São Paulo, segunda-feira, 09 de abril de 2007

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Atos terroristas revoltam vítima de bomba

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM BAGDÁ

"Uma pessoa que sofre essa situação perde a esperança. Faltam medicamentos e não existe a experiência necessária para um tratamento médico nas circunstâncias que o Iraque está vivendo", diz o operário Muhsin Ali Frayeh, 24, em cadeira de rodas. Em 20 de maio de 2006 ele estava indo ao juizado da Cidade Sadr, bairro xiita de Bagdá, para buscar seu contrato de casamento - mas não imaginava que sua vida iria mudar em outra direção.
Um carro-bomba explodiu a sete metros de distância de onde estava. Quando recobrou a consciência, no hospital, Muhsin já não tinha braços nem uma perna. "O Iraque é uma praça aberta aos terroristas. Qualquer um pode entrar. O objetivo do terrorista é destruir o país. Eles querem implementar sua agenda própria, por muitos motivos. O principal é a sabotagem da democracia", diz.
Com maior ou menor independência editorial, os jornalistas iraquianos continuam a cobrir o conflito, mas 157 deles foram assassinados desde 2003. O jornal "Al Sabah" foi aberto há um ano e desde então já assistiu ao assassinato de vários de seus jornalistas, entre eles Abdujari Ajba, seqüestrado quando saía de casa em 9 de setembro de 2006.
"Os xiitas saíram ganhando muito; eles detêm o poder, mas não podem avançar, devido às resistências internas e externas e às suas próprias contradições. Eles são maioria, mas não estão todos de acordo entre eles; a luta pelo poder os divide", explica o monsenhor Jean Benjamin Sleiman, 57 anos, de origem maronita, antigo superior da Ordem Carmelita.
"Por outro lado, a violência dos sunitas não conseguiu até agora promover uma virada no rumo dos acontecimentos. E eles se vêem diante de uma escolha: seguir com a violência ou parar sem terem conseguido tudo o que queriam", continua.
"Os curdos talvez sejam os maiores vencedores -o presidente e o ministro do Exterior são curdos. Eles, que antes eram marginalizados, agora participam de maneira efetiva no governo do Iraque. Mas tampouco conseguem realizar o que sonhavam, porque o federalismo não tem o apoio de todas as facções", diz Sleiman.
Enquanto isso, a cada dia morrem em média 65 pessoas, e 300 ficam feridas. Setenta por cento dos iraquianos sofrem de estresse pós-traumático de guerra, e surgem novas doenças causadas pela falta de limpeza, a contaminação e a falta de medicamentos. Já são 3.265 os soldados americanos mortos e 24 mil os feridos. As estimativas de mortos civis vão de 60 mil, segundo dados da ONU, a 650 mil, de acordo com a revista médica "The Lancet".


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