São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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França escolhe hoje, em 1º turno, 36 mil prefeitos

Com popularidade de Sarkozy em baixa, "onda rosa" deve beneficiar a esquerda

Presidente diz que a eleição não é plebiscito sobre seu governo; sistema eleitoral francês é complexo e as estimativas, imprecisas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A França é uma colcha de minúsculos retalhos. São 36.683 municípios. Comparando: Minas Gerais, com superfície equivalente, tem 853 dos 5.564 municípios brasileiros. Não é fácil ter uma visão de conjunto das pulverizadas eleições municipais francesas, que têm hoje o primeiro turno. O segundo será no dia 16.
Não há pesquisa nacional de intenção de voto. Mas pesquisas localizadas indicam que, desta vez, a oposição de esquerda será beneficiada por uma "onda rosa", ao contrário do que aconteceu em 2001.
Pelo atual mapeamento, sujeito a variáveis como a abstenção num país em que o voto não é obrigatório, as esquerdas poderão conquistar 20 cidades importantes em mãos dos conservadores. Entre elas, Marselha, Estrasburgo e Toulouse. Só oito cidades maiores em mãos da esquerda tendem a eleger prefeitos de direita.
Paris e Lyon deverão manter seus atuais prefeitos socialistas, Bertrand Delanoë e Gérard Collomb. São os dois municípios franceses de maior população e até 2001 eram administradas pela direita.
O sistema eleitoral é complicado. Coexistem três modelos, aplicáveis segundo o tamanho do município. No plano municipal vigora o parlamentarismo. O eleitor elege vereadores, sabendo que o candidato a prefeito é aquele que encabeça a chapa partidária.
Nas três maiores cidades, não basta apenas ter mais votos. É preciso vencer no maior número de distritos. Paris tem um cabeça-de-chapa para cada um de seus 20 distritos. E elege 163 vereadores -que não recebem gabinete, funcionários ou automóvel.
A tendência nas pequenas cidades é a de privilegiar o perfil administrativo dos concorrentes. Nas cidades ainda menores não há a necessidade de eles pertencerem a um partido. É como se fossem síndicos.

Distância de Sarkozy
Apesar de tudo, um presidente da República pode funcionar como um bom puxador de votos. O que não é hoje o caso de Nicolas Sarkozy. Ele recuou do plano anunciado em janeiro de sair às ruas em campanha.
Por sua recente impopularidade, os candidatos da direita dispensaram sua presença. E o pior: muitos retiraram do material impresso o fato de pertencerem à UMP (União por um Movimento Popular), o partido pelo qual Sarkozy se elegeu no ano passado.
O instituto Ifop dá um exemplo curioso. Na terceira maior cidade francesa, Marselha, Sarkozy teve em maio do ano passado nove pontos percentuais a mais que a socialista Ségolène Royal. Mesmo assim, o "sarkozysta" Jean-Claude Gaudin luta para se reeleger, em razão, diz o instituto, da impopularidade do presidente.
Em entrevista na quinta ao "Le Figaro", Sarkozy pediu, como era previsível, que os eleitores votem nos candidatos do UMP. Mas disse que não modificaria o ritmo da implantação de reformas em razão das eleições, nem daria ao pleito interpretação plebiscitária.
Ele deverá comemorar resultados isolados, como a eleição a vereadora, no 7º Distrito de Paris (o de maior renda familiar), de sua ministra da Justiça, Rachida Dati, personagem saído da cartola de sua campanha a presidente. E poderá amargar derrotas importantes, como a de Alain Juppé, atual prefeito de Bordeaux, ameaçado pelo socialista Alain Rousset.
Essas guinadas ocorrem sem que o Partido Socialista tenha superado a crise em que mergulhou em 2007, com a derrota de Ségolène, ou tenha renovado seu programa com propostas imaginativas.
Há os centristas de François Bayrou, do MoDem (Movimento dos Democratas). Mas eles estão sem identidade fixa, por indistintas alianças locais com a direita e com a esquerda. Os comunistas, hoje nanicos, aliaram-se aos socialistas em 80% das maiores cidades. Mas o PS poderá eleger prefeito nos subúrbios ao norte de Paris que o PC administra há 60 anos.
Será a segunda vez em que estrangeiros de outros países da União Européia poderão votar e se candidatar a vereador. Mas não podem se tornar prefeitos ou serem eleitores na escolha -indireta- dos senadores. Em tempo: o eleitorado também elegerá os conselheiros cantonais. Cantão é uma das divisões administrativas da França. São esses conselheiros que tomam decisões nos departamentos, hoje divididos entre a direita e a esquerda.


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