São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Zapatero aposta no sol, na economia e na rua para vencer

Alto comparecimento às urnas tende a beneficiar partido socialista do premiê nas eleições gerais de hoje na Espanha

Apesar das previsões de crise, consumidores estão mais confiantes; resultado do pleito não muda política econômica em vigor no país

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

As amendoeiras em alguns parques de Madri já mostram suas flores em pleno inverno, que só termina dia 21. É uma primavera antecipada; bom para José Luis Rodríguez Zapatero, o presidente do governo e candidato do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que disputa hoje a reeleição.
O que têm a ver as amendoeiras com o voto? Tudo, acredita o PSOE. Um de seus "spots" de campanha começa com chuva, tempo feio, que melhora até que surge o sol e o locutor festeja: "Para os que votam com alegria, sempre faz sol".
Tradução: com sol, há menos abstenção, e o PSOE tem mais chances de derrotar os conservadores do PP, o Partido Popular. Na eleição anterior, em 2004, o comparecimento foi de 77%, e o PSOE ganhou, depois de ter perdido em 2000, com um comparecimento de 68%.
As pesquisas indicam que os atentados aos trens de Madri em 2004, praticados três dias antes da votação, ajudaram a arrastar muita gente às urnas.
Se é assim, a sabedoria convencional diz que o fenômeno se repetirá agora, chova ou faça sol, porque o grupo terrorista basco ETA matou, na sexta-feira, um ex-vereador do PSOE.
É natural que o PSOE confie no sol e na mobilização antiterrorismo. Afinal, não dá para contar, agora, com outra pérola da sabedoria convencional, a que diz que o eleitor vota com o bolso. É verdade que o governo Zapatero deu continuidade ao crescimento herdado de seus dois antecessores, o também socialista Felipe González e José María Aznar, do PP. Foram 14 anos de crescimento à formidável média anual de 3,5%, alto para economias maduras.
Mas o progresso não tem dono, fato que o eleitor percebe bem. Não há diferenças essenciais na política econômica de socialistas e "populares", entre outras razões porque dois dos três instrumentos da política macroeconômica não estão nas mãos das autoridades nacionais. Em Frankfurt, na sede do Banco Central Europeu, fixam-se juros e câmbio.
Resta a Madri a política fiscal, o destino a dar ao dinheiro arrecadado de impostos. E, aí, Zapatero e Rajoy dedicaram-se a um torneio de promessas -das quais a maioria dos eleitores nem tomou conhecimento, mostram pesquisas.
O voto poderia decidir-se por conta do esvaziamento dos bolsos, em decorrência da desaceleração econômica causada pelo estouro da bolha imobiliária. As grandes imobiliárias afirmam que construirão 72% menos apartamentos do que no ano passado, com o que cerca de 1,1 milhão de trabalhadores não encontrarão emprego.
Em tese, números mortais, ainda mais quando se sabe que o desemprego subiu em fevereiro para o nível mais alto em dez anos. Mas a crise emite sinais contraditórios.
O Banco de Espanha, o BC espanhol, diz que "os dados mais recentes apontam para uma desaceleração algo mais pronunciada da atividade econômica no início de 2008".
Os consumidores, portanto, deveriam retrair-se. Mas a confiança do consumidor subiu 5,9 pontos entre janeiro e fevereiro, no primeiro avanço em nove meses, diz o levantamento do Instituto de Crédito Oficial.
Há, pois, algum sol entre as nuvens escuras da economia, suficientes para explicar porque o PSOE mantinha quatro pontos de vantagem sobre o PP nas principais pesquisas divulgadas até segunda passada.


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