São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Marinhas investem em navios versáteis para exercer poder

Espanha inaugura hoje tipo de embarcação que combina força de combate com capacidade de missão humanitária

Produção difundida dos barcos que antes eram quase exclusivos dos EUA inaugura era da "diplomacia do porta-helicópteros"

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

No século 19 era comum falar na "diplomacia das canhoneiras", a nada sutil utilização da força militar naval para pressionar um país. No século 21, as principais Marinhas de guerra não desistiram de influenciar eventos em terra e o navio ideal para essa intervenção -a chamada "projeção de poder"- está sendo construído em diversos países.
Um bom exemplo deve ser lançado ao mar amanhã, na Espanha. O navio tem o nome do atual rei espanhol, "Juan Carlos I", e seu modelo é conhecido como Navio de Projeção Estratégica. Trata-se de um navio anfíbio -projetado para desembarque de tropas em terra-, mas com várias capacidades adicionais. Ele tanto pode cumprir essa função de combate como apoiar a logística de missões de paz e de operações humanitárias.
"As Marinhas querem se manter relevantes. Porque a missão central de combate anti-submarino, anti-superfície e antiaéreo não está mais na linha de frente para os analistas navais, o que a substituiu são missões humanitárias e esforços para impactar eventos em terra, não só no mar", diz Eric Wertheim, editor do prestigiado anuário americano "Combat Fleets of the World", sobre as Marinhas do planeta.
Mesmo antes de ficar pronto, o navio espanhol já é um sucesso de vendas. A Austrália encomendou à Espanha dois navios semelhantes no ano passado.
França, Itália, Coréia do Sul e Reino Unido têm ou terão navios anfíbios "multimissão" semelhantes, indicando que está surgindo uma nova era naval, a da "diplomacia do porta-helicóptero". Esse tipo de embarcação tem convés de vôo capaz de operar vários helicópteros simultaneamente e, em alguns casos, aviões V/STOL (de decolagem curta e pouso vertical). Alguns também transportam embarcações anfíbias.
Até agora esse tipo de navio anfíbio praticamente só existia na Marinha dos EUA, que está em uma categoria à parte. Os 13 navios americanos de cerca de 40 mil toneladas de deslocamento podem cada um levar quase 2.000 fuzileiros navais.
O navio francês "Mistral" tem um nome parecido com o espanhol: Navio de Projeção e Comando. Ele tinha entrado recentemente em operação quando foi enviado em julho de 2006 para o Líbano, escoltado por duas fragatas, para resgatar turistas europeus durante o conflito entre Israel e o grupo islâmico Hizbollah.
O Navio de Assalto Anfíbio britânico "Ocean" mal tinha iniciado suas operações em 1998 quando ajudou as vítimas de um furacão em Honduras. Em 2003 ele esteve na invasão do Iraque.
Jason Alderwick, analista de defesa para a área naval do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, aponta a flexibilidade das plataformas multimissão como um dos atrativos. Para Alderwick, são o alto custo de navios especializados e as restrições orçamentárias que fazem os países buscar também não só navios anfíbios, mas outros de combate com múltiplos papéis. É o caso de fragatas que combinam funções anti-submarinas e antiaéreas.
"Um navio anfíbio permite a uma nação desembarcar tropas que podem tanto participar de uma atividade contraterrorista como prover ajuda depois de um desastre humanitário", declara Wertheim. "Mas, em caso de guerra, esses tipos de navios podem ser vulneráveis. Seria sensato para as principais Marinhas investir em uma frota balanceada, com capacidades anti-submarino, antiaérea e anti-superfície", diz.


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