São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Praça lotada rejeita promessas de ditador

Mubarak acena com mudança constitucional; aparição de diretor do Google após 12 dias preso dá novo fôlego a protesto

Estima-se que cerca de 300 mil pessoas tenham participado de novo ato no Cairo; parte do grupo rumou ao Parlamento

Dylan Martinez/Reuters
Wael Ghonim (esq.), executivo do site Google, dirige-se à massa que realizou ontem um novo protesto na praça Tahrir, no centro do Cairo; ao menos 300 mil participaram do ato

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Cerca de 300 mil pessoas retomaram ontem o centro do Cairo para mostrar sua rejeição às promessas de reformas feitas nos últimos dias pelo regime do ditador do Egito, Hosni Mubarak.
Foi uma das maiores manifestações desde o começo dos atos, em 25 de janeiro.
A revolta, antes dando sinais de cansaço, ganhou um símbolo improvável, que ajudou a engrossar os protestos: um dia após ter sido libertado pelo governo, o executivo do Google no país Wael Ghonim, 30, apareceu na praça Tahrir, onde foi aclamado por uma multidão eletrizada.
Manifestantes também protestaram diante do Parlamento egípcio, dominado por aliados de Mubarak.
A persistente capacidade de mobilização dos antigoverno mostra que está longe de um desfecho a queda de braço, apesar de a crise já ter deixado 300 mortos e causado sérios danos à economia.
Ghonim passou 12 dias preso pelo papel importante que teve no início da revolta, usando sites como Facebook, Twitter e YouTube para convocar protestos.
"Eu não sou herói. Heróis são vocês, que ficaram nesta praça", disse, em rápido discurso transmitido por alto-falantes e presenciado pela Folha. "Vocês devem insistir até que suas exigências sejam atendidas. Pelos nossos mártires, devemos insistir."
Em entrevista à TV concedida depois de sua libertação, Ghonim contou ter sido capturado no último dia 28 por três policiais à paisana enquanto caminhava na rua.
Segundo relatou, agentes o colocaram dentro de um carro e o levaram até um lugar desconhecido, onde ficou com os olhos vendados.
Uma página do Facebook pedindo que ele assuma o papel de líder dos manifestantes tinha 130 mil seguidores até a conclusão desta edição. No Twitter, ele é acompanhado por 30 mil pessoas.
O executivo ainda não se pronunciou sobre a possibilidade de preencher o vácuo de liderança dos manifestantes, que rejeitam em massa as conversas iniciadas no domingo pelo governo com grupos políticos de oposição.
"Aqueles que pretendem falar no nosso nome são usurpadores. Nenhum de nós reconhece as conversas com o governo", disse Mustapha Hakem, 26.

PRESSÃO DOS EUA
Segundo o "New York Times", o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, telefonou para seu colega egípcio Omar Suleiman e voltou a pressionar pela suspensão das leis de emergência vigentes há 30 anos, entre outras ações.
Ontem, Suleiman afirmou que o governo já tem um cronograma para uma "transferência de poder pacífica". Ele não detalhou o plano, que surge após promessa de conceder maiores liberdades políticas e de criar comitês para reformar a Constituição.
Além disso, a agência de notícias do governo egípcio anunciou a libertação de 34 presos políticos, os primeiros a serem soltos desde que Mubarak prometeu reformas.
Esnobando as conversas, os manifestantes parecem a cada dia mais enraizados na Tahrir, transformada num acampamento de barracas de lona ou improvisadas com cobertores e plásticos.
A multidão formava uma massa tão apertada que a Folha levou 20 minutos para percorrer menos de 50 metros. Mas o ambiente é de tranquilidade. Há crianças, mulheres e idosos.


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