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análise
Desconfiança de vizinhos é raiz da crise
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
A ausência de confiança
da Colômbia no compromisso de Equador e Venezuela com a luta contra o
terrorismo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) desempenhou um papel vital no
ataque ao acampamento
do guerrilheiro Raúl Reyes, no dia 1º de março. As
raízes desse problema dividem a opinião de especialistas colombianos.
Segundo Ricardo Esquivel, professor de relações
internacionais da Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá, a Venezuela
realizou 151 incursões em
território colombiano, de
1982 a 2000, para combater a guerrilha e paramilitares. Na época, Caracas
usava o argumento de
"perseguição a quente", o
mesmo de que Uribe tentou lançar mão agora.
A razão para a ausência
de cooperação entre Bogotá e Caracas, avalia Esquivel, seria resultado de um
processo histórico de seu
país. "A situação das Farc
ganhou destaque depois
dos atentados do 11 de Setembro, mas a política colombiana sempre foi muito introspectiva. A Colômbia não está isolada, sempre esteve voltada para
dentro", disse.
Para o cientista político
Alejo Vargas, da Universidade Nacional da Colômbia, porém, a falta de uma
abordagem única para o
problema da guerrilha por
parte dos governos colombianos nas últimas décadas provocaria desconforto na região.
"A relação com os vizinhos é muito complicada
porque há leituras diferentes sobre o conflito armado, o governo colombiano tem tido uma altíssima volatilidade. Cada governo muda seu diagnóstico e, nesse sentido, não é
possível aos vizinhos
acompanhar e mudar tão
rapidamente", afirmou.
Diante dessas idas e vindas, não seria possível estabelecer confiança suficiente entre colombianos,
venezuelanos e equatoriano para trocas de informações de inteligência.
Essa falta de confiança
teria outras razões, na avaliação de Jaime Zuluaga,
professor de ciência política da Universidade de Bogotá. "Depois que Rodrigo
Granda [o "chanceler" das
Farc] foi aprisionado em
Caracas [em 2003] e o governo colombiano anunciou que ele fora detido em
Cúcuta, na fronteira, a situação mudou. Presumo
que as trocas de informações tenham diminuído
sensivelmente depois deste incidente."
Na avaliação do general
Gabriel Contrera Ochoa,
vice-reitor da Universidade Militar Nueva Granada,
a troca de informações estancou devido à simpatia
política de Venezuela e
Equador pela guerrilha.
"Até há seis anos funcionava bem, todos os países
tinham as Farc como um
inimigo", disse.
O marco institucional
para a cooperação militar
no continente é o Tiar
(Tratado Interamericano
de Assistência Recíproca).
Em 2004, a Colômbia chegou a propor a atuação de
uma força multilateral no
combate à guerrilha, durante cúpula de defesa em
Quito, no Equador, mas a
proposta não avançou.
As Farc sempre atraíram a simpatia da esquerda no continente. Antes de
chegar à Presidência, até o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve encontros
com membros das Farc no
Fórum de São Paulo, do
qual o PT faz parte.
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