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Em Letícia, fronteira é de refugiados sociais
Capital do departamento colombiano do Amazonas atrai pobres da região; alimentos vêm do Equador
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LETÍCIA (COLÔMBIA)
A crise da última semana não
chegou ao departamento (equivalente a Estado) colombiano
do Amazonas, na fronteira com
a brasileira Tabatinga e com
uma ilha peruana, em meio ao
rio Solimões, que abriga um vilarejo chamado Santa Rosa,
com 1.400 habitantes.
Essa região é chamada pelo
governador Félix Francisco
Acosta Soto de "fronteiras da
harmonia e da paz". Essa paz,
no entanto, não impede o surgimento de "refugiados sociais"
em Letícia, a capital do Amazonas colombiano.
A possibilidade de um confronto bélico entre Equador e
Colômbia, com a interferência
da Venezuela, assusta o governador. "Pelas condições geográficas, não teríamos guerrilheiros das Farc em nosso departamento. Mas poderiam
chegar refugiados civis e nossa
infra-estrutura não comporta
isso", disse Soto.
O departamento do Amazonas tem 72 mil habitantes. Metade vive em Letícia e em Puerto Nariño. A outra metade se
espalha em nove vilarejos dispersos pela floresta e em aldeias indígenas. Letícia tem um
hospital regional. Em Puerto
Nariño há um posto de atendimento básico de saúde.
Na última semana, os moradores de Letícia temiam que
ocorresse uma escassez de produtos hortigranjeiros, frutas,
grãos e óleo comestível. Motivo: esses itens são importados
do Equador. "O fechamento da
fronteira com o Equador pode
criar uma situação de falta desses produtos", afirmou Acosta.
Já a fronteira entre a cidade
colombiana e Tabatinga é quase imperceptível. Na divisa dos
dois municípios existe uma
avenida que leva os nomes de
Amizade, do lado brasileiro, e
de Internacional, na parte colombiana. As únicas indicações
de que são duas cidades e dois
países são um mastro com bandeiras do Brasil e do Estado do
Amazonas e um módulo da Polícia Nacional da Colômbia,
guardado por só um soldado.
Barrio Nuevo
Em Letícia, a reportagem visitou Barrio Nuevo, onde vivem
acampadas cerca de 150 famílias, que há dois anos esperam
casas prometidas pelo governo
colombiano. "Somos refugiados sociais esperando promessas serem cumpridas", afirmou
Andréa Almada, 29, colombiana que faz parte de um grupo de
famílias expulso de assentamento do Incra em Tabatinga.
Em Barrio Nuevo convivem
colombianos, brasileiros e peruanos. Como Letícia é a cidade
mais bem estruturada na região, a atração é inevitável. O
governador estima que 550
pessoas vivam aqui na "condição de refugiados".
A colombiana Ana Paula
Souza Silva, 20, duas filhas e
grávida de um terceiro, sintetiza a situação: "Aqui tem peruanos, brasileiros e colombianos;
todos estão na mesma, esperando por uma promessa não-cumprida". O governador afirma que o governo federal já
comprou uma área para as moradias, mas faltam recursos para construir casas subsidiadas.
Apesar de mais bem estruturada do que suas vizinhas -Tabatinga e a peruana Santa Rosa-, Letícia depende de produtos de origem equatoriana e
brasileira. Do Equador, chegam
grãos, frutas e hortigranjeiros,
além de óleo comestível. Do
Brasil, a dependência vai do
GLP (gás liqüefeito de petróleo) à carne bovina.
O gás chega de Manaus em
balsas, assim como o cimento.
Búfalos e bois são transportados, também em balsas, da ilha
de Marajó. Um conflito com o
Equador afetaria diretamente a
economia de Letícia. A cidade
vive do turismo, com navios-hotéis desembarcando duas vezes por mês. Depois dos colombianos, são os equatorianos que
sustentam o turismo local.
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