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Atos terroristas revoltam vítima de bomba
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM BAGDÁ
"Uma pessoa que sofre essa
situação perde a esperança.
Faltam medicamentos e não
existe a experiência necessária
para um tratamento médico
nas circunstâncias que o Iraque
está vivendo", diz o operário
Muhsin Ali Frayeh, 24, em cadeira de rodas. Em 20 de maio
de 2006 ele estava indo ao juizado da Cidade Sadr, bairro xiita de Bagdá, para buscar seu
contrato de casamento - mas
não imaginava que sua vida iria
mudar em outra direção.
Um carro-bomba explodiu a
sete metros de distância de onde estava. Quando recobrou a
consciência, no hospital, Muhsin já não tinha braços nem
uma perna. "O Iraque é uma
praça aberta aos terroristas.
Qualquer um pode entrar. O
objetivo do terrorista é destruir
o país. Eles querem implementar sua agenda própria, por
muitos motivos. O principal é a
sabotagem da democracia", diz.
Com maior ou menor independência editorial, os jornalistas iraquianos continuam a
cobrir o conflito, mas 157 deles
foram assassinados desde
2003. O jornal "Al Sabah" foi
aberto há um ano e desde então
já assistiu ao assassinato de vários de seus jornalistas, entre
eles Abdujari Ajba, seqüestrado
quando saía de casa em 9 de setembro de 2006.
"Os xiitas saíram ganhando
muito; eles detêm o poder, mas
não podem avançar, devido às
resistências internas e externas
e às suas próprias contradições.
Eles são maioria, mas não estão
todos de acordo entre eles; a luta pelo poder os divide", explica
o monsenhor Jean Benjamin
Sleiman, 57 anos, de origem
maronita, antigo superior da
Ordem Carmelita.
"Por outro lado, a violência
dos sunitas não conseguiu até
agora promover uma virada no
rumo dos acontecimentos. E
eles se vêem diante de uma escolha: seguir com a violência ou
parar sem terem conseguido
tudo o que queriam", continua.
"Os curdos talvez sejam os
maiores vencedores -o presidente e o ministro do Exterior
são curdos. Eles, que antes
eram marginalizados, agora
participam de maneira efetiva
no governo do Iraque. Mas
tampouco conseguem realizar
o que sonhavam, porque o federalismo não tem o apoio de todas as facções", diz Sleiman.
Enquanto isso, a cada dia
morrem em média 65 pessoas,
e 300 ficam feridas. Setenta por
cento dos iraquianos sofrem de
estresse pós-traumático de
guerra, e surgem novas doenças causadas pela falta de limpeza, a contaminação e a falta
de medicamentos. Já são 3.265
os soldados americanos mortos
e 24 mil os feridos. As estimativas de mortos civis vão de 60
mil, segundo dados da ONU, a
650 mil, de acordo com a revista médica "The Lancet".
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