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Violência exacerba distúrbios mentais no país
DO "NEW YORK TIMES"
Só depois que as armas começaram a silenciar a extensão
dos efeitos de diversos anos de
violência ficou mais visível entre a população iraquiana. É o
que mostram dois estudos divulgados ontem e anteontem
no país.
Uma pesquisa feita com
4.332 iraquianos com mais de
18 anos de todo o país mostra
que 17% deles sofrem de algum
tipo de desordem mental -depressão, fobias, estresse pós-traumático e ansiedade são os
males mais comuns.
A sensação de desespero é
tão profunda que, entre os portadores de doenças mentais,
70% deles disseram ter contemplado a ideia de suicídio, diz
o estudo, patrocinado pelo governo do Iraque e pela Organização Mundial da Saúde.
As origens dos problemas remetem não apenas à Guerra do
Iraque, que no próximo dia 20
completa seis anos, mas à violência sob o ditador derrocado
Saddam Hussein (1979-2003).
No entanto, para a surpresa
dos pesquisadores, os níveis de
estresse não aumentaram entre 2006 e 2007, época em que
a violência recrudesceu. Daí
nasceu a hipótese de que os iraquianos desenvolveram um
senso de proteção própria.
"A sociedade iraquiana sofreu quase 50 anos sob circunstâncias difíceis, mas gradualmente as pessoas parecem ter
se acostumado às experiências
duras", avalia Abdul al Monaf al
Jadiry, psiquiatra da Universidade de Amã (Jordânia) e supervisor do estudo.
A pesquisa descobriu que as
mulheres são especialmente
vulneráveis aos problemas
mentais. Entre os homens estudados, 14% sofriam de desordens, contra 19% das participantes do sexo feminino.
Preocupa o fato de que apenas 2% dos portadores de problemas mentais tenham procurado ajuda profissional, de difícil acesso no Iraque. Males
mentais são estigmatizados no
país, e psiquiatras e psicólogos
são escassos.
Por isso, a maioria dos doentes é mantida em casa, sem tratamento, longe das vistas e dos
comentários dos vizinhos. Uma
minoria é confinada nos poucos hospitais psiquiátricos disponíveis.
Outro estudo, feito pelos grupos Oxfam, de origem britânica, e Amal, do Iraque, também
relaciona a maior incidência de
estresse e doenças mentais em
mulheres iraquianas aos longos
períodos de guerra.
Apesar da recente -e frágil-
estabilidade no país, a vida piorou para muitas mulheres nos
últimos dois anos, segundo os
pesquisadores. A violência fez
com que 740 mil mulheres se
tornassem viúvas, 75% delas
sem direito a pensão estatal.
"Essas viúvas cuidam não só
de suas crianças, mas muitas
vezes de sua família estendida.
Por isso, carregam um fardo
pesado", comenta Olga Ghazaryan, diretora da Oxfam.
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