São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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EUA e Rússia reduzirão arsenal nuclear

Presidentes Obama e Medvedev firmam pacto para diminuir em 30% os estoques de armas atômicas das duas potências

Acordo precisa ser aprovado pelos Parlamentos; bombas restantes nos dois países são suficientes para aniquilar o mundo inteiro várias vezes


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Barack Obama e Dmitri Medvedev assinaram ontem em Praga um novo tratado desarmamentista que tem como objetivo reduzir em 30% o limite de armas nucleares de cada lado, em um gesto de grande peso simbólico mas cujo efeito prático é majoritariamente visto por analistas como limitado.
O acordo, que precisa passar por ambos os Legislativos, determina que até 2020 os dois países limitem seus arsenais nucleares, cada um, a 1.550 ogivas estratégicas e a 700 mísseis e bombas que as transportem, além de criar um sistema mais amplo de verificação e de troca de informações.
Foi firmado em Praga, cidade que bem simboliza a confluência do que foi a Europa do Leste e a do Oeste e onde Obama anunciou, há um ano, que lideraria a frente pelo fim das armas atômicas no mundo.
Para tanto há ainda muito terreno a ser coberto. O arsenal restante é farto para aniquilar o mundo algumas vezes, e os dois países seguirão concentrando 90% das armas atômicas.
Mas é mais um gesto a se somar à recém-anunciada revisão da política nuclear americana, que limitou as situações em que o país pode acionar suas bombas e com a qual Obama quer incentivar outros governos a respeitarem o Tratado de Não Proliferação, objeto de reapreciação dentro de um mês.
Em que pese o ceticismo de analistas como o ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA Zbigniew Brzezinski e do ex-inspetor nuclear da ONU Hans Blix, o que vale é menos o que o acordo produzirá em campo e mais o simbolismo de ver um compromisso entre os líderes de países que, rivais na Guerra Fria, chegaram a ter juntos 25 mil ogivas estratégicas. Sobretudo porque ele vem quatro meses após expirar o acordo anterior (o Start-1, Tratado de Redução de Armas Estratégicas), após turbulências entre Moscou e Washington sob George W. Bush (2001-09).
Um dos temas a assombrar a relação, no entanto, permanece: o escudo antimísseis que os EUA querem instalar na Europa central alegadamente para se defender de um ataque do Irã. Moscou já prometeu abandonar o tratado caso entenda que o escudo a ameaça.
Mais contido na versão de Obama, o sistema continua, ainda que menos, a incomodar os russos, como indicou ontem Medvedev: "Apreciamos os passos dados pelo atual governo americano (...), que resultaram em progresso. Isso não significa contudo que não haja dissonâncias e sim que temos predisposição a tratar do assunto". A frase foi emendada com uma nova oferta para uma parceria russa em "um sistema de defesa antimísseis global".
Obama reiterou que não fará nada que limite a capacidade de defesa dos EUA, da qual o escudo é peça crucial. Mas concordou em expandir o debate, incluindo Moscou e outros países europeus (ex-satélites soviéticos, os aliados americanos na Europa central são ciosos de um recuo) para tentar preservar os interesses de ambos.
Tudo carece ainda do aval de ambos os Legislativos. Deputados russos já afirmaram ser improvável que uma votação a respeito aconteça antes do outono setentrional (setembro).
Do outro lado do Atlântico, em Washington, a situação é mais complexa: Obama precisará de ao menos oito votos da oposição no Senado, e, para isso, espera ajuda de Richard Lugar, decano republicano na Comissão de Relações Exteriores.
Medvedev insistiu que quer ver o tratado implementado ao mesmo tempo pelos dois lados.


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