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INFÂNCIA
"Não somos a fonte dos problemas, somos os recursos para resolvê-los", dizem crianças em declaração à Assembléia Geral
Na ONU, crianças exigem "mundo digno"
DA REDAÇÃO
Quase 400 crianças de todo o
mundo enviaram uma mensagem direta a representantes de
189 países reunidos ontem na
abertura da sessão especial da
ONU sobre a infância: "Não somos gastos, mas investimentos".
"Queremos um mundo que seja
digno das crianças, porque um
mundo digno das crianças é um
mundo digno de todos", disse a
boliviana Gabriela Azurudy Arrieta, 13, lendo à Assembléia Geral
da organização uma declaração
adotada no Fórum das Crianças,
que terminou anteontem.
"Somos vítimas de exploração e
abuso. Somos as crianças de rua.
Somos as crianças da guerra. Somos os órfãos da Aids", afirmou.
Audrey Cheynut, 17, de Mônaco, disse que as crianças querem
proteção a refugiados, testes de
HIV e educação de qualidade gratuitos, a conservação do ambiente
e o perdão da dívida de seus países -cujo pagamento retira dinheiro de programas para crianças. "Não somos a fonte dos problemas", afirmou à assembléia.
"Somos os recursos necessários
para resolvê-los."
Carol Bellamy, diretora-executiva do Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância), cumprimentou as crianças por terem
adotado uma declaração em apenas três dias e ironizou líderes de
países que não conseguem cumprir prazos semelhantes. "Espero
que a Assembléia Geral aprenda
com a determinação das crianças
que participaram do fórum."
A principal exigência das crianças era que os países deixassem
que elas participassem das decisões que lhes dizem respeito. "Vocês nos chamam de futuro, mas
também somos o presente", afirmou Cheynut. "Nós não somos
gastos, somos investimentos."
O romeno Alex Rosu, 16, disse
ter ficado decepcionado com o fato de que a única participação das
crianças na conferência tenha sido a leitura da declaração. "Sei
que três minutos podem mudar o
mundo, mas, mesmo assim, isso é
um pouco perturbador."
Na abertura da sessão especial,
o secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, disse: "Aos adultos nesta
sala: não façamos as crianças pagarem por nossas falhas. Sabemos
que, para cada dólar investido no
desenvolvimento de uma criança,
há um retorno de sete dólares para toda a sociedade."
O objetivo da sessão, que reúne
cerca de 60 líderes de países e
3.000 representantes de ONGs, é
analisar sucessos e fracassos no
cumprimento de 27 metas adotadas na Conferência Mundial para
as Crianças, em 1990, e adotar novas para os próximos 15 anos.
Em 1990, os países ricos prometeram dedicar 0,7% de seu PIB à
melhoria da educação e da assistência médica a crianças em países em desenvolvimento, mas, segundo a ONU, esse tipo de auxílio
atingiu seus níveis mais baixos na
última década. E os países em desenvolvimento, que haviam prometido investir 20% de seu Orçamento em bem-estar social, estão
investindo de 12% a 14%.
Segundo Bellamy, a situação
das crianças hoje é melhor do que
há 12 anos -mais crianças vão à
escola, a pólio foi quase erradicada e há 3 milhões de mortes infantis a menos do que em 1990-,
mas está longe de ser ideal.
Cerca de 150 milhões dos 2 bilhões de crianças do mundo são
malnutridas, quase 11 milhões
morrem antes dos cinco anos,
mais de 120 milhões não vão à escola, 10 milhões morrem todo ano
de doenças evitáveis e cerca de
300 mil combatem em guerras.
"Nós, os adultos, fracassamos
deploravelmente em garantir
[seus direitos]", disse Annan.
Com agências internacionais
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