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Sem papa, "geração Wojtyla" fica órfã
ESPECIAL PARA A FOLHA
Pouco depois da morte de João
Paulo 2º, o porta-voz do Vaticano,
Joaquín Navarro-Valls, disse que
"as últimas palavras do papa foram dirigidas aos jovens", em referência à suposta frase derradeira do pontífice: "Vi ho cercato/
Adesso siete venuti da me/e per
questo vi ringrazio" (eu os procurei, agora vocês vieram a mim e
por isso lhes agradeço).
A declaração ressalta a importância que o papa atribuiu aos jovens e evoca o fato de que quem
tem menos de 27 anos nunca conheceu outro papa. E quem tem
até 35 anos provavelmente não se
lembra de nenhum anterior.
A imagem que a igreja tem no
mundo hoje está completamente
associada ao que João Paulo 2º representou para a história. "Muitos jovens católicos acham que este papa é a igreja", explica o historiador americano Gerald Fogarty.
Desde o início do pontificado,
Karol Wojtyla atribuiu grande
importância aos jovens. Organizou encontros mundiais em homenagem a eles durante os quais
havia muita comemoração, mas
também recomendações expressas sobre questões vinculadas ao
casamento e à sexualidade. As
Jornadas Mundiais da Juventude
reuniam jovens de mais de 150
países; em 1995, 4 milhões de jovens formaram em Manila, nas
Filipinas, a maior multidão de católicos reunida numa localidade.
A maioria dos jovens desconhece a diversidade existente na igreja e o fosso existente entre as diretrizes da Cúria e a percepção que
muitos padres têm de sua comunidade. A centralização promovida por João Paulo 2º silenciou a
voz das dissidências e, por meio
de uma superexposição na televisão e na internet, divulgou a
orientação exclusiva da Cúria.
A questão que muitos religiosos
colocam é: como os jovens contemporâneos e os do próximo
pontificado vão lidar com a posição conservadora da igreja em relação a temas do dia-a-dia.
O carisma de João Paulo 2º minimizava o impacto das determinações distantes da realidade que
a igreja emitia. Para atrair os jovens, o Vaticano privilegiou a liturgia em detrimento de outras
questões. Os jovens voltaram à
igreja, que cada vez mais utiliza
músicas durante a missa. O teólogo belga José Reding diz que "a
igreja está convicta de que é preciso pregar sobretudo aos jovens".
Resta saber o que acontecerá
agora que as dissensões e as controvérsias vão certamente aflorar.
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