São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

País vive novo dia de intensa violência sectária; após impasse, abertura do Parlamento ocorrerá no domingo

Iraque conta 30 mortos e 50 seqüestrados

DA REDAÇÃO

Num sinal de que a violência sectária que domina o Iraque há duas semanas não perdeu fôlego, 12 pessoas morreram em ataques, e 18 corpos foram encontrados em um microônibus em Bagdá. Também na capital, homens armados vestidos como agentes do Ministério do Interior invadiram uma firma de segurança e seqüestraram cerca de 50 funcionários.
Os homens chegaram às instalações da Rawafid Security no meio da tarde e forçaram os funcionários -guarda-costas, motoristas, técnicos de informática e outros profissionais- a entrar em sete veículos parados em frente. Como os seqüestradores usavam uniformes das forças especiais do ministério, não houve resistência.
O Ministério do Interior classificou a ação de "terrorista" e negou ter envolvimento no caso -líderes árabe-sunitas acusam agentes do governo de seqüestrar e matar membros aleatórios da facção minoritária sob a justificativa do combate à insurgência. Boa parte dos funcionários da Rawafid integrou as forças de Saddam Hussein, amplamente sunitas.
Latentes sob Saddam -que reprimia a maioria árabe-xiita e a parcela de 15% da população que tem etnia curda-, a violência entre as duas facções islâmicas explodiu no Iraque no último dia 22 com um ataque a uma importante mesquita xiita. Tensões que vinham aflorando com a inversão de papéis -sem Saddam, os sunitas perderam privilégios, e eleições diretas culminaram na vitória xiita- ganharam força e um saldo de quase 600 mortos, segundo as estimativas mais modestas.
Ontem, ataques com bombas e tiroteios deixaram mais 12 mortos pelos país, inclusive dois meninos vítimas de uma série de explosões na capital que ainda matou outras quatro pessoas. O comando militar americano também noticiou a morte de um soldado na véspera atingido por uma bomba improvisada em Tal Afar, perto da fronteira com a Síria, em um ataque que ainda feriu quatro militares.
Mas o incidente mais soturno do dia foi o encontro de um microônibus abandonado com 18 corpos, durante a madrugada, por uma patrulha americana em uma estrada ligando dos bairros majoritariamente sunitas na zona oeste de Bagdá. Os cadáveres são todos de homens, a maioria deles morta por estrangulamento -dois traziam marcas de tiros.
A polícia iraquiana também encontrou outros seis corpos abandonados em diferentes pontos da capital, quatro com sinais de estrangulamento, e dois, de balas.

Primeira sessão parlamentar
O xiita Adil Abdul-Mahdi, um dos dois vice-presidentes do país, assinou a convocatória da primeira sessão do Parlamento eleito em dezembro último. Mahdi havia se recusado inicialmente a endossar a ordem do presidente Jalal Talabani, um curdo -o que, na prática, funcionou com um veto.
A sessão inaugural foi marcada inicialmente para este domingo, e a partir dela começará a correr um prazo de 60 dias para a formação do novo governo. Por ora, a negociação do bloco religioso xiita -que venceu a eleição, mas não obteve maioria- para formar uma coalizão com árabes sunitas ou curdos está parada. Os EUA temem que um vácuo de poder fomente a violência.


Com agências internacionais

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