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Levante xiita amplo contradiz versão
da Casa Branca
JAMES RISEN
DO ""NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
Funcionários da inteligência
disseram anteontem que as forças
americanas enfrentam uma revolta xiita de base ampla cujo âmbito ultrapassa de longe o dos defensores de um clérigo islâmico
militante que vem sendo o alvo
dos esforços americanos de contra-insurgência.
Essa afirmação entra em choque com diversas declarações feitas pela administração Bush e autoridades americanas no Iraque.
Na quarta-feira, o secretário da
Defesa, Donald Rumsfeld, disse a
jornalistas no Pentágono que os
combates no Iraque são obra apenas de ""capangas, gangues e terroristas" e que não se trata de um
levante popular. O general Richard Myers acrescentou: ""Não é
um levante xiita. [O clérigo xiita
Moqtada] al Sadr possui uma base muito pequena de seguidores".
Funcionários da administração
descrevem Al Sadr como catalisador da crescente onda de violência que tomou conta da comunidade xiita. Mas as autoridades de
inteligência agora dizem que existem sinais de que insurreição já
ultrapassa o âmbito de Al Sadr e
sua milícia e que um número
muito maior de xiitas se voltou
contra a ocupação do Iraque liderada pelos EUA, mesmo que não
apóie a revolta de forma ativa.
Um ano atrás, muitos xiitas saudaram a invasão americana e a
derrubada de Saddam Hussein,
sunita que durante décadas reprimiu os xiitas com brutalidade.
Mas fontes da inteligência acreditam que o repúdio à ocupação se
espalhou entre os xiitas. Al Sadr e
suas forças representam apenas
um de seus componentes.
Enquanto isso, a inteligência
ainda não detectou sinais efetivos
de coordenação entre a rebelião
sunita, na região central do Iraque, e a insurreição xiita. Mas autoridades de inteligência afirmam
que também a rebelião sunita já
envolve muito mais do que apenas antigos membros do regime
do partido Baath. Líderes tribais
sunitas, especialmente na Província de Al Anbar, cuja capital provincial é Ramadi, e em Fallujah,
estão ajudando a liderar a revolta
sunita, dizem.
Com isso, os EUA hoje enfrentam duas insurreições de base
ampla e que percorrem caminhos
paralelos, ambas cada vez mais
difíceis de conter.
Segundo alguns especialistas
nos muçulmanos xiitas do Iraque,
a insurreição já se espalhou.
""Existe um sentimento generalizado de antiamericanismo entre a
população nas ruas", disse Ghassan al Attiyah, diretor-executivo
da Fundação Iraquiana para o
Desenvolvimento e a Democracia
em Bagdá. ""As pessoas se identificam com Al Sadr não por acreditarem nele, mas porque têm suas
queixas próprias."
Com sua ofensiva, Al Sadr ""seqüestrou o processo político",
afirma. Como resultado, políticos
e clérigos xiitas mais moderados
se arriscam a entrar em confronto
com a opinião pública se se manifestarem abertamente demais
contra o jovem clérigo rebelde.
O grão aiatolá Ali al Husseini al
Sistani é um clérigo idoso que é
venerado por seus ensinamentos.
Al Sadr é um jovem agitador de
multidões, que dispõe de pouco
reconhecimento como clérigo.
Nesta semana, Al Sistani lançou
um comunicado apoiando a decisão de Al Sadr de agir contra os
americanos, mas enfatizou a urgência de uma solução pacífica.
Com isso, o clérigo mais velho parece querer marcar uma posição
que lhe permita aliar-se à maré de
sentimentos populares e, ao mesmo tempo, deixar que Al Sadr
-pelo qual, segundo consta, sente desprezo- arrisque sua milícia
e sua vida contra os EUA.
Nas partes do Iraque dominadas pelos xiitas, alguns membros
do Pentágono e outros representantes governamentais acreditam
que o Hizbollah, um grupo extremista xiita que tem respaldo do
Irã, esteja exercendo um importante papel na insurreição.
Mas representantes da CIA dizem que ainda não viram evidências de que o Hizbollah tenha unido suas forças às dos xiitas iraquianos. Alguns deles acham que
o Pentágono queira ligar o nome
do Hizbollah à violência no Iraque para poder vincular o regime
iraniano mais estreitamente ao
terrorismo antiamericano.
Mas funcionários da CIA concordam que o Hizbollah estabeleceu uma participação significativa
no Iraque do pós-guerra. A possível presença do Hizbollah é motivo de preocupação, pois o grupo é
largamente reconhecido por especialistas como dono de alguns
dos agentes terroristas mais eficientes e perigosos do mundo.
Tradução de Clara Allain
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