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TERROR
BBC faz reconstituição do crime
Polícia não previa caso como o de Jean Charles
LUCIANA DUTRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES
Os idealizadores da política do
"atirar para matar" não previam o
seu uso em situações como a que
culminou na morte do eletricista
brasileiro Jean Charles de Menezes, no metrô de Londres, confundido com um terrorista.
A afirmação foi feita pela chefe
de polícia Barbara Wilding, no
documentário "Stockwell, Contagem Regressiva para Matar", exibido ontem à noite por um dos
canais de televisão da BBC.
No entanto o alto comando da
polícia defendeu essa forma de intervenção e disse não haver necessidade de alterá-la. Ela permite
aos policiais atirarem na cabeça
de um suspeito de terrorismo, para evitar que ele detone a bomba
que possa estar transportando.
Conhecida como "Operação
Kratos", essa forma de intervenção tem sido a principal salvaguarda aos policiais britânicos,
para que eles não sejam punidos
em razão da morte do brasileiro.
O documentário da BBC reconstruiu a história de Jean Charles e os erros da operação na estação de metrô Stockwell, no sul de
Londres. Ele levou sete tiros na
cabeça. Os policiais o seguiam em
seu trajeto de casa para o trabalho, na manhã de 22 de julho do
ano passado. Sua morte ocorreu
no dia seguinte ao dos atentados
frustrados na cidade e duas semanas depois dos ataques que mataram 52 pessoas.
Wilding, uma dos elaboradoras
da "Operação Kratos", afirmou
que não foi prevista a possibilidade de ela ser usada em casos de vigilância e investigação que se
transformam em ação para deter
uma ameaça.
"Se nós levantamos esta hipótese? A resposta é não", afirmou
Segundo o documentário, as hipóteses levadas em consideração
pelos elaboradores dessa forma
de neutralizar um inimigo potencial se restringiam a um evento
fortuito, no qual um terrorista seria identificado, sem que houvesse a prévia suspeita de que ele procurava atingir alvos específicos.
O documentário abordou a
possibilidade de os policiais receberem ordem para atirar, mesmo
não tendo a certeza de que o suspeito carrega uma bomba. Essa
possibilidade não é prevista nas
operações da polícia israelense,
que inspiraram a política britânica. "Precisamos enxergar a bomba ou termos a informação da
equipe de vigilância de que o suspeito carrega explosivos", afirmou um policial israelense.
Jean Charles não se enquadrava
em nenhuma dessas alternativas.
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