São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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INFÂNCIA

"Não somos a fonte dos problemas, somos os recursos para resolvê-los", dizem crianças em declaração à Assembléia Geral

Na ONU, crianças exigem "mundo digno"

DA REDAÇÃO

Quase 400 crianças de todo o mundo enviaram uma mensagem direta a representantes de 189 países reunidos ontem na abertura da sessão especial da ONU sobre a infância: "Não somos gastos, mas investimentos".
"Queremos um mundo que seja digno das crianças, porque um mundo digno das crianças é um mundo digno de todos", disse a boliviana Gabriela Azurudy Arrieta, 13, lendo à Assembléia Geral da organização uma declaração adotada no Fórum das Crianças, que terminou anteontem.
"Somos vítimas de exploração e abuso. Somos as crianças de rua. Somos as crianças da guerra. Somos os órfãos da Aids", afirmou.
Audrey Cheynut, 17, de Mônaco, disse que as crianças querem proteção a refugiados, testes de HIV e educação de qualidade gratuitos, a conservação do ambiente e o perdão da dívida de seus países -cujo pagamento retira dinheiro de programas para crianças. "Não somos a fonte dos problemas", afirmou à assembléia. "Somos os recursos necessários para resolvê-los."
Carol Bellamy, diretora-executiva do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), cumprimentou as crianças por terem adotado uma declaração em apenas três dias e ironizou líderes de países que não conseguem cumprir prazos semelhantes. "Espero que a Assembléia Geral aprenda com a determinação das crianças que participaram do fórum."
A principal exigência das crianças era que os países deixassem que elas participassem das decisões que lhes dizem respeito. "Vocês nos chamam de futuro, mas também somos o presente", afirmou Cheynut. "Nós não somos gastos, somos investimentos."
O romeno Alex Rosu, 16, disse ter ficado decepcionado com o fato de que a única participação das crianças na conferência tenha sido a leitura da declaração. "Sei que três minutos podem mudar o mundo, mas, mesmo assim, isso é um pouco perturbador."
Na abertura da sessão especial, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse: "Aos adultos nesta sala: não façamos as crianças pagarem por nossas falhas. Sabemos que, para cada dólar investido no desenvolvimento de uma criança, há um retorno de sete dólares para toda a sociedade."
O objetivo da sessão, que reúne cerca de 60 líderes de países e 3.000 representantes de ONGs, é analisar sucessos e fracassos no cumprimento de 27 metas adotadas na Conferência Mundial para as Crianças, em 1990, e adotar novas para os próximos 15 anos.
Em 1990, os países ricos prometeram dedicar 0,7% de seu PIB à melhoria da educação e da assistência médica a crianças em países em desenvolvimento, mas, segundo a ONU, esse tipo de auxílio atingiu seus níveis mais baixos na última década. E os países em desenvolvimento, que haviam prometido investir 20% de seu Orçamento em bem-estar social, estão investindo de 12% a 14%.
Segundo Bellamy, a situação das crianças hoje é melhor do que há 12 anos -mais crianças vão à escola, a pólio foi quase erradicada e há 3 milhões de mortes infantis a menos do que em 1990-, mas está longe de ser ideal.
Cerca de 150 milhões dos 2 bilhões de crianças do mundo são malnutridas, quase 11 milhões morrem antes dos cinco anos, mais de 120 milhões não vão à escola, 10 milhões morrem todo ano de doenças evitáveis e cerca de 300 mil combatem em guerras.
"Nós, os adultos, fracassamos deploravelmente em garantir [seus direitos]", disse Annan.


Com agências internacionais


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