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Zapatero aposta no sol, na economia e na rua para vencer
Alto comparecimento às urnas tende a beneficiar partido socialista do premiê nas eleições gerais de hoje na Espanha
Apesar das previsões de crise, consumidores estão
mais confiantes; resultado do pleito não muda política
econômica em vigor no país
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
As amendoeiras em alguns
parques de Madri já mostram
suas flores em pleno inverno,
que só termina dia 21. É uma
primavera antecipada; bom para José Luis Rodríguez Zapatero, o presidente do governo e
candidato do PSOE (Partido
Socialista Operário Espanhol),
que disputa hoje a reeleição.
O que têm a ver as amendoeiras com o voto? Tudo, acredita
o PSOE. Um de seus "spots" de
campanha começa com chuva,
tempo feio, que melhora até
que surge o sol e o locutor festeja: "Para os que votam com alegria, sempre faz sol".
Tradução: com sol, há menos
abstenção, e o PSOE tem mais
chances de derrotar os conservadores do PP, o Partido Popular. Na eleição anterior, em
2004, o comparecimento foi de
77%, e o PSOE ganhou, depois
de ter perdido em 2000, com
um comparecimento de 68%.
As pesquisas indicam que os
atentados aos trens de Madri
em 2004, praticados três dias
antes da votação, ajudaram a
arrastar muita gente às urnas.
Se é assim, a sabedoria convencional diz que o fenômeno
se repetirá agora, chova ou faça
sol, porque o grupo terrorista
basco ETA matou, na sexta-feira, um ex-vereador do PSOE.
É natural que o PSOE confie
no sol e na mobilização antiterrorismo. Afinal, não dá para
contar, agora, com outra pérola
da sabedoria convencional, a
que diz que o eleitor vota com o
bolso. É verdade que o governo
Zapatero deu continuidade ao
crescimento herdado de seus
dois antecessores, o também
socialista Felipe González e José María Aznar, do PP. Foram
14 anos de crescimento à formidável média anual de 3,5%, alto
para economias maduras.
Mas o progresso não tem dono, fato que o eleitor percebe
bem. Não há diferenças essenciais na política econômica de
socialistas e "populares", entre
outras razões porque dois dos
três instrumentos da política
macroeconômica não estão nas
mãos das autoridades nacionais. Em Frankfurt, na sede do
Banco Central Europeu, fixam-se juros e câmbio.
Resta a Madri a política fiscal, o destino a dar ao dinheiro
arrecadado de impostos. E, aí,
Zapatero e Rajoy dedicaram-se
a um torneio de promessas
-das quais a maioria dos eleitores nem tomou conhecimento, mostram pesquisas.
O voto poderia decidir-se por
conta do esvaziamento dos bolsos, em decorrência da desaceleração econômica causada pelo estouro da bolha imobiliária.
As grandes imobiliárias afirmam que construirão 72% menos apartamentos do que no
ano passado, com o que cerca
de 1,1 milhão de trabalhadores
não encontrarão emprego.
Em tese, números mortais,
ainda mais quando se sabe que
o desemprego subiu em fevereiro para o nível mais alto em
dez anos. Mas a crise emite sinais contraditórios.
O Banco de Espanha, o BC
espanhol, diz que "os dados
mais recentes apontam para
uma desaceleração algo mais
pronunciada da atividade econômica no início de 2008".
Os consumidores, portanto,
deveriam retrair-se. Mas a confiança do consumidor subiu 5,9
pontos entre janeiro e fevereiro, no primeiro avanço em nove
meses, diz o levantamento do
Instituto de Crédito Oficial.
Há, pois, algum sol entre as
nuvens escuras da economia,
suficientes para explicar porque o PSOE mantinha quatro
pontos de vantagem sobre o PP
nas principais pesquisas divulgadas até segunda passada.
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