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Governo da Argentina pede votos
Membros do gabinete de Kirchner fazem campanha eleitoral mesmo sem abrir mão de seus cargos
Lei permite propaganda sem desincompatibilização dos cargos; eleições para a Presidência são em outubro, mas há outros pleitos antes
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Brechas na lei eleitoral argentina permitem que o presidente Néstor Kirchner e membros de seu gabinete façam
campanha fora de hora e sem
deixar o cargo. Pelo menos três
ministros de Estado e o vice-presidente têm os rostos estampados em cartazes de propaganda política e aproveitam
compromissos oficiais para pedir votos.
Faltando a eventos, o presidente ainda dá uma ajudinha
extra a seu gabinete para ganhar os holofotes em ano eleitoral. A ausência de Kirchner,
além de fortalecer a imagem da
primeira-dama, senadora Cristina Fernández (possível candidata à Casa Rosada e freqüente substituta do marido em viagens oficiais), faz a alegria de
seu vice, Daniel Scioli, candidato kirchnerista ao governo da
Província de Buenos Aires.
Ao aniversário de Bahía
Blanca, uma das mais importantes cidades da Província,
por exemplo, Kirchner não foi.
Em seu lugar, discursou Scioli,
apresentado ao público pelo
atual governador, Felipe Solá,
como "futuro governador da
Província".
A menos de um mês das eleições para chefe de governo da
capital argentina, Daniel Filmus, candidato kirchnerista,
visita escolas pedindo apoio
nas urnas. Não passaria de
campanha rotineira, não fosse
ele ainda o ministro de Educação, Ciência e Tecnologia. Em
cartazes colados por Buenos
Aires, a fotografia de Filmus
aparece ao lado da de Ginés
González García, ministro de
Saúde e Ambiente, candidato a
legislador portenho. "Juntos,
mudamos o país. Agora vamos
mudar a cidade", diz o anúncio.
Ambos concedem entrevistas à televisão para falar de temas relativos a suas pastas: o
assunto termina nas eleições.
Ser irmã do presidente da
República não impediu a nomeação de Alicia Kirchner como ministra argentina do Desenvolvimento Social. Agora, o
fato de ser ministra também
não impede Alicia de fazer
campanha pelo governo de
Santa Cruz, Província natal dos
Kirchner.
A lei eleitoral argentina não
prevê a desincompatibilização.
Sair do cargo é uma questão ética. No Brasil, é preciso renunciar ao posto no Executivo (salvo na tentativa de reeleição)
seis meses antes do pleito.
Campanha permanente
Kirchner assinou ontem decreto que marca para 28 de outubro as eleições para a Casa
Rosada. Mas, embora o presidente nem tenha anunciado se
tentará a reeleição, seu nome
aparece na propaganda eleitoral. "Alak prefeito. Kirchner
presidente" -não é o texto de
um cartaz apócrifo, é o que diz
um comercial exibido pela TV
argentina pela campanha à reeleição de Julio Alak, prefeito da
cidade de La Plata, a capital da
Província de Buenos Aires.
Esse tipo de propaganda
também não é punida. Segundo
especialistas em direito, uma
falha na lei impede a sanção dos
"candidatáveis" e cria o que os
argentinos chamam de "estado
de campanha permanente".
O Código Eleitoral Nacional
especifica que, "quando se tratar da eleição de presidente e
vice-presidente, a campanha só
poderá começar 90 dias antes
da data fixada". O código, porém, diz que "campanha" é o
"conjunto de atividades realizadas com o propósito de promover ou desestimular expressamente a captação de votos a
favor ou contra candidatos oficializados".
Na prática, não estando "oficializado" como candidato,
Néstor Kirchner pode fazer
campanha.
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