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INVASÃO DE PRIVACIDADE
Cada vez mais empresas dos EUA monitoram o que funcionários escrevem no correio eletrônico
Cresce o monitoramento de e-mails
LISA GUERNSEY
do "The New York Times"
Andrew Quinn, gerente de sistemas de uma empresa perto de
Montreal que produz brinquedos,
está começando a saber mais do
que gostaria sobre seus colegas de
trabalho. Já descobriu que um deles se interessa por remédios à base de ervas, outro gosta de piadas
sobre mulheres na direção e um
terceiro verifica diariamente os
números premiados na loteria.
Quinn sabe de tudo isso porque
um mês atrás instalou na rede da
empresa um programa novo com
o qual pode monitorar não apenas cada site que seus funcionários visitam, mas também cada
mensagem que recebem e enviam
pelo correio eletrônico. Essas informações, afirma, o ajudam a
descobrir o que está sobrecarregando seu servidor de e-mail, que
vem entrando em pane pelo menos uma vez por semana.
"Este sujeito está escrevendo
para a namorada", disse Quinn,
enquanto passava o cursor pelos
títulos das mensagens enviadas
por sua empresa, a Ritvik Toys.
"Mas esta mensagem aqui é de
trabalho, e aquela, também."
A Ritvik Toys é apenas uma entre centenas de firmas que já monitoram regularmente a correspondência eletrônica de seus funcionários. E o número de empresas que o faz não pára de crescer.
"O mercado do monitoramento
de e-mail dobrou de tamanho nos
últimos 12 meses", disse Abner
Germanow, gerente da International Data Corporation.
As empresas justificam a instalação de programas desse tipo de
várias maneiras. Algumas querem detectar os anexos muito
grandes, que atravancam as redes.
Outras querem se assegurar de
que seus funcionários não passem
trotes ou enviem mensagens de
teor ameaçador ou incômodo.
Sejam quais forem as razões, a
espionagem suscita dúvidas éticas. Será que os gerentes têm direito de espionar a vida privada
das pessoas dessa maneira?
A Ritvik, que emprega cerca de
700 funcionários permanentes, é
uma empresa que se enquadra no
conceito da velha economia. Mas,
como a maioria das empresas manufatureiras, a Ritvik vem dependendo cada vez mais da Internet
para fazer seu trabalho.
Hoje, seus funcionários registram pedidos de compras, fazem
pesquisas de produtos e contatos
de vendas por e-mail e na web. Alguns anos atrás, a empresa instalou em sua sede uma linha telefônica de banda larga conhecida como ISDN, e este mês vai adotar
uma ainda mais veloz, a T1.
Mesmo assim, disse Quinn, o
fluxo de dados provavelmente vai
lotar as linhas, até a chegada de
outras, com capacidade maior.
Um mês depois de instalar o
programa, a Ritvik pretende agora instituir uma nova política pela
qual vai exigir que os funcionários
se pautem pela discrição no uso
que fazem da rede. Além disso, vai
avisá-los que suas mensagens de
correio eletrônico podem ser monitoradas.
Quinn espera que a iniciativa
atue como freio às atividades dos
funcionários. Pelo que ele já viu,
pelo menos 50% dos e-mails que
passam pela rede da empresa não
são relacionados ao trabalho.
E, conta, determinados nomes
reaparecem constantemente nas
listas dos maiores usuários de e-mail. "Olhe este sujeito", disse
Quinn, apontando para uma
mensagem intitulada "piada do
dia" e outra chamada "mulheres
na direção". "É só isso que ele
vem fazendo há uma hora", disse
Quinn, erguendo as mãos num
gesto de perplexidade.
A reação dos funcionários da
Ritvik à política proposta é mista.
"É uma violação de nossa privacidade, acho", comentou Karen
Trainor, supervisora de distribuição na América do Norte da empresa. "Não é certo que alguém
saiba tudo o que você escreve."
Uma questão delicada é o grau
de repressão que as empresas vão
exercer. Afinal, a maioria das pessoas envia uma mensagem ou
piada ocasional a parentes ou
amigos, e proibir esse tipo de
mensagem por completo seria
um exagero, na opinião de Chris
McNierney, gerente de sistemas
de informática da Seaboard International, uma madeireira atacadista em New Hampshire (EUA).
O que ele pretende é identificar
o envio ou recebimento de e-mails questionáveis, antes que seu
fluxo cresça de maneira descontrolada. "Podemos pôr um freio
na coisa logo, antes de chegar ao
ponto em que precisemos pegar
uma pessoa e usar como exemplo", disse McNierney.
Na verdade, muitas empresas já
despediram funcionários devido
ao teor de suas mensagens de e-mail. Em dezembro último, 23
funcionários de um escritório da
The New York Times Company
em Norfolk, Virgínia, foram demitidos por enviar mensagens
consideradas obscenas, segundo
uma porta-voz da empresa,
Nancy Nielsen.
Tradução de Clara Allain
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