impopularidade do presidente Luis González Macchi e das fortes acusações de corrupção que pesam contra ele, a maioria dos analistas políticos paraguaios não acredita na possibilidade de o pedido de impeachment ser aprovado no Senado.
Um dos argumentos contra o afastamento apontado pelos analistas é o fato de as eleições presidenciais estarem marcadas para o dia 27 de abril, em menos de três meses, e a posse do próximo presidente para o dia 15 de agosto. O próprio González Macchi diz que aceitaria transmitir o cargo ao sucessor logo após as eleições, o que pode indicar um acordo para evitar seu afastamento.
"Razões para o afastamento até existem, mas a questão é que é melhor esperar do que afastar um presidente quando faltam menos de três meses para as eleições", disse à Folha o analista José Nicolás Morinigo, professor de teoria política da Universidade Católica de Assunção e diretor do Gabinete de Estudos de Opinião. "Há um consenso de que o presidente não será afastado, o que explica a ausência de um clima de tensão política no país", afirmou.
González Macchi é acusado, entre outras coisas, pelo uso de um BMW roubado no Brasil, pelo desvio de US$ 16 milhões de dois bancos em liquidação para uma conta no exterior de uma fundação presidida por sua irmã e pelo espancamento de dois membros do partido esquerdista Patria Libre, em janeiro do ano passado.
A defesa do presidente nega as acusações e diz que o pedido de impeachment tem motivações políticas. "Ele não será destituído", disse à Folha o advogado de defesa Osvaldo Bergonzi. "Os acusadores não mostraram uma só prova para responsabilizar o presidente."
Até agora nenhum líder político paraguaio de expressão saiu publicamente em defesa do presidente, nem mesmo em sua agremiação política, o Partido Colorado, que tem maioria na Câmara e no Senado.
O presidente do Partido Colorado e candidato presidencial na eleição de abril, Nicanor Duarte Frutos, chegou a afirmar, há algumas semanas, que ia trabalhar para "apressar" a renúncia do presidente. Segundo reportagens publicadas na semana passada em jornais paraguaios, ele e González Macchi não se falam há três meses.
Para Morinigo, a impopularidade de González Macchi e a grave crise econômica por que passa o país o tornam uma figura indesejada entre os demais políticos, o que explica o discurso inamistoso em relação a ele. "Ninguém quer defender publicamente o presidente, porque ele pode tirar votos", diz. "Eles atacam publicamente, mas, na hora de votar, votam contra o afastamento."
Outra questão que conta contra o impeachment é a má reputação do senador Juan Carlos Galaverna, presidente do Congresso e substituto imediato de González Macchi. Galaverna também pertence ao Partido Colorado. "Ninguém quer trocar seis por meia dúzia", afirma Morinigo. (RW)



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