São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES
Alvo de acusações, o presidente Fujimori tenta hoje conquistar o seu terceiro mandato consecutivo
Peru vota sob denúncias de fraude

LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Lima

Sob a sombra da fraude eleitoral, o Peru inaugura hoje na América Latina um instrumento que permite a "re-reeleição" (três mandatos consecutivos por meio do voto direto) para a Presidência da República. Alberto Fujimori, presidente desde 1990, concorre a mais cinco anos de mandato na disputa com oito candidatos.
Pesquisas de intenção de voto indicam que haverá segundo turno entre Fujimori (Frente Peru 2000) e Alejandro Toledo (Peru Possível, partido de centro).
No último levantamento do instituto Apoyo, o presidente contava com 46% da preferência do eleitorado, contra 39% de Toledo (a margem de erro é de dois pontos percentuais). As intenções de voto para o segundo turno apontam empate técnico, com oscilação favorável ao oposicionista.
Os cerca de 14,5 milhões de eleitores também escolherão os ocupantes das 120 cadeiras do Congresso. Nenhum dos partidos deve obter maioria no Parlamento.
A marca do processo eleitoral são as denúncias e protestos de governos, meios de comunicação e organizações não-governamentais contra supostas fraudes eleitorais. Todas as acusações recaem sobre a candidatura de Fujimori.
Um oficial graduado do Peru relatou à Folha, sob condição de anonimato, a interferência das Forças Armadas na campanha (leia texto nesta página).
O fato mais grave -reconhecido pelo próprio presidente- foi a falsificação de mais de 1 milhão de assinaturas por um dos partidos da coligação de Fujimori.
O jornal "El Comércio" mostrou que o partido Peru 2000 contratou cerca de 450 pessoas para falsificar assinaturas de eleitores em documentos necessários para legalização da legenda.
Três dos falsificadores contaram ao jornal como as fichas de filiação eram preenchidas numa casa de três andares no bairro de San Martín de Porres, em Lima.
Os falsificadores trabalharam em três turnos, utilizando canetas de cores e tipos diferentes, chegando a fazer de 100 a 200 assinaturas por dia. Após a denúncia, o partido acabou se desligando da coligação de Fujimori.
O JNE (corte eleitoral suprema) deixou a apuração do caso a cargo do Ministério Público e anunciou que só iria fazer um juízo sobre a denúncia após as eleições.
A atitude foi criticada por diversos organismos independentes que monitoram o processo, incluindo a missão observadora da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Até a sexta-feira, o JNE também não havia se pronunciado sobre outras acusações contra a frente que apóia Fujimori, como uso do avião presidencial na campanha, interferência das Forças Armadas nos comícios, doação de terrenos e pressão contra a mídia.
"As eleições de 1990 (quando Fujimori se elegeu pela primeira vez) foram as últimas livres e limpas no Peru. As de agora não são. Por isso é praticamente impossível que Alejandro Toledo derrote o presidente, o que ocorreria se a competição fosse autêntica", disse o analista político Fernando Rospigliosi.


Próximo Texto: Militares fazem campanha por Fujimori, diz oficial
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.