São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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análise

Desconfiança de vizinhos é raiz da crise

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

A ausência de confiança da Colômbia no compromisso de Equador e Venezuela com a luta contra o terrorismo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) desempenhou um papel vital no ataque ao acampamento do guerrilheiro Raúl Reyes, no dia 1º de março. As raízes desse problema dividem a opinião de especialistas colombianos.
Segundo Ricardo Esquivel, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá, a Venezuela realizou 151 incursões em território colombiano, de 1982 a 2000, para combater a guerrilha e paramilitares. Na época, Caracas usava o argumento de "perseguição a quente", o mesmo de que Uribe tentou lançar mão agora.
A razão para a ausência de cooperação entre Bogotá e Caracas, avalia Esquivel, seria resultado de um processo histórico de seu país. "A situação das Farc ganhou destaque depois dos atentados do 11 de Setembro, mas a política colombiana sempre foi muito introspectiva. A Colômbia não está isolada, sempre esteve voltada para dentro", disse.
Para o cientista político Alejo Vargas, da Universidade Nacional da Colômbia, porém, a falta de uma abordagem única para o problema da guerrilha por parte dos governos colombianos nas últimas décadas provocaria desconforto na região.
"A relação com os vizinhos é muito complicada porque há leituras diferentes sobre o conflito armado, o governo colombiano tem tido uma altíssima volatilidade. Cada governo muda seu diagnóstico e, nesse sentido, não é possível aos vizinhos acompanhar e mudar tão rapidamente", afirmou.
Diante dessas idas e vindas, não seria possível estabelecer confiança suficiente entre colombianos, venezuelanos e equatoriano para trocas de informações de inteligência.
Essa falta de confiança teria outras razões, na avaliação de Jaime Zuluaga, professor de ciência política da Universidade de Bogotá. "Depois que Rodrigo Granda [o "chanceler" das Farc] foi aprisionado em Caracas [em 2003] e o governo colombiano anunciou que ele fora detido em Cúcuta, na fronteira, a situação mudou. Presumo que as trocas de informações tenham diminuído sensivelmente depois deste incidente."
Na avaliação do general Gabriel Contrera Ochoa, vice-reitor da Universidade Militar Nueva Granada, a troca de informações estancou devido à simpatia política de Venezuela e Equador pela guerrilha. "Até há seis anos funcionava bem, todos os países tinham as Farc como um inimigo", disse.
O marco institucional para a cooperação militar no continente é o Tiar (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca). Em 2004, a Colômbia chegou a propor a atuação de uma força multilateral no combate à guerrilha, durante cúpula de defesa em Quito, no Equador, mas a proposta não avançou.
As Farc sempre atraíram a simpatia da esquerda no continente. Antes de chegar à Presidência, até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve encontros com membros das Farc no Fórum de São Paulo, do qual o PT faz parte.


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