São Paulo, sábado, 09 de abril de 2005

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Sem papa, "geração Wojtyla" fica órfã

ESPECIAL PARA A FOLHA

Pouco depois da morte de João Paulo 2º, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse que "as últimas palavras do papa foram dirigidas aos jovens", em referência à suposta frase derradeira do pontífice: "Vi ho cercato/ Adesso siete venuti da me/e per questo vi ringrazio" (eu os procurei, agora vocês vieram a mim e por isso lhes agradeço).
A declaração ressalta a importância que o papa atribuiu aos jovens e evoca o fato de que quem tem menos de 27 anos nunca conheceu outro papa. E quem tem até 35 anos provavelmente não se lembra de nenhum anterior.
A imagem que a igreja tem no mundo hoje está completamente associada ao que João Paulo 2º representou para a história. "Muitos jovens católicos acham que este papa é a igreja", explica o historiador americano Gerald Fogarty.
Desde o início do pontificado, Karol Wojtyla atribuiu grande importância aos jovens. Organizou encontros mundiais em homenagem a eles durante os quais havia muita comemoração, mas também recomendações expressas sobre questões vinculadas ao casamento e à sexualidade. As Jornadas Mundiais da Juventude reuniam jovens de mais de 150 países; em 1995, 4 milhões de jovens formaram em Manila, nas Filipinas, a maior multidão de católicos reunida numa localidade.
A maioria dos jovens desconhece a diversidade existente na igreja e o fosso existente entre as diretrizes da Cúria e a percepção que muitos padres têm de sua comunidade. A centralização promovida por João Paulo 2º silenciou a voz das dissidências e, por meio de uma superexposição na televisão e na internet, divulgou a orientação exclusiva da Cúria.
A questão que muitos religiosos colocam é: como os jovens contemporâneos e os do próximo pontificado vão lidar com a posição conservadora da igreja em relação a temas do dia-a-dia.
O carisma de João Paulo 2º minimizava o impacto das determinações distantes da realidade que a igreja emitia. Para atrair os jovens, o Vaticano privilegiou a liturgia em detrimento de outras questões. Os jovens voltaram à igreja, que cada vez mais utiliza músicas durante a missa. O teólogo belga José Reding diz que "a igreja está convicta de que é preciso pregar sobretudo aos jovens".
Resta saber o que acontecerá agora que as dissensões e as controvérsias vão certamente aflorar.


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