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França escolhe hoje, em 1º turno, 36 mil prefeitos
Com popularidade de Sarkozy em baixa, "onda rosa" deve beneficiar a esquerda
Presidente diz que a eleição não é plebiscito sobre seu governo; sistema eleitoral francês é complexo e as estimativas, imprecisas
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A França é uma colcha de minúsculos retalhos. São 36.683
municípios. Comparando: Minas Gerais, com superfície
equivalente, tem 853 dos 5.564
municípios brasileiros. Não é
fácil ter uma visão de conjunto
das pulverizadas eleições municipais francesas, que têm hoje o primeiro turno. O segundo
será no dia 16.
Não há pesquisa nacional de
intenção de voto. Mas pesquisas localizadas indicam que,
desta vez, a oposição de esquerda será beneficiada por uma
"onda rosa", ao contrário do
que aconteceu em 2001.
Pelo atual mapeamento, sujeito a variáveis como a abstenção num país em que o voto não
é obrigatório, as esquerdas poderão conquistar 20 cidades
importantes em mãos dos conservadores. Entre elas, Marselha, Estrasburgo e Toulouse. Só
oito cidades maiores em mãos
da esquerda tendem a eleger
prefeitos de direita.
Paris e Lyon deverão manter
seus atuais prefeitos socialistas, Bertrand Delanoë e Gérard
Collomb. São os dois municípios franceses de maior população e até 2001 eram administradas pela direita.
O sistema eleitoral é complicado. Coexistem três modelos,
aplicáveis segundo o tamanho
do município. No plano municipal vigora o parlamentarismo. O eleitor elege vereadores,
sabendo que o candidato a prefeito é aquele que encabeça a
chapa partidária.
Nas três maiores cidades,
não basta apenas ter mais votos. É preciso vencer no maior
número de distritos. Paris tem
um cabeça-de-chapa para cada
um de seus 20 distritos. E elege
163 vereadores -que não recebem gabinete, funcionários ou
automóvel.
A tendência nas pequenas cidades é a de privilegiar o perfil
administrativo dos concorrentes. Nas cidades ainda menores
não há a necessidade de eles
pertencerem a um partido. É
como se fossem síndicos.
Distância de Sarkozy
Apesar de tudo, um presidente da República pode funcionar
como um bom puxador de votos. O que não é hoje o caso de
Nicolas Sarkozy. Ele recuou do
plano anunciado em janeiro de
sair às ruas em campanha.
Por sua recente impopularidade, os candidatos da direita
dispensaram sua presença. E o
pior: muitos retiraram do material impresso o fato de pertencerem à UMP (União por
um Movimento Popular), o
partido pelo qual Sarkozy se
elegeu no ano passado.
O instituto Ifop dá um exemplo curioso. Na terceira maior
cidade francesa, Marselha, Sarkozy teve em maio do ano passado nove pontos percentuais a
mais que a socialista Ségolène
Royal. Mesmo assim, o "sarkozysta" Jean-Claude Gaudin
luta para se reeleger, em razão,
diz o instituto, da impopularidade do presidente.
Em entrevista na quinta ao
"Le Figaro", Sarkozy pediu, como era previsível, que os eleitores votem nos candidatos do
UMP. Mas disse que não modificaria o ritmo da implantação
de reformas em razão das eleições, nem daria ao pleito interpretação plebiscitária.
Ele deverá comemorar resultados isolados, como a eleição a
vereadora, no 7º Distrito de Paris (o de maior renda familiar),
de sua ministra da Justiça, Rachida Dati, personagem saído
da cartola de sua campanha a
presidente. E poderá amargar
derrotas importantes, como a
de Alain Juppé, atual prefeito
de Bordeaux, ameaçado pelo
socialista Alain Rousset.
Essas guinadas ocorrem sem
que o Partido Socialista tenha
superado a crise em que mergulhou em 2007, com a derrota
de Ségolène, ou tenha renovado
seu programa com propostas
imaginativas.
Há os centristas de François
Bayrou, do MoDem (Movimento dos Democratas). Mas eles
estão sem identidade fixa, por
indistintas alianças locais com
a direita e com a esquerda. Os
comunistas, hoje nanicos, aliaram-se aos socialistas em 80%
das maiores cidades. Mas o PS
poderá eleger prefeito nos subúrbios ao norte de Paris que o
PC administra há 60 anos.
Será a segunda vez em que
estrangeiros de outros países
da União Européia poderão votar e se candidatar a vereador.
Mas não podem se tornar prefeitos ou serem eleitores na escolha -indireta- dos senadores. Em tempo: o eleitorado
também elegerá os conselheiros cantonais. Cantão é uma
das divisões administrativas da
França. São esses conselheiros
que tomam decisões nos departamentos, hoje divididos entre
a direita e a esquerda.
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