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EUA e Rússia reduzirão arsenal nuclear
Presidentes Obama e Medvedev firmam pacto para diminuir em 30% os estoques de armas atômicas das duas potências
Acordo precisa ser aprovado pelos Parlamentos; bombas restantes nos dois países são suficientes para aniquilar o mundo inteiro várias vezes
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Barack Obama e Dmitri
Medvedev assinaram ontem
em Praga um novo tratado desarmamentista que tem como
objetivo reduzir em 30% o limite de armas nucleares de cada
lado, em um gesto de grande
peso simbólico mas cujo efeito
prático é majoritariamente visto por analistas como limitado.
O acordo, que precisa passar
por ambos os Legislativos, determina que até 2020 os dois
países limitem seus arsenais
nucleares, cada um, a 1.550 ogivas estratégicas e a 700 mísseis
e bombas que as transportem,
além de criar um sistema mais
amplo de verificação e de troca
de informações.
Foi firmado em Praga, cidade
que bem simboliza a confluência do que foi a Europa do Leste
e a do Oeste e onde Obama
anunciou, há um ano, que lideraria a frente pelo fim das armas atômicas no mundo.
Para tanto há ainda muito
terreno a ser coberto. O arsenal
restante é farto para aniquilar o
mundo algumas vezes, e os dois
países seguirão concentrando
90% das armas atômicas.
Mas é mais um gesto a se somar à recém-anunciada revisão
da política nuclear americana,
que limitou as situações em que
o país pode acionar suas bombas e com a qual Obama quer
incentivar outros governos a
respeitarem o Tratado de Não
Proliferação, objeto de reapreciação dentro de um mês.
Em que pese o ceticismo de
analistas como o ex-assessor de
Segurança Nacional dos EUA
Zbigniew Brzezinski e do ex-inspetor nuclear da ONU Hans
Blix, o que vale é menos o que o
acordo produzirá em campo e
mais o simbolismo de ver um
compromisso entre os líderes
de países que, rivais na Guerra
Fria, chegaram a ter juntos 25
mil ogivas estratégicas. Sobretudo porque ele vem quatro
meses após expirar o acordo
anterior (o Start-1, Tratado de
Redução de Armas Estratégicas), após turbulências entre
Moscou e Washington sob
George W. Bush (2001-09).
Um dos temas a assombrar a
relação, no entanto, permanece: o escudo antimísseis que os
EUA querem instalar na Europa central alegadamente para
se defender de um ataque do
Irã. Moscou já prometeu abandonar o tratado caso entenda
que o escudo a ameaça.
Mais contido na versão de
Obama, o sistema continua,
ainda que menos, a incomodar
os russos, como indicou ontem
Medvedev: "Apreciamos os
passos dados pelo atual governo americano (...), que resultaram em progresso. Isso não significa contudo que não haja
dissonâncias e sim que temos
predisposição a tratar do assunto". A frase foi emendada
com uma nova oferta para uma
parceria russa em "um sistema
de defesa antimísseis global".
Obama reiterou que não fará
nada que limite a capacidade de
defesa dos EUA, da qual o escudo é peça crucial. Mas concordou em expandir o debate, incluindo Moscou e outros países
europeus (ex-satélites soviéticos, os aliados americanos na
Europa central são ciosos de
um recuo) para tentar preservar os interesses de ambos.
Tudo carece ainda do aval de
ambos os Legislativos. Deputados russos já afirmaram ser improvável que uma votação a
respeito aconteça antes do outono setentrional (setembro).
Do outro lado do Atlântico,
em Washington, a situação é
mais complexa: Obama precisará de ao menos oito votos da
oposição no Senado, e, para isso, espera ajuda de Richard Lugar, decano republicano na Comissão de Relações Exteriores.
Medvedev insistiu que quer
ver o tratado implementado ao
mesmo tempo pelos dois lados.
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