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Mercosul deixa a Alca como última prioridade
DO ENVIADO ESPECIAL
O candidato Néstor Kirchner
jogou a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) para um lugar remoto na lista de prioridades
do Mercosul, em entrevista coletiva após encontro com o presidente brasileiro. "A tarefa de hoje é a
construção do Mercosul", disse
Kirchner. A prioridade seguinte
seria a integração sul-americana,
conforme, aliás, a posição e o empenho do governo brasileiro.
Só depois "iremos dando os
passos seguintes", afirmou o candidato. Apenas em 2005, o ano em
que deve terminar, pelo cronograma original, a negociação da
Alca, é que o Mercosul pensaria
"nos tempos e mecanismos" para
levá-la adiante.
De quebra, Kirchner ainda
mencionou que o mundo muda
velozmente, insinuando que, até
2005, o interesse pela Alca pode
até ter mudado ou acabado.
Lula, no encontro com o argentino, também pôs toda a ênfase na
necessidade de fortalecimento do
Mercosul e da integração da América do Sul em geral, o que está de
acordo com a prioridade da política externa brasileira exposta nos
discursos de posse de Lula e do
chanceler Celso Amorim.
Lula, como Kirchner, acha que
uma América do Sul mais integrada teria condições melhores para
as negociações "em todas as frentes", o que inclui a Alca.
Na conversa entre os dois, no
entanto, o tema Alca foi mencionado de forma muito genérica,
conforme a Folha apurou.
O Itamaraty, por sua vez, nega
que também o governo brasileiro
esteja reduzindo a prioridade que
dedica à Alca.
Mesmo a hipótese de propor
adiar para 2007 o prazo para fechar a negociação, com a qual se
especulou nesta semana, é desmentida.
Mas a especulação tem um fundamento: o Caricom (grupo dos
países caribenhos) propôs, no
mês passado, postergar as negociações ou fechar um pacote bem
mais modesto, incluindo apenas
acesso a mercados (ou seja, redução tarifária).
Se o pacote ficar mais reduzido,
o Brasil perde na negociação agrícola porque só cairiam barreiras
tarifárias, quando o protecionismo norte-americano se dá pela
via não-tarifária.
Além disso, trabalha contra a
Alca ou contra o prazo de 2005 a
resistência à negociação de entidades da sociedade civil, próximas do PT. Há um permanente
debate entre dialogar com o governo sobre os rumos da negociação ou insistir em recusar simplesmente a Alca.
Por isso, admite-se no Itamaraty que "continua sendo possível
um gesto de chutar o pau da barraca", ouviu a Folha. Mas é uma
possibilidade remota ao menos
por ora.
Já o pouco caso de Kirchner para com o projeto de integração hemisférica foi tão palpável que a
Folha perguntou ao candidato se
seria correto afirmar que ele não
mostrou "o menor entusiasmo"
com a Alca.
"O senhor o está dizendo", devolveu o candidato, que leva em
torno de 30 pontos percentuais de
vantagem sobre o ex-presidente
Carlos Menem, este sim um entusiasta do relacionamento com os
Estados Unidos.
Durante seus dez anos de gestão
(1989/99), Menem orgulhava-se
de manter "relações carnais" com
Washington, conforme expressão
de seu chanceler Guido di Tella.
Kirchner diz que, se eleito, não
haverá "relações carnais" com
ninguém, nem mesmo no Mercosul, o seu projeto de integração
preferido. "Serão relações solidárias, claras e concretas, para enfrentarmos juntos a exclusão, a
fome e a quebra da região", afirmou.
(CR)
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