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Marinhas investem em navios versáteis para exercer poder
Espanha inaugura hoje tipo de embarcação que combina força de combate com capacidade de missão humanitária
Produção difundida dos barcos que antes eram quase exclusivos dos EUA inaugura era da "diplomacia do porta-helicópteros"
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
No século 19 era comum falar
na "diplomacia das canhoneiras", a nada sutil utilização da
força militar naval para pressionar um país. No século 21, as
principais Marinhas de guerra
não desistiram de influenciar
eventos em terra e o navio ideal
para essa intervenção -a chamada "projeção de poder"- está sendo construído em diversos países.
Um bom exemplo deve ser
lançado ao mar amanhã, na Espanha. O navio tem o nome do
atual rei espanhol, "Juan Carlos I", e seu modelo é conhecido
como Navio de Projeção Estratégica. Trata-se de um navio
anfíbio -projetado para desembarque de tropas em terra-, mas com várias capacidades adicionais. Ele tanto pode
cumprir essa função de combate como apoiar a logística de
missões de paz e de operações
humanitárias.
"As Marinhas querem se
manter relevantes. Porque a
missão central de combate anti-submarino, anti-superfície e
antiaéreo não está mais na linha de frente para os analistas
navais, o que a substituiu são
missões humanitárias e esforços para impactar eventos em
terra, não só no mar", diz Eric
Wertheim, editor do prestigiado anuário americano "Combat
Fleets of the World", sobre as
Marinhas do planeta.
Mesmo antes de ficar pronto,
o navio espanhol já é um sucesso de vendas. A Austrália encomendou à Espanha dois navios
semelhantes no ano passado.
França, Itália, Coréia do Sul e
Reino Unido têm ou terão navios anfíbios "multimissão" semelhantes, indicando que está
surgindo uma nova era naval, a
da "diplomacia do porta-helicóptero". Esse tipo de embarcação tem convés de vôo capaz
de operar vários helicópteros
simultaneamente e, em alguns
casos, aviões V/STOL (de decolagem curta e pouso vertical).
Alguns também transportam
embarcações anfíbias.
Até agora esse tipo de navio
anfíbio praticamente só existia
na Marinha dos EUA, que está
em uma categoria à parte. Os 13
navios americanos de cerca de
40 mil toneladas de deslocamento podem cada um levar
quase 2.000 fuzileiros navais.
O navio francês "Mistral"
tem um nome parecido com o
espanhol: Navio de Projeção e
Comando. Ele tinha entrado
recentemente em operação
quando foi enviado em julho de
2006 para o Líbano, escoltado
por duas fragatas, para resgatar
turistas europeus durante o
conflito entre Israel e o grupo
islâmico Hizbollah.
O Navio de Assalto Anfíbio
britânico "Ocean" mal tinha
iniciado suas operações em
1998 quando ajudou as vítimas
de um furacão em Honduras.
Em 2003 ele esteve na invasão
do Iraque.
Jason Alderwick, analista de
defesa para a área naval do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, aponta a flexibilidade das plataformas multimissão como um dos atrativos.
Para Alderwick, são o alto custo
de navios especializados e as
restrições orçamentárias que
fazem os países buscar também
não só navios anfíbios, mas outros de combate com múltiplos
papéis. É o caso de fragatas que
combinam funções anti-submarinas e antiaéreas.
"Um navio anfíbio permite a
uma nação desembarcar tropas
que podem tanto participar de
uma atividade contraterrorista
como prover ajuda depois de
um desastre humanitário", declara Wertheim. "Mas, em caso
de guerra, esses tipos de navios
podem ser vulneráveis. Seria
sensato para as principais Marinhas investir em uma frota
balanceada, com capacidades
anti-submarino, antiaérea e
anti-superfície", diz.
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