São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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INVASÃO DE PRIVACIDADE
Cada vez mais empresas dos EUA monitoram o que funcionários escrevem no correio eletrônico
Cresce o monitoramento de e-mails

LISA GUERNSEY
do "The New York Times"

Andrew Quinn, gerente de sistemas de uma empresa perto de Montreal que produz brinquedos, está começando a saber mais do que gostaria sobre seus colegas de trabalho. Já descobriu que um deles se interessa por remédios à base de ervas, outro gosta de piadas sobre mulheres na direção e um terceiro verifica diariamente os números premiados na loteria.
Quinn sabe de tudo isso porque um mês atrás instalou na rede da empresa um programa novo com o qual pode monitorar não apenas cada site que seus funcionários visitam, mas também cada mensagem que recebem e enviam pelo correio eletrônico. Essas informações, afirma, o ajudam a descobrir o que está sobrecarregando seu servidor de e-mail, que vem entrando em pane pelo menos uma vez por semana.
"Este sujeito está escrevendo para a namorada", disse Quinn, enquanto passava o cursor pelos títulos das mensagens enviadas por sua empresa, a Ritvik Toys. "Mas esta mensagem aqui é de trabalho, e aquela, também."
A Ritvik Toys é apenas uma entre centenas de firmas que já monitoram regularmente a correspondência eletrônica de seus funcionários. E o número de empresas que o faz não pára de crescer.
"O mercado do monitoramento de e-mail dobrou de tamanho nos últimos 12 meses", disse Abner Germanow, gerente da International Data Corporation.
As empresas justificam a instalação de programas desse tipo de várias maneiras. Algumas querem detectar os anexos muito grandes, que atravancam as redes. Outras querem se assegurar de que seus funcionários não passem trotes ou enviem mensagens de teor ameaçador ou incômodo.
Sejam quais forem as razões, a espionagem suscita dúvidas éticas. Será que os gerentes têm direito de espionar a vida privada das pessoas dessa maneira?
A Ritvik, que emprega cerca de 700 funcionários permanentes, é uma empresa que se enquadra no conceito da velha economia. Mas, como a maioria das empresas manufatureiras, a Ritvik vem dependendo cada vez mais da Internet para fazer seu trabalho.
Hoje, seus funcionários registram pedidos de compras, fazem pesquisas de produtos e contatos de vendas por e-mail e na web. Alguns anos atrás, a empresa instalou em sua sede uma linha telefônica de banda larga conhecida como ISDN, e este mês vai adotar uma ainda mais veloz, a T1.
Mesmo assim, disse Quinn, o fluxo de dados provavelmente vai lotar as linhas, até a chegada de outras, com capacidade maior.
Um mês depois de instalar o programa, a Ritvik pretende agora instituir uma nova política pela qual vai exigir que os funcionários se pautem pela discrição no uso que fazem da rede. Além disso, vai avisá-los que suas mensagens de correio eletrônico podem ser monitoradas.
Quinn espera que a iniciativa atue como freio às atividades dos funcionários. Pelo que ele já viu, pelo menos 50% dos e-mails que passam pela rede da empresa não são relacionados ao trabalho.
E, conta, determinados nomes reaparecem constantemente nas listas dos maiores usuários de e-mail. "Olhe este sujeito", disse Quinn, apontando para uma mensagem intitulada "piada do dia" e outra chamada "mulheres na direção". "É só isso que ele vem fazendo há uma hora", disse Quinn, erguendo as mãos num gesto de perplexidade.
A reação dos funcionários da Ritvik à política proposta é mista. "É uma violação de nossa privacidade, acho", comentou Karen Trainor, supervisora de distribuição na América do Norte da empresa. "Não é certo que alguém saiba tudo o que você escreve."
Uma questão delicada é o grau de repressão que as empresas vão exercer. Afinal, a maioria das pessoas envia uma mensagem ou piada ocasional a parentes ou amigos, e proibir esse tipo de mensagem por completo seria um exagero, na opinião de Chris McNierney, gerente de sistemas de informática da Seaboard International, uma madeireira atacadista em New Hampshire (EUA).
O que ele pretende é identificar o envio ou recebimento de e-mails questionáveis, antes que seu fluxo cresça de maneira descontrolada. "Podemos pôr um freio na coisa logo, antes de chegar ao ponto em que precisemos pegar uma pessoa e usar como exemplo", disse McNierney.
Na verdade, muitas empresas já despediram funcionários devido ao teor de suas mensagens de e-mail. Em dezembro último, 23 funcionários de um escritório da The New York Times Company em Norfolk, Virgínia, foram demitidos por enviar mensagens consideradas obscenas, segundo uma porta-voz da empresa, Nancy Nielsen.


Tradução de Clara Allain


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