São Paulo, quarta-feira, 09 de março de 2011

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Na China, gasto com segurança interna supera o militar

Incremento ocorre em meio a esforço para impedir que país tenha protestos pró-democracia como os árabes

Montante destinado a polícias, sistemas de vigilância e outros sobe 13,8% neste ano, chegando a US$ 95 bi

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

O Orçamento anual da China para segurança interna ultrapassou pela primeira vez os gastos militares.
O incremento ocorre em meio a um grande esforço nas últimas semanas para evitar que a onda de protestos pró-democracia do mundo árabe ecoe no país.
O montante destinado a polícias, sistemas de vigilância interna, tribunais, entre outros gastos de segurança pública, subiu 13,8% em relação ao ano passado, chegando a US$ 95 bilhões.
É um aumento percentual ainda maior do que o destinado aos militares: 12,7%, elevando o total de despesas com as Forças Armadas para US$ 91,5 bilhões.
Analista acreditam que, em ambos os casos, os gastos podem ser maiores do que os declarados no Orçamento.
O anúncio ocorreu durante a reunião anual do Congresso Nacional do Povo, que reúne desde sábado cerca de 3.000 delegados do Partido Comunista e dura dez dias.
"Isso demonstra o aumento dos custos para manter o controle interno", disse à agência de notícias Reuters Xie Yue, especialista em segurança pública da Universidade Tongji, em Xangai. "Este sistema é muito sensível a instabilidades ou disputas."
Nas últimas semanas, o governo chinês tem demonstrado preocupação em reprimir tentativas de repetir o protesto do mundo árabe.
Uma recente convocação anônima para atos nas principais cidades do país mobilizou centenas de policiais e fez recrudescer a censura na internet, embora o comparecimento de manifestantes tenha sido mínimo.
Correspondentes estrangeiros que tentaram cobrir os eventos nos últimos dois domingos foram detidos por algumas horas e, em alguns casos, agredidos por agentes de segurança, em Pequim e em Xangai, entre outras ações intimidatórias.
A maioria dos analistas, porém, acredita que sejam remotas as possibilidades de um movimento na China semelhante ao do mundo árabe, devido, entre outros motivos, ao excepcional crescimento econômico das últimas décadas.
Em outra aparente medida preventiva de segurança, o governo chinês proibiu a visita de turistas estrangeiros ao Tibete neste mês.
Em março de 2008, protestos contra o governo na região provocaram ao menos 18 mortos e mancharam a imagem externa do país, que se preparava para as Olimpíadas de Pequim, meses mais tarde.
Pequim acusa o dalai-lama, líder religioso no exílio, de fomentar um movimento pró-independência da região, no oeste do país. O Nobel da Paz de 1989 diz defender apenas uma autonomia "de fato" para os tibetanos.

500 MIL CÂMERAS
Num dos projetos de segurança pública mais ambiciosos do mundo, o governo da cidade de Chongqing anunciou a instalação de 500 mil câmeras de vigilância, a um custo de US$ 2,6 bilhões. O sistema deve ficar completamente pronto em 2012.
O sistema, revelado ontem pelo jornal "Global Times", do Partido Comunista, será usado contra crime e para ajudar operações de emergência e resgate. Todas as câmeras estarão centralizadas na mesma rede.
A 2.090 km de Pequim, Chongqing está entre as cidades mais populosas do mundo, contando cerca de 32 milhões de habitantes.


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