São Paulo, segunda-feira, 09 de abril de 2007

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Venda de entrevistas por ex-prisioneiros é criticada

Marinheiros britânicos presos 13 dias no Irã são autorizados a cobrar da mídia

Autorização foi dada pelo Ministério da Defesa; única mulher do grupo irá cobrar de R$ 400 a R$ 600 mil para falar a um jornal e a uma TV

DA REDAÇÃO

Foi recebida no Reino Unido com uma enxurrada de críticas a decisão do Ministério da Defesa, tomada sábado, de permitir que os 15 marinheiros libertados na quarta-feira pelo Irã vendam seus depoimentos a jornais e redes de TV.
Max Clifford, um agente de celebridades, diz ter sido contatado por familiares de dois ex-prisioneiros e calcula que as entrevistas renderão 500 mil libras esterlinas (R$ 4 milhões).
A mais beneficiada será Faye Turney, a única mulher do grupo, que assinou contratos para entrevistas com o jornal "The Sun" e com a rede ITV por cerca de R$ 400 mil.
O "New York Times" comenta que entrevistas pagas são normais na mídia britânica, mas quando se trata apenas de personalidades civis. Os militares são em geral proibidos de dar declarações. O ministro da Defesa, Des Browne, disse que resolveu abrir uma exceção por causa do "interesse excepcional" pelo caso e para manter um certo controle sobre os relatos, uma vez que parentes dos libertados já estavam recebendo ofertas para falar.
Mas a decisão realimentou as críticas aos marinheiros, que vinham sendo acusados de terem sido coniventes com o governo iraniano em suas "confissões" de que estavam em águas daquele país.
O porta-voz do Partido Conservador, William Haghe, disse que a venda de entrevistas leva "à perda da dignidade e do respeito por nossas Forças Armadas". O líder da bancada liberal democrata, Menzies Campbell, teme que a operação permita a divulgação involuntária de informações militares sigilosas.
Os ex-prisioneiros "estão se comportando como estrelas de reality show", disse o coronel Bob Steward, ex-comandante das forças da ONU na Bósnia.
Ao menos um dos ex-prisioneiros disse que não cobraria por entrevistas. "Não estou interessado em dinheiro", disse o tenente Felix Carman.
As críticas ao mercantilismo do grupo partiu ainda de parentes de alguns dos 140 militares britânicos mortos no Iraque e dos 52 mortos no Afeganistão. "É uma coisa errada, que não deveria ser permitida", disse por exemplo Rose Gentle, mãe de um soldado de 19 anos morto em Basra em 2004.
Os 15 militares foram presos por um comando iraniano no golfo Pérsico último dia 23 e libertados na última quarta. Em Londres, reiteraram a afirmação de que os dois botes que ocupavam estavam em águas territoriais do Iraque, onde cumpriam missão de monitoramento determinada pelo Conselho de Segurança.
Ainda ontem, relata o "Independent", fragmentos de depoimentos de ex-prisioneiros indicaram ser possível que o grupo foi capturado "por ter a língua muito comprida".
Antes da captura, o capitão Chris Air deu entrevista ao canal 5 de Londres em que afirmou que a prioridade dos militares era a de patrulhar embarcações do Irã no golfo Pérsico.
A entrevista foi registrada pelos serviços de inteligência iranianos e seu conteúdo transformado em peça de acusação durante os interrogatórios do grupo em Teerã.


Com agências internacionais




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