São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

EUA afirmam que sua reação é "iminente", mas admitem que a ofensiva insurgente é bem coordenada

Milícia xiita já controla três cidades no sul

Karin Sahib/France Presse
Insurgentes celebram diante de comboio americano em chamas, em Fallujah, onde mais de 280 iraquianos morreram nesta semana


DA REDAÇÃO

A coalização liderada pelos EUA chega ao primeiro aniversário da tomada de Bagdá enfrentando a sua pior crise desde o início da ocupação do Iraque: no sul, o levante xiita iniciado no domingo já domina três cidades. Em Fallujah, marines ainda não conseguiram debelar os insurgentes sunitas. E ontem surgiu uma nova tática: seqüestros de civis ligados à ocupação.
Segundo a agência de notícias Associated Press, desde domingo mais de 460 iraquianos foram mortos pelas forças de ocupação, que no mesmo período perderam ao menos 40 homens.
As milícias xiitas passaram a controlar Kut, Kufa e a região central de Najaf, todas de maioria xiita. O comando americano admitiu a perda das cidades, mas prometeu reagir rapidamente.
Na região central, centenas de soldados americanos e homens da força de segurança iraquiana tentam derrotar os insurgentes da cidade Fallujah, de maioria sunita.
Ontem, a coalizão admitiu que possa estar havendo uma colaboração incipiente entre sunitas e xiitas. O principal comandante militar americano no Iraque, general Ricardo Sanchez, disse que há indícios de ligações "nos níveis mais baixos" entre a milícia xiita e insurgentes sunitas.

Operação Espada Resoluta
Sanchez disse que é "iminente" o movimento das forças da coalizão para retomar a cidade de Kut (150 km a sudeste de Bagdá) e destruir, em todo o país, a milícia xiita Exército Mehdi, liderada pelo clérigo radical Moqtada al Sadr, líder do levante.
Ele não disse se forças americanas seriam deslocadas para o sul do Iraque para ajudar as tropas de outros países da coalizão, como a Espanha e a Ucrânia - esta foi obrigada a se retirar de Kut anteontem.
Sanchez admitiu que a milícia tem realizado ataques bem coordenados em batalhas contra tropas espanholas em Najaf, utilizando franco-atiradores.
"Não temos visto um tipo de planejamento desse nível em outras partes até agora", disse.
O general sugeriu que a presença de milhares de peregrinos xiitas em Najaf (150 km ao sul de Bagdá) neste fim de semana esteja atrasando uma ação incisiva.
Al Sadr, que supostamente está em seu escritório em Najaf, tem tentado unir iraquianos -inclusive sunitas- sob sua liderança.
"Essa provação tem mostrado que todos os iraquianos estão unidos", disse, em nota. "Os ocupantes querem atacar nossos irmãos sunitas e exterminá-los."
A milícia de Al Sadr é vista com ressalvas pela maioria dos xiitas por causa da sua radicalização. Até agora, há poucos sinais de um movimento mais sólido unindo sunitas e xiitas contra os EUA.

Nova resolução
A escalada da violência põe em xeque muitas das bases da estabilidade desenhada pelos EUA para o Iraque: a lealdade da polícia iraquiana, a habilidade de forças da coalizão não-americanas e a tranqüilidade da maioria xiita. Washington planeja devolver a "soberania iraquiana" em 30 de junho.
Os EUA e o Reino Unido esperam apresentar uma nova resolução ao Conselho de Segurança da ONU em meados de maio sobre a transferência de poder aos iraquianos, informaram ontem diplomatas.
A nova resolução pretende dar uma base legal internacional para cobrir o vácuo entre o fim da ocupação liderada pelos EUA e a posse de um governo independente iraquiano eleito.
O secretário de Estado americano, Colin Powell, disse que a resolução incluiria "o governo interino e sua autoridade, o papel da ONU e algo sobre a presença das forças militares da coalizão".
O virtual candidato democrata à Presidência, John Kerry, exortou ontem o presidente e candidato à reeleição, o republicano George W. Bush, a ser "corajoso e honesto" e pedir a ajuda internacional no Iraque.

Ministro renuncia
O ministro do Interior iraquiano, o xiita Nuri al Badran, renunciou ontem a pedido do administrador dos EUA no Iraque, Paul Bremer, supostamente para manter o equilíbrio entre xiitas e sunitas no Conselho de Governo Iraquiano. Não está claro se a renúncia de Al Badran teve relação com a atuação policial.
Em Bagdá, que exatamente há um ano viu soldados americanos derrubarem a célebre estátua do ex-ditador Saddam Hussein da praça Al Firdos, um helicóptero americano atacou o escritório de Al Sadr, praticamente destruindo-o e deixando um número desconhecido de feridos. Em outro incidente, um soldado americano morreu em emboscada.

Com agências internacionais



Próximo Texto: Seqüestro de estrangeiros é nova arma da insurgência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.