São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Violência exacerba distúrbios mentais no país

DO "NEW YORK TIMES"

Só depois que as armas começaram a silenciar a extensão dos efeitos de diversos anos de violência ficou mais visível entre a população iraquiana. É o que mostram dois estudos divulgados ontem e anteontem no país.
Uma pesquisa feita com 4.332 iraquianos com mais de 18 anos de todo o país mostra que 17% deles sofrem de algum tipo de desordem mental -depressão, fobias, estresse pós-traumático e ansiedade são os males mais comuns.
A sensação de desespero é tão profunda que, entre os portadores de doenças mentais, 70% deles disseram ter contemplado a ideia de suicídio, diz o estudo, patrocinado pelo governo do Iraque e pela Organização Mundial da Saúde.
As origens dos problemas remetem não apenas à Guerra do Iraque, que no próximo dia 20 completa seis anos, mas à violência sob o ditador derrocado Saddam Hussein (1979-2003).
No entanto, para a surpresa dos pesquisadores, os níveis de estresse não aumentaram entre 2006 e 2007, época em que a violência recrudesceu. Daí nasceu a hipótese de que os iraquianos desenvolveram um senso de proteção própria.
"A sociedade iraquiana sofreu quase 50 anos sob circunstâncias difíceis, mas gradualmente as pessoas parecem ter se acostumado às experiências duras", avalia Abdul al Monaf al Jadiry, psiquiatra da Universidade de Amã (Jordânia) e supervisor do estudo.
A pesquisa descobriu que as mulheres são especialmente vulneráveis aos problemas mentais. Entre os homens estudados, 14% sofriam de desordens, contra 19% das participantes do sexo feminino.
Preocupa o fato de que apenas 2% dos portadores de problemas mentais tenham procurado ajuda profissional, de difícil acesso no Iraque. Males mentais são estigmatizados no país, e psiquiatras e psicólogos são escassos.
Por isso, a maioria dos doentes é mantida em casa, sem tratamento, longe das vistas e dos comentários dos vizinhos. Uma minoria é confinada nos poucos hospitais psiquiátricos disponíveis.
Outro estudo, feito pelos grupos Oxfam, de origem britânica, e Amal, do Iraque, também relaciona a maior incidência de estresse e doenças mentais em mulheres iraquianas aos longos períodos de guerra.
Apesar da recente -e frágil- estabilidade no país, a vida piorou para muitas mulheres nos últimos dois anos, segundo os pesquisadores. A violência fez com que 740 mil mulheres se tornassem viúvas, 75% delas sem direito a pensão estatal.
"Essas viúvas cuidam não só de suas crianças, mas muitas vezes de sua família estendida. Por isso, carregam um fardo pesado", comenta Olga Ghazaryan, diretora da Oxfam.


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