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ELEIÇÕES
Alvo de acusações, o presidente Fujimori tenta hoje conquistar o seu terceiro mandato consecutivo
Peru vota sob denúncias de fraude
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Lima
Sob a sombra da fraude eleitoral, o Peru inaugura hoje na América Latina um instrumento que
permite a "re-reeleição" (três
mandatos consecutivos por meio
do voto direto) para a Presidência
da República. Alberto Fujimori,
presidente desde 1990, concorre a
mais cinco anos de mandato na
disputa com oito candidatos.
Pesquisas de intenção de voto
indicam que haverá segundo turno entre Fujimori (Frente Peru
2000) e Alejandro Toledo (Peru
Possível, partido de centro).
No último levantamento do instituto Apoyo, o presidente contava com 46% da preferência do
eleitorado, contra 39% de Toledo
(a margem de erro é de dois pontos percentuais). As intenções de
voto para o segundo turno apontam empate técnico, com oscilação favorável ao oposicionista.
Os cerca de 14,5 milhões de eleitores também escolherão os ocupantes das 120 cadeiras do Congresso. Nenhum dos partidos deve obter maioria no Parlamento.
A marca do processo eleitoral
são as denúncias e protestos de
governos, meios de comunicação
e organizações não-governamentais contra supostas fraudes eleitorais. Todas as acusações recaem
sobre a candidatura de Fujimori.
Um oficial graduado do Peru relatou à Folha, sob condição de
anonimato, a interferência das
Forças Armadas na campanha
(leia texto nesta página).
O fato mais grave -reconhecido pelo próprio presidente- foi a
falsificação de mais de 1 milhão de
assinaturas por um dos partidos
da coligação de Fujimori.
O jornal "El Comércio" mostrou que o partido Peru 2000 contratou cerca de 450 pessoas para
falsificar assinaturas de eleitores
em documentos necessários para
legalização da legenda.
Três dos falsificadores contaram ao jornal como as fichas de
filiação eram preenchidas numa
casa de três andares no bairro de
San Martín de Porres, em Lima.
Os falsificadores trabalharam
em três turnos, utilizando canetas de cores e tipos diferentes,
chegando a fazer de 100 a 200 assinaturas por dia. Após a denúncia, o partido acabou se desligando da coligação de Fujimori.
O JNE (corte eleitoral suprema)
deixou a apuração do caso a cargo do Ministério Público e anunciou que só iria fazer um juízo sobre a denúncia após as eleições.
A atitude foi criticada por diversos organismos independentes que monitoram o processo,
incluindo a missão observadora
da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Até a sexta-feira, o JNE também
não havia se pronunciado sobre
outras acusações contra a frente
que apóia Fujimori, como uso do
avião presidencial na campanha,
interferência das Forças Armadas nos comícios, doação de terrenos e pressão contra a mídia.
"As eleições de 1990 (quando
Fujimori se elegeu pela primeira
vez) foram as últimas livres e limpas no Peru. As de agora não são.
Por isso é praticamente impossível que Alejandro Toledo derrote
o presidente, o que ocorreria se a
competição fosse autêntica", disse o analista político Fernando
Rospigliosi.
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